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    — Como fará? — pergunta Romero, inquieto, suas palavras como golpes a quem estava à sua frente. — Ainda se lembra do que planejamos? Ou seus instintos egoístas o fizeram esquecer? — Há cinismo em sua voz, mas o messias escolhe ignorar.

    Ele já passou um dia inteiro naquele quarto. Está organizado, com os livros postos em estantes, não mais espalhados pelo chão. A noite se aproxima, e ele também do segundo ato.

    E para Rasen, quem ouvia suas palavras são um golpe cruel. A sua figura, outrora imponente e reverenciada, agora é apenas uma sombra decadente. A coroa que antes brilhava em sua cabeça tornou-se um fardo morto, corroendo sua alma a cada instante que Diego o fita, aguardando sua resposta.

    — E-eu…

    Fraqueja, o messias se sente exilado, não apenas do mundo que o moldou, mas também de sua própria essência, como há muito não sentia. A sala parece encolher ao redor deles, o ar denso com a expectativa de algo sombrio e irrevogável.

    — Irei invadir com uma distração… já que serei só eu contra o exército de exorcistas! — Sua voz continua cansada, mas ganha força a cada palavra. Romero sente um arrepio descer por sua espinha, consciente de que a resposta dele é tanto uma promessa quanto uma maldição. — Estava pensando… uma bomba de fumaça, algo como Hazan fez com um hidrante de água enquanto lutávamos. Isso me deixará invisível o suficiente para penetrar no primeiro nível. Pularei o muro e avançarei pelos corredores B1 a B17… há menos guardas lá, já que ninguém quer roubar objetos demoníacos como fazem com as relíquias sobrenaturais. O detalhe é que terei que lutar até encontrar uma brecha para sair!

    — E como vai conseguir? — Romero questiona, cauteloso e descrente.

    Seu olhar é crítico, excessivamente, transitando entre a dúvida que já havia passado e a certeza que agora possuía.

    — Usando meus rituais… Eu não estava só me divertindo ou sendo egoísta como você pensou. Ter matado os garotos e Hazan me fez entender melhor como as coisas são após se fazer um pacto com uma entidade. No meu caso, a morte. Você nunca está livre de sua presença! — Rasen ri, encontrando um humor trágico em suas palavras que, estranhamente, o agrada. — É uma maldição da qual posso desfrutar à vontade!

    — Então fará trocas… vidas por possibilidades, não é? Como já vem fazendo… — A voz de Romero treme levemente, o peso da revelação começando a afundar em sua consciência.

    Ele já sabe, mas sua angústia o deixa à mercê de sua própria inocência. Seu ideal é um escudo de sua hipocrisia poética.

    — Exato! — Uma determinação sinistra brilha em seu olhar. — Assim como farão com as pessoas no prédio, não é?

    — Duas medidas opostas! — Romero abaixa os ombros, incrédulo consigo mesmo. Vê em Rasen uma versão mais forte e determinada de si. — Mas não há espaço para lamentações ou hesitação! Os meios justificarão os fins, e o mundo agradecerá!

    Ele sorri, um sorriso que não alcança seus olhos.

    — Bem, você realmente não quer que eu tente ajudar de alguma forma?

    — Como? Rasen, se você sair vivo de lá já será um milagre. Nossa missão é maior que nossas vidas… Não importa o quanto sejamos sortudos, será trágico! — Romero finalmente se levanta de sua poltrona, encarando-o por um momento. — Acho que é hora de me despedir deste lugar…

    Rasen pondera por um instante, refletindo sobre a indiferença da situação. Então, assente lentamente, resignado.

    — Todos nós temos.

    — Lembro-me de dizer a Gabriel, quando ganhamos nossos mantos, que, pelo meu ideal, eu iria morrer. Nossas palavras são como fênix, mas nós, mortais como alum, não importa o quanto fujamos… — Sua mão vai ao encontro do demônio, ascendendo enquanto seus olhos se voltam ao anjo, em sua queda. — Se não matarmos o touro de uma vez por todas, ele volta e nos derruba!

    A sala parece ficar ainda mais silenciosa, carregada com o peso de suas palavras e a inevitabilidade do que está por vir. Romero sabe que o sacrifício é necessário, mesmo que isso signifique enfrentar o pior dos destinos. A morte, a coragem de a encarar, é efêmera, e por mais certeza que tentemos carregar, temê-la é o que os sábios mais fazem. Jazem em eterna agonia ou se cegam até enfim a encarar? Assim, são os covardes e os corajosos, sem medalhas, ambos de mãos dadas.

    — É triste… Melancólico até — Rasen sussurra, seus olhos fixos no quadro envelhecido pendurado na parede. — Somos um mal necessário… Após a espiral, só restará a ordem de um novo mundo, como você idealizou!

    Um silêncio pesado paira sobre eles, quebrado apenas pelo respirar controlado de Rasen. O parasita da incerteza se alimenta das palavras, tecendo suas próprias justificativas em um propósito ao qual nunca pertenceu, mas que abraçou como verdade.

    — Um mundo sem verdades absolutas… Apenas harmonia, onde a ignorância será a palavra do Senhor, mantida com punhos de ferro! — Rasen conclui, batendo nas suas costas, mas o toque não alcança seu tato.

    Ele se vira finalmente para encarar seu interlocutor, que o observa com uma expressão sombria. Seus olhos fixos nos passos dele, enquanto se dirige à porta, passando pela última vez sob o arco velho e desbotado, perscrutando o vazio à frente.

    Da porta, ele avista os prédios no horizonte, que levam ao destino que ele deve traçar — o caminho oposto ao que Romero deve guiar seus cavaleiros.

    — Escute… Vou agora vasculhar a zona de contenção!

    Diego cerrou o punho direito, dando um suspiro.

    — Certo! Quando eu enviar o sinal, entre e saia imediatamente. Se o plano falhar…

    O interrompe, sua voz fria como o aço:

    — Apenas faça! Estarei lá no seu funeral, e dos outros. Não se preocupe. Mas faça o possível para sobreviver! Caso contrário, você deixará o mundo contra mim! — A determinação em sua voz é inabalável, mas um suspiro de incerteza escapa de seus lábios, como um sussurro do destino sombrio que os aguarda.

    Ele não responde e, determinado a seguir em frente, desce a escada com fervor. Cada degrau é um suspiro. Passa pelos quartos adiante, até estar finalmente aos pés da escada, encarando a porta. Feita de madeira velha, com vidro trincado e amarelado, ali está seu próximo passo — o futuro ou seu derradeiro fim.

    Enquanto os olhos de Romero continuam a encarar o abismo de suas escolhas, ele está à beira, com os pés prontos para se lançar na escuridão. Sua escolha são as chamas daquele incêndio prestes a queimar. Há apenas uma luz em sua escuridão: vislumbrar as cinzas que virão após.

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