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    A última porta, onde o fim parece se revelar…

    Na penumbra da sala de aula, um dia que promete ser comum torna-se um preâmbulo para o desconhecido. Romero, perdido em seus próprios pensamentos, mal nota a presença do amigo ao seu lado, alguém que, com o tempo, se tornará sua âncora em um mundo mergulhado nas sombras.

    — Romero?

    O chamado corta o torpor em que está imerso. Seus olhos, antes opacos, piscam lentamente, como se lutassem para retomar o foco. Seus braços repousam pesadamente sobre a cadeira. Quando finalmente vira-se para o amigo, sua expressão é uma mistura de confusão e desamparo, como se estivesse despertando para um mundo que parece estranhamente novo e ameaçador.

    — Gabriel?

    — Conhece outro careca? — Gabriel ri, tentando quebrar o gelo.

    A risada do amigo parece ecoar de forma etérea na sala, um lembrete sutil de normalidade em meio ao seu turbilhão interno. Aquele lugar familiar, com suas paredes desgastadas e mesas cobertas de anotações, parece de repente revestido de uma nova luz.

    — Não, o que é isso? — Romero pergunta, confuso, os olhos percorrendo a sala com uma mistura de estranhamento e familiaridade.

    — Isso? Sei lá, acho que é sua mente, não? — Gabriel responde, tentando manter o tom leve.

    — Ah, é… né? Você não morreu, só eu… — murmura, a voz trêmula. Seus olhos vagam pela sala. As carteiras vazias parecem esperar por alunos que nunca voltarão, o quadro negro exibe o nome de Takeda, seu último professor, ainda marcado com o traço final do giz. Seus próprios nomes estão gravados na carteira em que costumava sentar, uma recordação de uma vida que parece agora distante e irreconhecível. — Caramba…

    A sensação de estranhamento aumenta, misturada com uma nostalgia dolorosa. Ele se sente como se estivesse em uma câmara congelada no tempo, onde o passado e o presente se fundem de maneira insuportavelmente real.

    — Você é um idiota!

    — É… sou — responde com um sorriso amargo, observando seu braço de volta ao seu lado, como se fosse um presente inesperado. — Acho que perdi o controle quando ele arrancou um pedaço de mim. A morte… a sensação de estar prestes a morrer me paralisou!

    — Se justificando? Você? Sério?

    — Por quê? Não devo? Devo, talvez, apenas assumir o que fiz? — Ele parece perdido, a angústia estampada em seu rosto. A expressão revela uma luta interna, um desejo de encontrar sentido em suas ações e aceitar a responsabilidade pelo que aconteceu.

    — E o que fez?

    — Condenei a morte a mim e aos meus aliados… Não só a mim, mas a todos ao meu redor. Eu sabia que não daria certo. Talvez eu devesse ter experimentado a mesma sensação que Milk sentiu quando Rasen me jogou contra a parede… — Se perde em suas divagações, refletindo sobre suas escolhas com uma intensidade quase dolorosa. Sente-se preso à vida, mesmo após a morte, como se seu propósito já tivesse se esgotado.

    A consciência de sua falha, a sensação esmagadora de impotência e a dúvida o consomem.

    — Milk te amava… não foi exatamente assim. Rasen só te mostrou o que você já sabia: se daria certo ou não, você já tinha essa percepção — responde Gabriel, levantando-se da cadeira e lançando um papel dobrado na lixeira próxima, ao lado da porta de entrada da sala. — Mas é fácil falar sobre coragem e decisões, a prática é outra coisa. Estou errado?

    — Não… talvez seja. Talvez você esteja me julgando apenas por ser eu, por ser quem sou — Romero retruca, a frustração e a tristeza evidentes em seu tom.

    Ele se apoia na mesa, o peso das palavras de Gabriel e a realidade de suas escolhas se acumulando sobre seus ombros.

    — Não sei, eu sou você, como disse… Estou apenas sendo honesto. Você está tentando encontrar respostas e se entender, e às vezes isso inclui enfrentar as partes mais difíceis de si. A verdade é não haver uma solução fácil, nem uma maneira simples de lidar com isso!

    — É… e… e a consciência, o que eu faço? Vou ficar aqui para sempre?

