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    É como um apagão, mas após alguns minutos caído, Yamasaki se ergue do próprio sangue, ofegante, com a vista ainda turva da morte. As trevas terminam lentamente de fechar seu peito enquanto o garoto encara suas mãos, seus dedos se movendo de forma trêmula e hesitante.

    O silêncio ao seu redor é opressivo, interrompido apenas pelo som áspero de sua respiração e o gotejar constante do seu sangue no chão, que escorre de seus lábios babados de escarlate. Ele sente a fria umidade do piso penetrando suas roupas, o cheiro metálico e nauseante do sangue impregnando suas narinas.

    — Por que não assumiu? — pergunta, sua voz, um sussurro rouco e incrédulo.

    Recostando-se à parede, seus sentidos retornam lentamente. O olfato captura a acre mistura de sangue e morte. A audição registra os sons distantes, mas inconfundíveis, dos golpes de Shirasaki ecoando na escuridão ao longe, como um tamborilar.

    — Por quê? Porque você tem razão, idiota. Se tudo terminar, o que adianta isso tudo? O contrato, preciso do seu corpo… e você da sua vingança! — ele diz, encarando-o de cima, seus olhos ardendo enquanto solta um suspiro profundo. — Mas escuta, pirralho… outra morte, e eu não sei o que posso fazer. Seu corpo está rejeitando ser curado enquanto habita duas mentes; na verdade, ele parece estar rachando! Entende? — indaga, preocupado. Yamasaki nunca o viu assim.

    — O tempo está acabando… — murmura, erguendo-se, recostado à parede, fitando seus olhos. — Deixa comigo, então… vai ser melhor não depender de você. Assim, você canaliza sua energia negra para si, eu me viro! — estende a mão, ouvindo a madeira estilhaçar e o caos reverberar.

    A escuridão ao seu redor parece pulsar, como se respondesse ao pacto entre eles. As paredes úmidas e cobertas de seu sangue vibram levemente com uma energia sinistra.

    “Shirasaki deve estar precisando de mim…”

    Pensa, então, olha para sua palma direita, enquanto Azaael lhe encara com um sorriso de lado.

    — Vai lá… fode aquele maldito!

    — He! He! — sua voz finalmente se normaliza, — Vou… Na verdade… quero fazer aquele demônio sentir minha ira! Foi uma merda morrer… ver o limbo novamente… — Sem piedade, ele soca a parede com a mão esquerda, abrindo um rombo, enquanto sua aura cresce novamente.

    A sensação de poder que emana de Yamasaki é como uma tempestade prestes a se soltar.

    “Será que meu final será esse? Quando já não habitar mais este mundo? O limbo?”

    Basta um piscar de olhos, a imagem de uma floresta negra, de árvores secas e uivos constantes de lobos surge em sua mente e Azaael some.

    Ele olha adiante, começando a caminhar lentamente, seus passos hesitantes ganhando equilíbrio e velocidade.

    — Transmutatio materiae et status…

    Chamas crescem em seus dedos, seus passos ficam firmes, seu olhar estreito, e de repente, é engolido por uma cortina negra, fumaça evocada pela explosão da exorcista que avança pelo hotel sem rumo. Enfim, quando termina de ultrapassar, penetrando aquele acinzentado sombrio, naquele instante, ele encara a entidade novamente.

    Está a centímetros de uma queda, para o abismo que o poder da garota criou.

    “Yamasaki…” 

    Pensa Amai quando o vê ao topo do que resta da escadaria, então ouve a criatura se erguer, crente que irá fugir. Ela está assustada. Enquanto a aura de Yamasaki fica negra como a de um demônio, mas diferente de antes é um abissal intransponível para luz alguma, queima como brasa, ele aperta os lábios, sentindo os efeitos de produzir trevas, e então, enche seus pulmões de ar para entoar.

    — Assimilatio!

    Quando diz, suas chamas ficam negras de baixo para cima. Esse instante paralisa a besta, e Shirasaki, que finalmente as vê. É um segundo diante de seus olhos, e ele as lança como uma flecha que corta o espaço em instantes e golpeia o peito da entidade, lhe devolvendo o golpe fatal.

    — C-chamas negras? O nível… mais… alto de trevas… como… pode um humano? — ele sussurra, consumido por elas, que o devoram como se fosse papel, consumindo-o por inteiro até se tornar nada mais que pó. Nesse instante, o hotel treme, enfim livre da entidade e de seu resguardo, começando a desabar.

    — Yamasaki… não acredito! O que você fez, seu maluco!? — ela grita, desviando dos pedregulhos que caem e lascas de madeira, alcançando a escadaria à frente dele após um salto, incrédula ainda.

    — Eu… tentei enganá-lo! — diz, desviando seu olhar, mãos indo para trás, coçando sua nuca. — Desculpe? Acreditou mesmo que caí para aquele idiota? — brinca, tentando convencer a garota, que lhe dá um abraço apertado.

    Foi de repente, aquele abraço era algo que ele não tinha fazia tempos, desde que a tragédia aconteceu, vem um flash, sua mãe, sente o carinho novamente.

    — S-shirasaki

    — Imbecil! Eu acreditei, mas… — ela então se afasta, vira, esconde as lágrimas, seus pés estão metade para o abismo, consumido os destroços que caiam. Tudo cai diante deles e ao redor deles. — Vamos sair antes que, sei lá, uma pedra te mate, seu fracote!? — provoca, também escondendo seu jeito emocionado, que se importa tanto e não controla suas emoções.

    — Vamos! — responde, emburrado.

    Em segundos, os dois saem do prédio, se afastam o suficiente para contemplarem sua ruína. Ele desaba em segundos, a estrutura encontra seu limite, como um castelo de papel. O estrondo ecoa pela rua, a poeira sobe rapidamente, engolfando o ar e obscurecendo a visão. A rua à frente do hotel está tomada por uma nuvem espessa, cortada por milhares de luzes que emergem da escuridão.

    Para proteger o rosto, ela levanta o braço sobre a face e olha para Yamasaki, olhos arregalados de surpresa e alívio.

    — Caramba… como vamos explicar isso? — indaga, ainda sem acreditar que ele está vivo, ao seu lado.

    — Não vamos conseguir!

    Sua voz está desanimada, mas seus olhos encaram com lucidez, embora vazios e estoicos.

    O vento assobia entre os escombros. Enquanto a poeira começa a assentar, Amai olha para o céu, sente uma mistura de alívio e pesar, vendo as luzes terminando de ascender aos céus e cortando o firmamento. Libertaram mais almas em tormento. Ao seu lado, Yamasaki respira pesadamente, sentindo o peso da batalha e as consequências de suas ações.

    Ele está sério, ou assim parece para ela. A garota o encara, sentindo seu peito pulsar, soltando um suspiro com bochechas vermelhas. Novamente, aquele tambor em seu coração, que ela sentiu quando o viu pela primeira vez, ressoava intensamente. O que seria? Amai se pergunta em sua mente.

    “Mais um trabalho que não iremos receber!”

    Pensa, sentir que perder o dinheiro é mais doloroso que ter morrido. Mais uma vez, tudo termina em ruínas. Será essa a maldição de Yamasaki?

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