Capítulo 77 - Direcionamento
— Certo… vou primeiro então — diz Jarves, caminhando até estar cara a cara com o homem, e seu olhar se estreitando.
Aquele instante causa uma sensação de desafio. As árvores e a vegetação do terreno balançam diante da presença do loiro, e aquele sorriso mesquinho destaca-se em seu rosto.
— Vá com tudo! — desafia, enquanto o rapaz lança seus olhos à esquerda, mirando o parceiro às suas costas.
— Me segura! Assim que eu entrar nele, meu corpo perderá a consciência! — Ele, então, amargo, encara de volta com determinação. — Estendo energiam meam, possessio energiae! — No momento em que entoa, sua aura se ergue e se apaga. Seu corpo desmaia, e o loiro parece receber uma onda de choque, quase tombando para trás.
Se não fosse forte como um touro, teria cedido.
— C-caramba… — Antônio murmura, enquanto segura o corpo de Jarves no mesmo instante.
Os olhos do loiro convertem-se lentamente de branco para azul, e ele imediatamente se golpeia com o braço direito, um som poderoso ecoa, acompanhado de uma risada com gosto metálico do sangue que escorre pela lateral de seus lábios.
— Desgraçado… gostou dessa?
É Jarves que domina seu corpo, fitando Antônio, ele continua, mas agora rindo sem graça.
— Que foi? Ele mereceu, né? — Não bastou instantes, e antes que o homem o respondesse, ele foi jogado para fora pelo tempo limite, retornando a seu corpo original.
O loiro volta à consciência de seu corpo, dominando-o rapidamente, enquanto a visão de Jarves passa do breu para um embaçado no lugar.
— Aff… queria ter me divertido mais…
Ele murmura, mas logo é interrompido pela voz audaciosa do homem.
— Só isso? — pergunta, sua voz cheia de desdém, enquanto limpa ao redor de sua boca. — Vai realizar sua missão com uma possessão que dura meio segundo a mais do que sua entoação? Que ridículo! — O encara, o rapaz está ofegante, nos braços de Antônio, que solta um riso com o descaramento e a arrogância do homem.
Jarves, levemente irritado, apenas se senta, chacoalhando os ombros.
— Posso entoar em quatro a cinco segundos, demora três de qualquer forma para ser realizada. Sete segundos, não gastando muita energia… não é tão ruim, né?
— É péssimo! Considerando que tenha mais de vinte pessoas e a distração surta o efeito máximo de noventa e seis segundos, você demoraria cento e quarenta segundos… isso sem considerar a perda de eficiência e a sobrecarga de seu cérebro! — O loiro então bate os dedos em sua cabeça, um peteleco em sua testa arrancando mais suspiros de ódio, com aquele olhar convencido. — Pense! Faça um pacto consigo mesmo. Você pode gastar o dobro de energia, mas só precisará entoar uma vez a cada um ou dois minutos, tanto faz. Isso te daria três segundos a cada possessão, e por quê? Fará uma jura… — O homem também se senta no terreno, e os encara.
— Jura? E um pacto? — questiona Jarves, confuso.
— Imagino que vocês estejam planejando com a ótica de que Antônio fará as execuções e você irá direcionar os alvos. Imaginei isso graças às palavras dele no táxi… então, faça uma jura simples, é um life hack para nós exorcistas. A cada possessão completa, você receberá o dobro de carga, ou seja, seis segundos para uma nova possessão, mas se interrompida, você irá anular esse tempo. É um peso que vem acompanhado de um alívio! — ele diz, era fácil para ele deduzir e afirmar essas coisas. — Diferente de um pacto, não há necessidade de energia extra sendo gasta, só uma penalidade que cria uma oportunidade! Entende?
— Mas tem um, porém, não é? — questiona Antônio, cético.