    — Não, na verdade, isso aqui é apenas uma passagem, um limiar que pode parecer um devaneio. Você está transicionando para o outro lado, a resposta que você daria a si! — A figura sorri, um brilho enigmático iluminando seu rosto enquanto começa a se desfazer em fragmentos etéreos. — Sabe… Acho que existe uma regra, veja bem, se eu mencionar o outro lado, começo a desaparecer… Sua consciência será invadida por uma certeza.

    À medida que a figura se dispersa, o ambiente ao redor de Romero começa a mudar, tornando-se um borrão de luz e sombra. A presença do ser parece se dissolver, e a sensação de transição se intensifica. Ele está prestes a confrontar a essência de suas escolhas e o significado de seu destino, com a certeza iminente se aproximando, trazendo consigo a promessa de uma revelação profunda e inevitável.

    — Entendo — Romero ergue-se, suas mãos tremendo ligeiramente ao tocar os bolsos enquanto tudo ao seu redor se desintegra em uma explosão de luz opaca. — Então, é um adeus?

    — Não é um adeus, é uma transformação — a voz ecoa, desvanecendo como uma bruma nas sombras. — É o fim de um ciclo e o início de outro. Lembre-se, a verdade não é encontrada no destino, mas na jornada que você percorre para chegar lá. A resposta está em cada escolha que você faz!

    Romero sente o peso das palavras enquanto a luz se intensifica e o espaço ao seu redor se torna cada vez mais indistinto. O vazio o envolve, e ele se vê questionando se realmente há algo além desse limiar, ou se é apenas um eco de uma realidade que ele nunca compreenderá completamente. Com um último olhar para o vazio que se estende diante de si, ele respira fundo, se preparando para enfrentar o que seguirá.

    Esse é o instante em que Romero atravessa, tanto em seu peito quanto em sua mente, o mesmo momento em que Gabriel e as garotas se libertam, reunidos novamente na entrada do prédio.

    — Esse… clima… — Gabriel murmura, sentindo o calor residual das brasas de Masaru ainda pairando no ar. — Quem será que nos salvou?

    — Será… que o pior aconteceu? Um exército? — Zuri pergunta, agachando-se próximo ao corpo de Halyna, que apresenta um buraco no estômago. — Parece que foi feia a briga… caramba!

    Enquanto Zuri examina a cena devastadora, o peso da situação se instala entre eles. O ambiente está carregado com uma sensação de desolação.

    — Um exército? Só se eles aniquilaram todos… porque isso aqui está terrível — Elizabeth comenta, observando o prédio em ruínas e a destruição ao seu redor. Seus olhos então se focam na entrada, onde alguém começa a emergir das sombras: é Masaru, com um sorriso largo que ilumina seu rosto.

    — Meus caros companheiros, exorcistas celestes, fui eu! — proclama com entusiasmo. — Se não fosse o homem de aço aqui, a liga da justiça falhava! — zombou, levantando a mão em um gesto dramático.

    — Masaru… ha! Ha! Então, você fez tudo sozinho?

    — Pois é, homem morcego, eu aniquilei cada um, como se fosse uma torre de desafios! — responde, aproximando-se e dando um tapinha no ombro de Gabriel. — Foi divertido, confesso, mas que trabalho me deram, hein!?

    O alívio e a surpresa misturam-se nos rostos dos exorcistas, enquanto a presença de Masaru traz uma sensação de normalidade após o caos.

    — Você conseguiria sair de uma prisão, gênio? — implica Zuri, com um sorriso sarcástico. — Sorte a sua não ter responsabilidade…

    — Sem uma das mãos! — Masaru ri, levando um cascudo de Elizabeth. Ela o encara de lado com um olhar misto de irritação e alívio. — Aí! Aí! Vai me bater porque salvei vocês?

    — Idiota… você mandou bem, hein! Nem parece um pirralho! — Elizabeth responde, tentando esconder um sorriso. Então, nota uma expressão preocupada no rosto de Gabriel. — Amor…

    Ela se aproxima dele, a preocupação em seus olhos se transformando em um toque reconfortante enquanto visa entender o que o atormenta.

    — Tudo bem, eu… já imaginava como isso acabaria. Ele está no último andar?

    Gabriel recebe a confirmação com um aceno de cabeça do garoto, seus olhos fixos à frente. Ele se prepara para subir a escadaria, a determinação em seu olhar reflete a necessidade de se despedir e enfrentar a verdade que o aguarda no último andar.

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