Índice de Capítulo

    “Ding dong” ecoa da campainha pelo corredor sombrio e estreito, mergulhado na penumbra do amanhecer. Onde Arthur, trajado em seu terno azul, encara a porta do apartamento de Yamasaki com nervosismo, sentindo o peso da vergonha marcar seu rosto pálido.

    No mesmo instante, Yami abre a porta, seus olhos estreitos de sono brilhando com um fulgor estranhamente opaco. 

    O exorcista veste apenas uma bermuda.

    — Bom dia… — murmura Arthur, sua voz tremendo ligeiramente.

    Enquanto o rapaz o cumprimenta, nota algo perturbador: veias roxas serpenteiam pelo corpo de Yami, como se o próprio sangue corresse como o de um demônio, pulsando visivelmente sob a pele pálida.

    — Você tem a síndrome da escuridão? — Arthur pergunta, os olhos fixos nas veias.

    — É… uma das vantagens de lidar com energia negativa! — Yami suspira ironicamente, exibindo um sorriso de lado.

    — Maluco…

    Sentindo um arrepio percorrer sua espinha.

    — He! He! — Yami ri estranhamente, um som que ecoa inquietantemente pelo apartamento. — Entra aí, cara! — Ele vira-se e caminha até a mesa, onde pega seu sobretudo.

    Arthur deixa seus pensamentos vagarem por um momento, enquanto Yami observa o furo no peito em seu uniforme pendurado sobre a cadeira. Ele não trocou de vestes desde então, talvez por falta de tempo, ou talvez porque não liga.

    — Sinto muito, não quis ser irresponsável, mas tive muitos compromissos esses dias! — ele se senta no sofá, consciente do buraco no chão que tenta disfarçar ter visto na cozinha do exorcista.

    Arthur olha para a porta entreaberta do banheiro, após ele entrar lá, a luz que escapa é como se estivesse no fim do túnel em meio à escuridão. Ele suspira, ajustando a postura no sofá velho e afundado. A confusão e a escuridão do apartamento refletem bem a desordem na mente de seu companheiro.

    — Para onde vamos?

    — Para onde? — Arthur pensa rápido, seus olhos se arregalam e suas mãos se unem nervosamente. “Caramba…” ele reclama mentalmente, está ali sem rumo, como Yami. — Sei lá… estava pensando em patrulhar por aí ao cair da noite. O que acha? Coisa de macho, algo diferente! — Ri, é o que lhe vem à mente.

    — Patrulhar? Como um policial?

    — É… e… — murmura, sua voz carregada de incerteza. — Vai que encontramos um demônio forte para enfrentar!

    — Certo, certo! — Yami concorda, aceitando estranhamente o fardo que sempre relutou, fazer algo. Ele sai do banheiro já vestido, com as mãos nos bolsos. — Vamos fazer isso! Mas… já que não ganharemos nada, paga pelo menos a gasolina?

    — Ah, gasolina? Posso te dar depois? Tô liso! — Arthur ri, sem graça, recebendo a confirmação de Yami, que arqueia as sobrancelhas, mas está se contendo ao máximo para ser “simpático”. — Tem ideia de onde podemos… patrulhar? — continua.

    Yami pondera por um momento, pensando nas áreas da cidade que podem precisar de vigilância extra. Nada vem à mente, ele pensa por um instante, aliviando-o um pouco, ao dar um chute no traseiro de Arthur, que desfalece no instante em que ouve o estalo dos dedos de Yami.

    — Hm… que tal o distrito fantasma?

    — Boa ideia! — Arthur se levanta rapidamente, sentindo uma mistura de adrenalina e apreensão. — O bom e velho distrito fantasma… será uma missão e tanto para nós dois, que parecemos patos sem rumo.

    — Patos sem rumo? — ele indaga, rindo, soando estranhamente forçado. — Não estamos tão mal assim! — Sem graça, ele ri com esforço, pegando a chave do carro sobre uma lata de feijão na bancada, ao lado da parede que dá para a porta do banheiro, no corredor.

