Capítulo 76 - Ética
Sentado em seu sofá, feito do couro mais caro dos raros rinocerontes das terras áridas de Shamo, Hugo sorve um copo de vodca, a mais vagabunda que encontrou em sua mansão. No colo, repousa a foto de sua irmã ao lado de Hideki, enquanto ele ouve a voz do outro lado da linha, o idiota útil que torna sua vida luxuosa, já pela manhã.
— O que você quer, doutor? Pare de rodeios… não quero saber das suas pesquisas!
— O que eu quero? Ora… Aqueles três jovens exorcistas que foram mortos… quanto você quer pelos corpos deles?
— Sério? — Hugo suspira, mais pela exaustão do que pelo peso das palavras. Não é a melhor hora para discutir negócios. — Caramba… quanto está a fim de pagar? Diz aí!
— Sério? Hugo… Não dê oportunidade às piranhas! Elas devoram sua carne! — brinca o Doutor que se apoia em um grande aquário de vidro. Dentro, um cadáver flutua nas águas turvas, suas entranhas dançando como serpentes e pequenos fios estão conectados no defunto. — Pago 80 mil ienes por cada um, fechamos negócio?
— 80 mil? Tá de sacanagem? Nem as putas que você paga são tão baratas assim… — zomba Hugo. — Faço por 400 mil. Assim, posso comprar um bom vinho e ir para cama com um rapaz que valha a pena!
— Você que sabe… seu canalha, seria mais fácil se dissesse logo quanto você quer! — o Doutor fita uma mesa repleta de instrumentos “médicos”; bisturis, seringas de extração, luvas manchadas de sangue seco. — Aliás, aproveitando que estamos falando, e o Hideki Tamashiro? Tem notícias dele?
— Hideki? O que quer com ele?
— Ele ficou de fazer um serviço para mim… minha nova pesquisa. Precisava que ele eliminasse um alvo em prol da ciência e da medicina! — O Doutor puxa da gaveta um jornal. Na capa, o exorcista Yami Yamasaki, o manipulador de energia negra. — O exorcista que manipula energia negra…
Por sorte, ele não ouve seus resmungos enquanto lê o jornal.
— Terá que desistir… Hideki foi embora, deixando até a menina para trás. Deve ter fugido dos fantasmas que o assombraram! — Hugo mente, segurando a língua. — A garota já está quase na adolescência. Acho que merece um pouco de paz… não?
O Doutor ri sinistramente, seus olhos brilhando com um misto de interesse e crueldade.
— Paz? Num mundo como o nosso, Hugo? Paz é uma ilusão. Mas se é isso que você quer acreditar, vá em frente. Tenho outros métodos para encontrar Hideki… Tenha uma boa noite.
A ligação é encerrada, deixando Hugo no silêncio perturbador de sua luxuosa sala. Ele olha para a foto em seu colo, um sorriso triste surgindo em seus lábios enquanto seus pensamentos se perdem nas sombras.
— Velho escroto!
Falando nele, quando desliga, bate forte o smartphone na mesa, quase o quebrando.
— Merda!
Com a mão sobre o jornal, ele vislumbra seus desejos recuarem diante da notícia, sentindo o peso da decepção.
— Energia negra… se tudo está correto, é a maior fonte curativa que temos… e tudo nas mãos de um garoto! Merda! Até quando a ciência será limitada pela ética? — Ele encara o teto, dando um suspiro ansioso. — Será que ainda tenho o número daquela meretriz?
O cheiro do sangue pútrido e dos medicamentos incomoda seus narizes. Ele limpa as mãos no jaleco, agarra um pequeno saco plástico cheio de um pó branco e balança o nariz, coberto por pelos de seu bigode grisalho e grosso. Enquanto Hugo e o Doutor afundam em seus pensamentos sombrios e desejos distorcidos, buscando prazer para escapar da decepção da realidade, três cavaleiros saem de um táxi e pisam novamente naquele terreno baldio.
