Capítulo 112 - Concentrando-se no Real
Duas horas após o término da reunião, Amai está à porta do apartamento de Yami, batendo com insistência. Seus olhos ardem de frustração enquanto ele permanece em silêncio lá dentro. O coração dela martela no peito, ansiando para compartilhar as boas novas que traz.
— YA-MA-SA-KI!?
Ela berra, a voz cheia de impaciência, e quase se deixa levar pelo impulso de dar um chute na porta. No entanto, antes que possa fazê-lo, ouve o som claro de algo caindo, seguido pelo estilhaçar de vidro ou porcelana, ressoando como um alerta súbito no silêncio.
— Aí…
Resmunga Yami ao abrir a porta, revelando-se vestido apenas com uma blusa preta comprida, que cai até suas coxas. Seus olhos semicerrados e a expressão de cansaço deixam claro que ele não está no melhor dos humores.
— Caramba… você não cansa, não? Todo dia é trabalho… até os escravos têm direito a viver, sabia? — Ele murmura, a voz carregada de exasperação enquanto apoia a mão na porta, como se precisasse de um momento para recuperar o fôlego antes de encarar Amai.
— Há! Há! — ri, entrando no apartamento sem pedir permissão, ignorando o comentário dele, enquanto tenta disfarçar o rubor que sobe em suas bochechas. — Engraçadinho… você é um exorcista, sua vida de CLT é tão real quanto pode ser. Então, pare de ser uma criança birrenta, Yami!
— Yami? Que intimidade é essa… — ele suspira, levantando uma sobrancelha. — Sabia que a escravidão foi abolida faz tempo, né? — retruca, com um tom ácido o suficiente para surpreendê-la. Está mais sociável do que o normal, quase como se estivesse testando os limites da paciência dela.
— Se você falhar como exorcista, ainda pode ser comediante… — comenta, enquanto seus olhos percorrem o caos no quarto. O vaso caído se despedaçou em incontáveis fragmentos pelo chão, uma caixa de pizza amassada jazia ao lado, cercada por sachês de molho usados. — Sério, você e o Lewys são tão porcos assim?
— Ao invés de me julgar, poderia me dizer o que é tão urgente… — responde o rapaz, recolhendo a caixa de pizza com uma expressão emburrada. — Ah, estávamos só nos divertindo… — acrescenta, sem dar muita importância. — Até que foi legal passar o dia com aquele cara — completa, jogando a caixa na lata de lixo, que parece pequena demais para a bagunça que abriga.
— Homens… — suspira, revirando os olhos. — Enfim, vim te avisar que você, eu e ele fomos convocados para uma missão! E ficou sabendo do caos de ontem à noite?
— Caos? Missão? Não estou sabendo de nada…
— Então, aconteceu uma carnificina, e tivemos duas invasões: uma na zona de contenção e outra em um prédio administrativo, tudo orquestrado por rebeldes… — Amai explica, sentando-se com um suspiro cansado. — Por sorte, Masaru deu conta de todos, mas agora temos que ir até a casa de apenas um…
— Caçar um cara? Que deprimente… — comenta, mal se importando com os detalhes enquanto pega um copo e o enche de água da pia. — Ele é forte?
— Ele? Bem, é um ex-exorcista de grau 4… mas o que ele fez é impressionante. Invadiu a zona de contenção, matou quatro exorcistas do mesmo nível e ainda conseguiu sair de lá… — Amai ri, quase incrédula. — Tem que admitir, é bastante coisa, né? Especialmente considerando que ele escapou da zona de contenção.
Enquanto ela fala, seus olhos se desviam para a TV dele, que está danificada. A tela parece ter levado um soco, transformando-se em um emaranhado de rachaduras que se espalham como teias de aranha.
— É… mas a ordem nunca foi boa em criar sistemas de defesa eficazes, para ser honesto. Quero dizer, é praticamente um trabalho voluntário… assim como nós, exorcistas, que na maioria das vezes somos apenas idiotas sem rumo! — Yami admite, deixando os ombros caírem em desânimo. — Então, ele é um competente útil no meio de um monte de incompetentes funcionais!
— Entendo… — diz Amai, inclinando a cabeça enquanto o observa de lado, claramente curiosa. — Mas, me diz uma coisa, meu caro parceiro perdido: o que aconteceu com a sua TV? — Ela não consegue conter a curiosidade, esperando a resposta com um olhar atento.
— Acidente de trabalho… — Yami responde evasivamente, enquanto bebe sua água e se escora na pia. Sente um nó na garganta ao lembrar do ocorrido.
— É? E qual foi o acidente, hein? — insiste, sua curiosidade aguçada.
— Putz… você é curiosa mesmo, hein? Mas, OK… Eu e Arthur estávamos brincando… sabe como é, e ele acabou exagerando. Me acertou um soco bem forte que, por azar, acertou a TV também — explica, a vergonha evidente em seu tom. — Em troca, eu dei a ele um smartphone velho que encontrei nas gavetas… É, foi isso! — completa, tentando disfarçar o embaraço.
— Sério? — Amai ri, quase sem conseguir se controlar. — Deixo vocês sozinhos por alguns minutos e já transformam a sala em um ringue? — provoca, pegando o controle remoto e, só para implicar, ligando a TV no exato momento em que um noticiário relata um incidente parecido.
— Quanto custa uma TV dessas, hein?
— Hm… uns 2 mil ienes… — Yami chuta alto, sem realmente se lembrar do valor exato que havia pago. Sua resposta é mais uma tentativa de escapar do assunto, mas o embaraço continua ali, evidente.
— Ah, não é tão cara… — desdenha Amai, já pronta para provocar.
— Não? 2 mil ienes já são 25% do valor do meu carro — retruca Yami, cruzando os braços com uma expressão cínica.
— Ah, é… seu carro… — Amai responde, sem perder a oportunidade. — Minha bolsa custou o dobro disso aí… — diz, erguendo-se e lançando um olhar crítico ao redor da casa. O lugar está ainda mais bagunçado do que da última vez que o levou para lá bêbado, e a desordem só reforça o contraste entre suas palavras e a realidade ao seu redor.
— B-bolsa? — gagueja Yami, ligando a torneira para lavar a louça suja enquanto se dirige à geladeira. Pega um pacote de carne bovina do freezer, cortada em cubos, e o coloca na pia.
— Uhum — Amai confirma, com um sorriso travesso.
— Quanto custou? — ele pergunta, com um tom de receio.
— 20 mil ienes — responde ela, mostrando a língua em um gesto brincalhão. — Te assustei, foi?
— Não, só… caramba, que patricinha! — ele resmunga, suspirando enquanto tenta processar a informação. A expressão dele soa tão genuína que faz Amai rir, aliviando a tensão que ela sentia antes de encontrá-lo.
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