    Arthur ri junto, apreciando o esforço de Yami para manter o humor leve. — Vamos lá, então. Distrito fantasma, aqui vamos nós.

    Os dois descem, uma cena cômica, vendo os andares passarem com um “plim” a cada número, chegando finalmente ao estacionamento. Estão tão agitados quanto outros dois exorcistas que acabam de sair do elevador, Gabriel e Masaru, que chegam ao fim do monumental Domus-Dei no mesmo instante.

    — Jantar com Elizabeth? Isso não é um namorado, é um prefeito! — Masaru diz, guardando o smartphone no bolso, um som agitado ecoando, indicando que estava jogando enquanto descia do último andar até ali.

    Ele está imerso, em uma conversa com seu parceiro.

    — É… sabe… tô levando suas dicas a sério, só se vive duas vezes, né? — ri da própria piada, saindo logo atrás do elevador.

    — Ah, sei lá!

    O garoto pensa alto no mesmo instante: — Mulheres… não são tão legais quanto demônios!

    As pessoas os olham estranho pelas palavras de Jigoku, e Gabriel continua a rir, mais agitado e descontraído do que nunca.

    — Você é foda! — ele disfarça, a medida que percebe que todos encaram, — mas enfim, o que vai fazer hoje?

    — Meh… me mandaram investigar a confusão na estrada. Disseram que os motoristas foram vítimas de um ataque demoníaco de grande escala! Uma montanha chegou a desabar, alguns mortos… chato! — A falta de sensibilidade já não impressiona o homem, soltando um suspiro de decepção no final.

    — Ataque demoníaco? Não chegou aqui como um alerta de negligência?

    — O governo, está sendo o governo! Agora que o Kyotaka assinou aquele maldito tratado, estamos encurralados por suas mentiras! — O garoto ri sarcasticamente enquanto passa pela porta giratória acompanhado por Gabriel, que tenta ignorar o amargor nas suas palavras. Era um sinal claro da corrupção enraizada em sua profissão. 

    Mas, tentando se distrair e não entrar no mérito da discussão, ele olha para trás, notando a presença de numerosos exorcistas no salão. A sala estava tão cheia que mal se podia admirar a antiga arte de Elum incrustada no piso.

    — Bem, nos vemos mais tarde? — A voz do jovem corta seus pensamentos abruptamente.

    — Hoje? Não! — Gabriel responde, lançando um breve olhar para o céu. — Depois do jantar, direto para minha casa!

    — Tá avançado, hein, cabeça de ovo! — provoca o jovem.

    — Não seja chato! Vai! — responde o homem, tirando a chave do carro e se dirigindo até ele, entre outros dois veículos idênticos, destravando-o com um simples aperto de botão. — Aliás… cadê seu carro? Até hoje, não comprou?

    — Para quê? — retruca Masaru, batendo a mão em seu próprio colo. — Com minhas duas pernas, chego em segundos a qualquer lugar!

    — E com elas… você causa um transtorno público enorme… — ele o fita com seriedade. — Você paga 50% da sua comissão em danos públicos! Não liga para isso?

    — Nem uso dinheiro! — a sinceridade de Masaru não surpreende seu amigo. Gabriel ouve aquelas palavras como ouve os absurdos de sempre, já acostumado. — Mas enfim, vai logo para sua reunião! Amanhã falamos mais!

    — Beleza… se cuida! — o homem entra no carro, encarando o volante, observando o retrovisor como se fosse um espelho, e sorri galantemente. — Hoje nada de trabalho! Só eu e você, Elizabeth!

    “Depois eu sou o maluco…”

    Pensa Masaru, virando à direita no momento exato em que o amigo espreita com seus olhares, seu sorriso convincente iluminando seu rosto. 

    O dia estava prestes a começar para eles.

    Gostou da Webnovel? Então confira o servidor oficial clicando aqui!

    ÚLTIMO CAPÍTULO ESCRITO AQUI!

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 0% (0 votos)

    Nota