Capítulo 113 - Tá Carente, é?
Ele está com as mãos apoiadas na pia, de costas para, enquanto os dois ainda se olham. O impacto da revelação parece intensificar a sensação de pobreza para Yami.
Qual é a distância social e econômica entre um exorcista e herdeira de uma família rica e nobre? Ele tem a resposta.
— Mas, falando da missão, tem mais uma coisa… — Amai faz uma pausa dramática, apoiando os cotovelos na bancada de mármore que divide os cômodos. — Masaru vai ser nosso líder… é… a pior parte! — Sua sinceridade é evidente nas palavras.
— Líder? Tipo, ele vai ser nosso tutor? — pergunta, emburrado. — A Ordem acha que somos crianças? Ou acham que precisamos de alguém para controlar nossas ações?
Verificando a própria cozinha, ele pondera sobre o que fazer em seguida.
— Pior que nem é isso. Masaru é tão irresponsável quanto qualquer um, sabe? Provavelmente o escolheram só porque aniquilou quase todos os rebeldes… — ela nota, estranhando o crucifixo pendurado no pescoço dele naquele dia. — É um reflexo distorcido da meritocracia!
— Está com raiva porque não é a líder? Resumindo — provoca, enquanto coloca a carne descongelada em um pote e pega uma cebolinha e algumas cebolas. — Só acho que quatro pessoas em uma missão é meio irracional, não?
— É… — Amai o observa da cintura para baixo, um sorriso de lado se formando em seus lábios. — Você é bom na cozinha? Isso me surpreendeu… Mas, enfim, eles devem estar querendo resultados rápidos, não é?
A atenção dela está fixada nas pernas dele, pálidas e brancas como palmitos.
— Ah, o que foi? Só porque sou um desastre, não posso saber cozinhar? — Yami ri. — Mas, pelo menos, vamos receber algum tipo de apoio, não? — diz, enquanto a ganância o consome cada vez mais. Ganhar dinheiro virou um passatempo nesta miserável vida.
— Ah, quanto ao pagamento, essa é a melhor parte para você. Serão 80 mil ienes para cada um… — ela assobia ao dizer, sabendo que é um valor bastante alto para eles.
— Sério? Agora eu até estou gostando dessas missões! — Yami quase corta o dedo ao tentar fatiar a cebola o mais fino possível na tábua. — Quer comer algo? Farei o suficiente para dois… oferece.
— Aceito, aliás, estava pensando em ir naquele café hoje, topa? — pergunta, enquanto observa o esforço dele na cozinha.
“É, bicho… Ela está afim de ti!”, diz Azaael, finalmente surgindo.
Sua voz interrompe os pensamentos de Yami, como bolhas flutuando nas águas salgadas de sua mente.
— Ah… — ele suspira, irritado com a interrupção. — Pode ser… Hoje, não vamos começar essa tal missão, né? — engole em seco enquanto leva a cebola picada para a frigideira, que está na mesa desde ontem, e desliga finalmente a torneira da pia.
Certeza de que tomará um belo prejuízo na conta de água.
— Não, amanhã… — Amai diz, enrolando os cabelos com um sorriso travesso. — Espero que o Arthur não fique chateado, mas só vamos avisá-lo depois. Então, hoje, você está todinho para mim! — Ela ri de forma boba e pisca quando ele se vira.
— Todinho para você? Eu hein, que papo torto é esse, Shirasaki? — comenta, pegando o alho, jogando-o na frigideira e ligando o fogo para preparar a carne.
Para não dar importância ao demônio, ele foca seus olhos no livro de receitas ao lado do fogão, o único livro que leu nos últimos dias. Ter aprendido algo além de ovos e bacon traz uma satisfação que não sentia há tempos.
— Estou só te provocando, bobo. Deve ter ficado cheio de vergonha por ouvir isso de uma garota como eu… — Com um tom convencido.
— Como eu? Uma das chatas? — ele ri, tentando disfarçar as bochechas vermelhas que começam a aparecer, o que o deixa visivelmente irritado.
— Não, idiota. Gata… Inteligente, engraçada! — responde, rindo enquanto se aproxima sorrateiramente por trás dele. Sem ele perceber, e sussurra em seu ouvido, ficando na ponta dos pés. — Tem medo de mulher, Yami?
Ela dá um susto.
— O quê? — Ele se vira abruptamente, quase a derrubando, e a agarra pela cintura. Solta um suspiro firme e pergunta emburrado: — Você não facilita, né? Por que tem tanto prazer em me provocar, hein, Amai? — Diz o nome dela com uma intimidade inesperada.
“Caralho… beija ela, seu poste!” reclama Azaael, enquanto observa os dois trocando olhares.
O negro de seus olhos se mistura com o mel dos dela. No entanto, a voz da entidade apenas serve para interromper aquele momento de conexão, como um cão perturbando o sossego de seus donos.
— Bem…
— Vai ficar me encarando assim? — provoca, com um sorriso incisivo e uma expressão desafiadora. — Vou achar que você quer me beijar! — Ela pisa no pé dele rebeldemente e se afasta para o lado, fugindo da situação com um sorriso travesso.
— Merda… isso dói, poxa… — reclama, virando-se imediatamente e jogando as carnes na panela, sendo tomado por um instante de frustração e ansiedade. — Tá carente, é? — resmunga.
— Nossa… quanto estresse, Yami Yamasaki! — Amai comenta, abrindo a geladeira e encostando as costas na dele enquanto pega uma garrafa de vinho. — Oh, fala da minha bolsa, mas o que dizer dessa garrafa aqui?
— Esse foi o pagamento de um senhor que estava sem dinheiro. Fui lá e peguei um vinho da adega dele… Ele quase infartou quando fiz isso, hehe! — ele se anima ao lembrar do ocorrido.
— E a porcentagem da ordem?
— Porcentagem!? Eu disse que não recebi nada… — Ela o encara com uma expressão de surpresa, e ele ri da situação. — Que foi? Não, esperava algo tão desonesto?
— Não, eu… não esperava que fosse tão esperto! Esse vinho é bem caro, deve custar vinte vezes mais que um exorcismo nosso! — Amai comenta, colocando a garrafa sobre a mesa. — Bem, chegou o dia de tomar, não é?
— Espera… — Ele a encara, indiferente. — Quer beber no almoço?
— E tem hora para isso? — ela responde, com um sorriso desafiador.
— Deveria… ainda mais para garotas certinhas como você! — ele resmunga, desligando o fogo e tirando dois pratos de porcelana do lava-louças, que fica abaixo da pia. — Não?
— Certinha? Ah, ele me acha certinha! — a garota brinca. — Mas você tem razão, só que hoje não estou a fim de ser certinha! — Ela então agarra duas taças que estão sobre a geladeira e as coloca sobre a mesa, enquanto joga as tralhas que estavam nela no chão.
Ele só ouve o barulho da chave caindo e o jarro com a flor sendo derrubado da mesa, seguido pela risada travessa da garota.
— Vai pagar por isso, né?
— Eu? Talvez… deveria? — Ela ri, piscando para ele. — Relaxa, trevosinho…
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