— Último dia que teremos… — Jarves resmunga, ansioso, enquanto a mão de Antônio pousa em seu ombro.
— Você já está lá, garoto… acalme sua mente. Tudo está bem-planejado, só precisamos executar! — Antônio fala com um sorriso tranquilizador, encarando o lugar.
— Energia Espiritual… vocês são dois amadores, sinto em cada canto deste lugar, principalmente no solo! — o loiro comenta, pisando firme e erguendo a palma da mão, acumulando uma esfera do tamanho de uma bola de futebol, feita de energia levemente azul, contrastando com sua aura vermelha. — Essa energia, e a quantidade que excede, quando usada e transformada, vaza. Isso é suficiente para derrubar um prédio ou estancar uma ferida… normalmente, os jovens só percebem isso quando lhes falta. Vocês entendem?
“Amador?”
— E como fazemos para não desperdiçar? — pergunta Jarves, revirando os olhos após seu pensamento.
— Controle seu fluxo… emoções… tem exorcistas que possuem um talento para isso, outros, nem em cem anos! — ele então faz a energia desaparecer, unindo-a à sua aura. — Em um confronto entre exorcistas, saber usar a inexperiência adversária contra ele é crucial. Energia que vaza é energia estática, não transformada, ou seja, sem dono! — ele então os encara.
— Controlar nossas emoções? Ah, verdade… lembro-me de ouvir isso na academia… mas caramba, como?
— Falando é fácil, mas como disse o Jarves, como? — indaga Antônio, fitando-o de lado. — Eu não consigo nem controlar meu, libido ou minha vontade de beber! — ele ri.
— Energia não é consciente, besta. Gerar falsas emoções… manipula como você gera energia, isso é essencial. Você não consegue se curar se seu fluxo não estiver perfeito, correto? Se perder uma perna em uma luta e se deixar levar pelo medo, sua aura vai embaralhar, e, com isso, situações que exigem lógica não serão possíveis! — o homem mira o dedo nos pés do rapaz e, em um instante, sua aura brilha e um feixe de luz perfura seu pé, abrindo um buraco no chão. — Cure-se… — diz friamente.
— C-caralho… caralho! — reclama Jarves. — Você é maluco! — Suas mãos vão aos pés e ele cai no mesmo instante, sujando suas vestes com o barro do terreno.
O amigo abaixa-se imediatamente para ampará-lo, mas o loiro segura em seu ombro.
— Deixe-o… — fazendo Antônio se segurar, — Jarves! Você só precisa ignorar a dor… finja que está tudo bem, cure-se… antes que eu golpeie sua mão! É um instante, você morre, seu sonho acaba! — ele diz, seu olhar é frio como um assassino, seu brilho brincalhão some, mirando sua mão nos pés feridos de Jarves, sua natureza humana irracional sobrepuja a seriedade.
— Merda… maluco… — Jarves olha ameaçado, sentindo um calafrio. Sua aura cobre o por instinto. Ele apenas olha o dedo do ex-exorcista e não faz nada além de piscar os olhos ao ouvir a aura tremer.
— Idiota… — xinga o loiro, sua aura se dissipando como um estalo de boca. — Cure-o, Antônio — ordena, virando-se para os céus.
— Ele é só um garoto… — A aura de Antônio cobre seu corpo e, tocando o garoto, compartilha sua luz, fechando o ferimento. — Está bem, Jarves?
— Sim… — murmura irritado, levantando-se e dando as costas aos outros. — Da próxima vez, me pergunte se pode ou não atirar na minha perna!
— Usem o que disse para não fazerem feio. Todos estamos envolvidos, e a dor do seu pé não será seu maior obstáculo, certo? — pensa o garoto, enquanto Antônio ri da sua cara emburrada. O loiro então caminha até o centro do terreno e os encara.
— Vamos fazer algo menos arriscado… me demonstrem suas capacidades inatas. Isso será crucial! Já que fizeram treinos, devem ao menos ter um plano em mente!
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