Capítulo 87 - Fantasmas do Passado
À beira do corredor interminável, iluminado por luzes brancas ofuscantes no teto, o messias avança implacável. Dos corredores laterais surgem dois outros exorcistas à sua frente, tentando detê-lo.
“Mais plateia…”
Rasen pensa enquanto conjura uma tormenta de ar poderosa o suficiente para gerar um ciclone vertical com sua mão esquerda. Os ventos furiosos se transformam em uma broca destruidora, forçando os exorcistas que surgiram das laterais a erguerem barreiras rapidamente, mal conseguindo se defender contra o impacto devastador.
“Caramba…” pensa o exorcista à direita, seus cabelos castanhos escuros voando sobre seu rosto, enquanto o outro mal consegue manter-se de pé, o sangue jorrando de seus lábios. “Que poder!”
A tempestade de vento serve como uma distração breve o suficiente para Rasen perfurar a porta do elevador e deslizar pela fresta, poupando-se do trabalho de enfrentá-los diretamente.
Assim que ele pressiona os botões no painel, o elevador começa a descer dos andares 1 até 5, conhecidos como a zona da superfície. Ele sabe que ainda tem muito chão pela frente. O complexo é meticulosamente dividido: dos andares 6 ao 10 é a área da razão, do 11 ao 15 a zona profunda, e do 16 ao 20 é o abismo.
Essas divisões não apenas contêm armas e objetos malditos, mas também determinam seus perigos e níveis de energia selada nas paredes, pulsando como uma barreira, protegendo o mundo da influência desses males e potenciais desastres.
— Excelente! — ele sente a adrenalina o preencher.
“Dessa forma, irei até o 5… depois 10… 15 e, por fim, 17…”
Quando o elevador enfim chega ao 5º andar, alguns sentinelas já o esperam. No entanto, ele não parece estar mais ali. Internamente, o elevador está devastado pela ventania; não há sinal de vida. Os guardas examinam o ambiente, mas estranhamente, não encontram nenhum rastro.
— Ué… será que ele desceu antes? — pergunta um senhor de idade. Embora seja atlético, seu rosto está cheio de rugas. Ele arranca o rádio de sua cintura e chama: — Alô!? Andares 2, 3 e 4… algum sinal dele?
Ele mal ouve o rádio, assim como os demais exorcistas, quando uma bola de fogo o atinge em cheio no peito, explodindo instantaneamente.
As brasas se dissipam à sua frente, e como as mãos de um demônio, arranham paredes, piso e teto. As luzes no corredor explodem, e sem poder se defender, três corpos caem imediatamente.
— Capitão Solomon! — grita um jovem, vendo cair o cadáver queimado.
O capitão, sua face, está escura e encaveirada, como o resto de seu corpo, da cintura até o peito, a pele enegrecida pelo golpe. Horrorizado, ele segura o corpo em seus braços, enquanto os outros dois tombam, manchando as paredes de sangue, também mortos.
— Como? — Ele então vê Rasen, diante de seus olhos, pisando à sua frente.
— Tenho meus truques… — diz, enquanto um casaco cai a seus pés. Lentamente, ele emerge da invisibilidade, adaptando-se como um camaleão. — Um truque velho, manto de invisibilidade… mas até que serve contra humanos! — Ele ri, mal dando chance ao jovem, que recebe um chute poderoso, praticamente desmaiando.
O cheiro de cadáver queimado invade cada pedaço do ambiente, enquanto o sangue se espalha pelo chão. Como um maestro do caos e da morte, o messias respira o odor com prazer, chegando a salivar.
— O sabor da morte…
E sem pensar duas vezes, encara o corpo do rapaz. Suas mãos ficam inquietas, seus lábios molhados, uma ansiedade toma.
Em minutos, ele está novamente em um elevador, seus dedos vão até o 10º andar, suas mãos estão sujas de sangue como seus lábios. Sangue pinga a seus pés e, então, ele começa a encarar o teto, que o reflete, a besta imparável.
— Veni ad me… Mors… Me confirma… Quo magis tua vires in venis meis infusae sint, eo magis tibi dicatus ero, occidam in nomine tuo…
Enquanto diz isso, uma presença negra o espreita, uma sombra. Seus olhos se preenchem de escuridão. Quando chega ao seu destino, mal espera. Com um único soco, faz as portas voarem em direção ao corredor.
— Caramba! — diz uma jovem, que o espera, seus cabelos negros balançando com o movimento. Rapidamente, ela desvia e tenta lhe acertar um soco, mas o demônio que outrora fora o Messias segura seu punho com um sorriso de satisfação.
— Transmutatio materiae et status…
Ele faz uma pressão de água explodir à queima-roupa no braço da garota, jogando-a longe, cheia de arranhões. Ela só para ao bater na porta de outro elevador, um sorriso cínico no olhar de Rasen.
“Me sinto invencível com essa merda…”
A água cai aos seus pés e suas vestes são secas imediatamente pela aura fervente que emana, mas esta parece preenchida por fragmentos de trevas enquanto ela mal consegue manter a consciência. Mesmo assim, ergue-se, se desvinculando da porta amassada com sua silhueta.
— Desgraçado… — murmura ela com voz carregada de ódio, lançando sua mão direita para trás. Sua aura se intensifica instantaneamente, emanando uma vontade ardente de detê-lo a todo custo. — Transmutatio materiae et status! — Um foco de chamas irrompe, desafiando a energia nefasta que pulsa ao seu redor. Com a mão esquerda, ela guia a palma em direção às chamas, controlando-as com habilidade e determinação.
— Um feitiço de duas etapas? Que amador! — ele provoca, colocando uma mão no bolso da calça enquanto a outra se ergue à altura da virilha. — Transmutatio materiae et status… — As chamas que ele conjura rugem mais ferozes do que as da garota, tingidas de um vermelho ardente que parece devorar a própria luz.
Seus olhares se encontram em um duelo de vontades tão perigoso quanto às chamas que os cercam. Naquele corredor, está prestes a desencadear-se um embate, onde cada centelha promete decidir o destino de ambos.
— Fundibulum!
Ela grita enquanto sua mão esquerda guia inúmeros disparos que cortam o espaço entre eles em instantes. No entanto, não conta com a velocidade feroz de Rasen, que se esquiva habilmente, criando um disco de brasas em sua mão, erguido acima da cabeça.
Os focos de energia explodem em brasas intensas, atingindo as paredes e o piso, detonando o corredor ao redor. Então, o disco se comprime e, sem qualquer traço de compaixão, ele a força a engolir seu próprio feitiço. Rasen desliza para o lado, parando ao empurrar a porta do elevador.
— O… que… — não consegue completar sua fala, ao ser interrompida por uma explosão que se origina de dentro para fora. A garota se transforma em um vórtice de carne e ossos, banhando Rasen.
Ao encará-la, ele entra em êxtase, suspirando como nunca, contemplando sua própria essência como a própria morte. Este é o preço do pecado, ao usar rituais que consomem vidas, condenando pessoas a definhar e se unir ao abismo, uma a uma, e ser assombrado por suas escolhas.
E das sombras que ele mata, quem se ergue do abismo para o assombrar? Quem está atrás dele? Hazan, com um semblante alegre, mesmo com sua garganta sangrando, a marca da mordida que o levou à morte ainda visível.
É uma imagem tão real que Rasen pode relembrar o sabor em seus lábios, o cheiro de seu sangue, a sensação de sua morte e o peso de sua presença.
— Você chegou ao fundo do poço… nem é mais um ser humano…
— E quando fui um ser humano? — ele repete, respondendo sua assombração com uma risada, interrompida por um engasgo profundo.
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