— É… tem. Bem, sua mente vai colapsar, não enquanto está fazendo, mas depois… terá até dez segundos, vai parar, e com sorte, você conseguirá sair sem uma convulsão, uma paralisia breve… — Ele sorri sinistramente, seus olhos brilhando com uma luz perturbadora. — Mas… se não tiver determinação suficiente… — Enquanto jogou seu olhar ao garoto, seus cabelos sombrios caíram sobre o rosto, como se tentasse extrair algo dele.
Mas Jarves o interrompeu com firmeza: — Eu farei! Não fugirei… Nunca!
O loiro assente lentamente, sua expressão séria contrasta com o tom casual da conversa.
— Exato… Nunca! E ninguém vai! Balançaremos este mundo, será do balacobaco! — Os dois riem brevemente, mas há uma tensão palpável no ar, como se algo sombrio estivesse à espreita.
— Essa foi de fuder! — Antônio comenta, seu olhar penetrando no do loiro com uma mistura de respeito e preocupação. — E você acha que isso tudo vale a pena?
— E você acha que não? — ele vê certeza brilhando nos olhos deles, um brilho que reflete a determinação enraivecida. — Olhando de baixo… viver… é uma farsa. Comer, foder, beber… tudo isso não passa de uma distração vazia. Temos poder, a capacidade de mudar tudo isso, então por que não o fazemos? Medo? Já enfrentamos a morte uma vez, então mergulharemos de cabeça na sujeira e esmagaremos esses parasitas que controlam o mundo!
— Você é um idiota, mas é sensato… — resmunga Jarves, rindo. O garoto sente algo se agitar profundamente dentro dele, algo indescritível, que não pode distinguir na turbulência de sua mente. — Hoje, vamos fazer algo com nossas miseráveis vidas!
É um lamento jogado como um trunfo no ar, sua voz ecoando como se estivesse em um bar, embriagada por seus ideais.
— Só de não estar bêbado… e lamentando, já estou feliz! — Antônio continua, sentando-se com eles e fechando a roda.
Mas naquela manhã, eles não são os únicos se preparando para o que está por vir. Determinado, Kwawe golpeia o peso em seu apartamento, enquanto Milk assiste, bebendo um cappuccino e sentado em um banco.
— O que achou do pessoal? Acabamos nem tendo tempo para discutir, né?
— O pessoal? — responde Kwawe entre os golpes pesados que quase fazem o peso se romper. Ele está visivelmente suado. — Bem… Não tenho muito o que dizer. Parecem sinceros, apesar de serem confusos!
Ele retoma sua série de golpes com determinação, focando em seu treino enquanto a conversa continua.
— Também acho! — Observando que entre os golpes, a energia parece penetrar sua pele, fortalecendo-o fisicamente.
— Mas não sei, há algo que me incomoda… Será…
— O medo da morte? — interrompe, enquanto rapaz para seu último gole de cappuccino. — É… Também sinto isso! Esse abismo, mesmo que eu diga que quero, há algo que responde “será?” dentro de mim!
Milk assente, refletindo sobre as palavras do homem enquanto ele volta ao exercício, concentrando-se na intensidade de seus golpes. No seguinte, parte o peso no meio, a energia se dissipa no ar como eletricidade, desfazendo o impacto em uma ventania.
— Estamos angustiados… Sabemos que não será tão simples como disseram — murmura, ele sente as palavras de seu aliado como uma verdade que também é sua. — Mas… bem, seus ataques estão cada vez mais econômicos em energia e mais potentes! — diz o rapaz, erguendo-se.
— É… E por isso estou otimizando meu uso! Mas enfim, o que posso fazer? — Kwawe caminha até o peso, ou o que resta dele, encarando-o uma última vez. — Temos que continuar batendo, batendo, até não termos mais o que fazer. Milk, hoje será nossa última noite aqui. Já pensou nisso? — diz com determinação, enquanto uma tensão paira no ar, o peso do desafio que os aguarda além daquele instante.
Eles compartilham um olhar sério, sabendo que o tempo para dúvidas acabou.
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