Índice de Capítulo

    Manhã do dia 37…

    — Alô?

    A mulher atende o telefone com uma voz suave, enquanto seus cabelos loiros caem em ondas soltas sobre os ombros. Vestindo um elegante uniforme de doméstica, ela mantém uma postura tensa diante da lareira acesa, que aquece a opulenta mansão dos Alekseeva em Regnum, um refúgio contra o frio cortante deste dia.

    — Bom dia, você está ligando para a casa dos Alekseeva, como posso ajudar?

    Ela tenta manter a calma ao ouvir que a ligação é da Ordem Espiritual. O formalismo na voz dela não esconde a apreensão crescente; sua patroa deveria ter chegado há mais de seis horas. Ela nunca se atrasa, apesar de seu jeito despretensioso e irreverente. O embarque ocorreu às sete horas e, mesmo nas montanhas mais altas daquele estado-país, a viagem não levaria mais de uma hora.

    — Ah, não… ela ainda não chegou…

    O impacto das palavras a atinge como um golpe, e seu olhar se desfaz em um misto de preocupação e desespero. Sua mão trêmula vai automaticamente ao peito, como se buscasse algo para lhe dar forças. Ela pressente algo ruim, um legado sombrio de sua linhagem de videntes.

    — O quê?

    Ela não consegue esconder a crescente sensação de pânico. A respiração acelerada dá lugar a uma risada nervosa, interrompida pelas lágrimas que começam a escorregar pelo seu rosto. A máscara de contenção que ela usava há tanto tempo é quebrada pela incerteza. A voz do outro lado da linha soou abafada, como se fossem ordens repetidas de forma mecânica e robótica.

    — Mas…

    Parece soluçar, a dor visível em cada tremor de seu corpo. O oficial mencionou que ela poderia ter morrido no trajeto, mas sendo uma exorcista habilidosa, com capacidades incomparáveis, era inconcebível que tivesse se perdido, mesmo que fosse apenas um grão no deserto. Essa notícia devastadora a atinge com uma força esmagadora. A última sobrevivente a carregar o nome Alekseeva, filha da melhor amiga de sua mãe—que também era sua amiga—e a quem ela dedicou a vida cuidando de seus descuidos.

    — Não, eu… entendo…

    As palavras mal saem de sua boca antes de ouvir um último “sinto muito” e o som do “bip” da ligação sendo interrompido. É como um estalo em sua mente. Em um ato de desespero, ela lança o telefone contra a parede, quebrou-se em milhares de pedaços, espalhando a frustração e a dor. Com um suspiro profundo, ela se afunda na poltrona, a vista sobre o quadro dos três membros da família—todos mortos, transformados em fantasmas nas imagens pintadas, os rostos congelados em um sorriso melancólico e eterno.

    Ao despertar, Arthur recebe a resposta que tanto temia: a mesma notícia devastadora. Sua ligação nunca seria retornada, e sua mensagem ouvida; agora, suas ações apaixonadas se transformam em um eco do passado. Está diante de uma realidade agridoce, que o leva a ficar minutos preso em sua tristeza, sua mente se afundando na insanidade de momentos que já se foram, uma overdose de saudade que o faz sentir algo distante, algo que parece ter passado em um instante.

    — Yelena…

    Quando finalmente se dá conta, encontra sua casa em completa desordem. Em um acesso de frustração e desespero, destrói cada móvel. Saliva escorre dos seus lábios, enquanto lágrimas se misturam ao suor e ao pó que cobrem o chão.

    — Como? — Ele se encara no espelho, mas a visão que o espelho oferece é apenas fragmentos; foi destruído por um soco furioso. Seu punho está dilacerado, sangue e dor visíveis. — Por que isso justo comigo? O que eu fiz? Caramba… por que nada dá certo?

    Seu “novo” smartphone cai da mão esquerda e se espatifa no chão. Ele pisa firme sobre os destroços, seus cabelos caindo desordenadamente sobre seus olhos. A negação o atinge com força, e a raiva transborda, levando-o a se perder. Mas Arthur sempre foi assim, precisando apenas de um empurrão para afundar no próprio passado, sentindo-se injustiçado por um destino que jamais conseguiu controlar.

    Algo profundamente humano, não é? Quem, exceto o mais insensível, nunca se sentiu como uma formiga esmagada pelo acaso?

    E continuava…

    — Você não cansa de me arrancar um pedaço? O que preciso aprender? — A sensação de impotência o consome, seu desespero se transforma em uma ópera sufocante. Com uma dor profunda emanando de sua garganta, ele se pergunta o que mais a vida exigirá dele. O abandono do pai, uma ferida aberta que nunca cicatrizou, não foi suficiente?

    A dor crua da perda é uma sombra constante, mas a tragédia se aprofunda quando a morte veio, cruelmente orquestrada pela irresponsabilidade de seus irmãos, mas até isso não foi suficiente!

    Não! De minhas amarras, tolo foi o homem que tentou escapar! — responde-o. Era como uma eterna conversa com o destino. Deitado na cama, com olhos vazios, ele observa o teto, o único a ter escapado de sua fúria. E, mesmo com a bondade ardendo em seu coração, é fustigado por um destino implacável. A dor e o caos, como uma tempestade furiosa, invadem sua alma, rasgando as últimas esperanças de serenidade. O idealista que ele foi, sempre calmo e sonhador, agora se encontra à beira do colapso.

    Ele luta contra a tempestade interior, que transforma seu coração em um deserto, e o peso de cada evento parece empurrá-lo para além dos limites de sua resistência. Até onde ele irá? Até onde o apocalipse interno o levará, antes que finalmente sucumba ao abismo de sua própria desesperança? Talvez seja esse o instante em que sua quebra se torna inevitável.

    Não é o momento em que ele se atira no mar de fogo e brada para o mundo em guerra. O verdadeiro ponto de ruptura não é a tentativa de enfrentar o impossível com bravura desmedida, mas o instante em que o gatilho de sua mente dispara, como uma carga de dinamite prestes a explodir.

    Ele está exausto, o cansaço evidente em seu olhar, não apenas de enfrentar perdas incessantes, mas de viver em um estado de resignação onde o valor das coisas se dilui no cinismo. Sua vida, marcada por um devaneio estoico de sofrimento e sacrifício, se tornou uma série interminável de perdas e arrependimentos. Ele está cansado de perder, e o peso do que valorizou tão pouco se acumula, esmagando-o sob sua carga.

    Ele se pergunta: quão poderosa é a morte? Sua força consegue atingir até mesmo aqueles que não foram diretamente tocados por sua lâmina afiada. Ela move, conturba e transforma quem, à primeira vista, não seria seu alvo. E a chuva, que cai sobre o deserto, em cada momento de conturbação, não é mais cristalina, mas tingida com a cor do sangue…

    Assim estão sua alma e coração…

    Nesta manhã fatídica, o caos desaba em cinzas sobre os ombros de todos, e as chamas da devastação não poupam ninguém…

    Gostou da Webnovel? Então confira o servidor oficial clicando aqui!

    Quer ler o capítulo da semana com antecedência ou até mesmo os próximos capítulos? Deseja apoiar este projeto? Clique aqui!

    ÚLTIMO CAPÍTULO ESCRITO AQUI!

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 0% (0 votos)

    Nota