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    — Minha mãe… meu pai… vi os dois falecerem em suas camas. Não foi a febre que os matou, mas a fome! — ele disse, arrastando os pés no terreno encharcado, enchendo os dedos de terra que, diante da chuva, quase se transformava em lama. Seus olhos estavam perdidos no passado, enquanto a água escorria por seu rosto, misturando-se com lágrimas invisíveis. 

    Cada gota que caía parecia um lamento em conjunto com o constante clamar da natureza, um reflexo de sua dor.

    — Entendi… Por isso odeia os nobres. E por isso, não conseguiu fazer o primeiro exorcismo? — A voz do outro era grave, carregada de uma compreensão que ia além das palavras. Seus olhos encontraram os de Jarves, oferecendo um consolo silencioso.

    — Sim, por um instante, eu… pensei, e se? Quando apontei minha mão para a cabeça deles, senti arder algo em mim, mas não consegui fazer… juro, eu lutei, eu… por mais que o ódio queimasse mais naquele tempo, eu resisti… — confessou, a culpa evidente em suas palavras, — talvez, se eu tivesse tido forças… teria me livrado dessa sensação de ser um inútil… — murmurou.

    Ele levantou os olhos para o céu nublado, como se buscasse redenção entre as nuvens pesadas. As lembranças queimavam mais que o frio da chuva, e cada palavra dita parecia uma cicatriz aberta.

    — Entendo… sabe… eu não passei por algo assim. Apenas me envolvi em um acidente. Trabalhava limpando vidraças dos prédios. A segurança nunca foi boa, e ninguém se importava. Era como os ratos que andam pelas ruas, buscando sobreviver. Mas boom, você morre… e acorda um exorcista. E sente que nada muda. Eu ainda estava lá, prestando serviço, recebendo ordens. Para quê? Para beber no final da noite? Caralho, eu estava fazendo o mesmo que quando era um humano de merda! Então, eu desisti… — Antônio então se ergueu, suspirando, exausto daquele assunto. — Agora estamos aqui. Faremos uma merda das grandes, foderemos todo mundo. Mas teremos um destaque. Mesmo se falharmos, isso é algo a se considerar, não é? — Seus olhos ardiam de desejo. Ele estava certo disso. Havia uma chama indomável em seu olhar, uma sede de mudança.

    — É… não somos tão diferentes. Acho que concordo contigo… é melhor ser um demônio lembrado, que um anjo esquecido… — Ele levantou-se em seguida, esticando os ombros, talvez movido por um pulsar em seu coração que o ergueu como um colosso, animado para o embate. — Droga, pena que temos pouco tempo… — reclamou, sentindo a urgência do momento.

    — Não é pouco, é o necessário… temos dois dias até balançarmos o mundo! — ele afirmou, e então, caminhou novamente até o centro. O vento batia com mais força em suas vestes, sacudindo-as. Cada rajada parecia um incentivo, um empurrão para frente. — Vamos continuar? Treinaremos só seus reflexos… acho que será suficiente!

    — Certo! — ele caminhou, havia mais força em seu pisar, e fitou o homem com um desafio no olhar. — Vamos fazer bem isso! — Determinação era evidente em cada passo. A chuva caía mais pesada agora, mas ela não conseguia apagar a chama que queimava em seus corações. A batalha estava prestes a começar, e eles estavam prontos para enfrentar qualquer coisa que viesse pela frente.

    Seus olhares se adiaram, um no outro, em instantes se aprontaram, talvez estivessem mais confiantes de si ou de suas escolhas. Enquanto Yamasaki e Amai viam a luz de Nox lentamente atravessar aquele lago, a penumbra da noite chegava até eles, envolvendo-os em um véu de mistério.

    — E o motivo de estarmos aqui? — ele perguntou, a curiosidade evidente em sua voz.

    — Hm, o quê? Eu não te falei? — Shirasaki disse, com um olhar bobo, desvencilhando-se das águas tão encantadoras que refletiam a luz pálida da lua.

    — Não do porquê termos parado aqui… — insistiu, sentindo-se desconfiado.

    — Caramba, você é desconfiado mesmo, hein! Mas… Dizem que esse lago revela o seu amor verdadeiro… — ela disse, voltando seus olhos para ele, deixando-o corado. Ele sentia uma seriedade assustadora em suas palavras e olhares.

    — Revela? Ah, você é do tipo que acredita em superstições… — ele disse, se erguendo em um pulo e olhando ao redor. Desde que chegaram, não avistou ninguém. — Bem, que tal a gente, sei lá, ir naquele lugarzinho que fomos depois do hospital…

    — O café? Ou o bar? Quer ir lá? Comigo? — questionou, surpresa.

    — O café, mas… Quero! — exclamou, interrompendo seus próprios pensamentos. 

    — Certo, Yamasaki, agora você me mostrou ter atitude! — afirmou, jogando seus cabelos para trás como uma felina, enquanto o rapaz mirava os patos nadando serenamente no lago.

    — Não ferra, só aceita e vamos! — disse, tentando esconder a ansiedade em sua voz.

    — Calma, eu só fiquei animadinha… mas você é chato, hein! — Ela se ergueu, dando-lhe um leve cutucão com o ombro e soltando uma risada presa. — Você paga? — perguntou, com um sorriso travesso.

    — Pago! — respondeu ele, meio emburrado. — Mais alguma pergunta? — esbravejou como um leão, tentando parecer mais confiante do que realmente estava.

    — Não, senhor impaciente! — brincou, piscando para ele. — Vamos logo antes que você desista!

    Eles caminharam juntos, sentindo o ar noturno e úmido em seus rostos, e a chuva, que antes caía levemente, agora se intensificava, criando pequenas ondulações na superfície do lago. As luzes distantes da cidade refletiam na água, criando um cenário quase mágico.

    Yamasaki não podia deixar de sentir uma mistura de nervosismo e excitação. Desde o acidente, sentia-se preso em uma rotina monótona, mas agora, com Shirasaki ao seu lado, algo dentro dele despertava. Ele olhou para ela, que andava ao seu lado com passos leves e confiantes, e não pôde deixar de sorrir. 

    Talvez ela estivesse certa sobre o lago e suas superstições, afinal. Ou só estivesse o provocando, era reconfortante qualquer uma que fosse.

    Enquanto caminhavam, ele lembrou-se do lugar que mencionou, aquele cantinho especial que encontraram depois de uma noite no hospital. Era um pequeno café escondido, longe do burburinho da cidade, onde podiam se sentir em paz. O pensamento trouxe uma sensação de calma e ele apertou o passo, decidido.

    — Ei, Yamasaki, sabe de uma coisa? — Shirasaki interrompeu seus pensamentos.

    — Fala…

    — Tô curtindo essa dupla, sabe. Você não é… tão horrível quanto falaram! — brincou, recebendo a careta de sempre, que esperava.

    Yamasaki não pôde deixar de rir. Era um riso sincero, algo que ele não fazia há muito tempo.

    — Quem falou isso?

    — Ah, por aí… — Shirasaki respondeu com um sorriso travesso. — Mas, sério, eu gosto de como a gente chega a uma direção. Mesmo que você seja um pouco rabugento às vezes.

    — Rabugento, é? — Yamasaki arqueou uma sobrancelha, mas logo desmanchou a expressão séria em um sorriso, quase debochado. — E você é insuportavelmente otimista!

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