Índice de Capítulo

    Há três passagens atrás, ainda no ciclo 381…

    É uma noite em que o céu parece querer se despedaçar. A chuva cai em torrentes furiosas sobre as ruas desertas de Nova Tóquio, lavando o asfalto com águas carregadas de trevas.

    A cidade, normalmente vibrante, contorce-se sob o peso da tempestade, como se algo maligno houvesse despertado no coração de seus becos e vielas.

    Em meio àquele cenário de desolação, três figuras avançam com passos decididos, suas silhuetas recortadas pelos relâmpagos que rasgam o céu. Eles não são meros transeuntes, mas vigilantes da noite, exorcistas de sangue-frio, caçadores implacáveis das sombras que se escondem nos cantos mais escuros da cidade. Cada um deles é marcado pelo ciclo cruel em que nasceram, graduados no nível quatro, e, embora ainda jovens, suas almas já carregam o fardo de incontáveis batalhas contra o mal.

    — Que merda! — rosnou o rapaz à frente, seus olhos verdes brilhando com um misto de raiva e frustração, contrastando com seus cabelos vermelhos como sangue fresco. Sua pele é pálida, quase translúcida, como a de um espectro à espreita na escuridão. Ele para subitamente, fixando o olhar nas ruas desoladas do segundo distrito, onde o silêncio é quebrado apenas pelo som das gotas de chuva batendo no chão encharcado. — Aquele chato do Gabriel… Quem ele acha que é para nos dar bronca?

    Sua voz reverbera com uma amargura profunda, a irreverência jovem que calma de suas gargantas. E os outros dois exorcistas, ocultos sob seus mantos escuros, trocam olhares cúmplices.

    — Só… um exorcista celeste! — murmura o outro, um sorriso torto nos lábios, seus olhos castanhos claros brilhando na penumbra. Ele é alto e magro, com cabelos espetados que parecem desafiar a chuva que tenta achatá-los. Diferente dos outros, ele exala uma energia nervosa, quase inquieta, como se estivesse à beira de rir mesmo diante do abismo. — E… sem falar que ele só quer nos ajudar, vai ficar mesmo magoado? — Ele lança um olhar de soslaio para o terceiro membro do grupo, um rapaz de cabelos pretos longos, lisos e caídos aos ombros, cuja expressão carrega o peso de um mundo sombrio.

    Enquanto o jovem ruivo à frente, imerso em pensamentos, dá um chute desdenhoso em uma lata de refrigerante vazia que rola, produzindo um som oco que se perde na vastidão do silêncio opressivo ao redor.

    Ele para e encara os dois companheiros, seus olhos sombrios refletindo descontentamento.

    — Ajudar? — sua voz soa amarga, carregada de sarcasmo, enquanto ele os olha fixamente. — Yami… você que está sempre calado, o que acha, hein?

    Yami, o rapaz de cabelos pretos, ergue lentamente o olhar, seus fios encharcados caindo sobre o rosto pálido, quase como um véu sombrio que oculta seus verdadeiros pensamentos. Ele parece alheio ao caos ao redor, perdido em uma quietude quase perturbadora, como se estivesse mergulhado em um abismo de indiferença que o distancia do mundo ao seu redor.

    — Eu? Sei lá… poh… — responde, sua voz saindo seca, quase sem emoção, como se as palavras fossem um fardo a mais. Ele suspira, deixando transparecer uma exaustão que vai além do físico, uma lassidão que corrói sua vontade. — Eu só queria estar em casa agora… sério… por que não deixamos para amanhã essa tal missão, hein?

    O desânimo em sua voz contrasta com o som da chuva incessante, criando uma sensação de desalento que parece se infiltrar na própria alma dos outros dois. 

    Ele olha para os seus companheiros, mas seus olhos não refletem expectativa, apenas uma resignação silenciosa.

    — Tá doido, cara? Imagina, se exorcizarmos um demônio original, estamos de vidas ganhas! — exclama o ruivo, seus olhos verdes brilhando com uma intensidade que beira o fanatismo. O entusiasmo em sua voz é tão palpável que sua aura começa a emanar ao redor dele, distorcendo o ar como se uma chama invisível estivesse sendo acesa. — Dizem que… ele está aprisionado em uma caverna próxima à cidade… — continua, a excitação crescendo enquanto fala.

    — Três exorcistas recém-graduados no nível quatro, contra uma entidade de mil anos? — resmunga o outro, uma ponta de ironia na voz, mas os olhos brilhando com um desejo oculto. — Tô dentro! Sinceramente? Estou cansado de peitar demônios fracos! E você? Oh, Yamasaki? — Sem esperar resposta, ele se afasta da chuva, se abrigando debaixo do telhado de uma casa próxima, o olhar fixo nele.

    Yami hesita, sua mente nessa época estava lutando contra o turbilhão de pensamentos e emoções que o dominam. As gotas de chuva continuam a martelar seu corpo, cada uma trazendo consigo uma sensação quase catártica de frio e desconforto.

    — Eu… — começa a responder, mas sua voz se perde no som da tempestade e no próprio desalento que sente.

    — Qual é… o vocalista de Black Metal, você é um homem ou um rato? — provoca o rapaz de cabelos vermelhos. Ele se aproxima do outro se abrigando também, encharcado, o sorriso desafiador ainda nos lábios.

    O apelido, embora dito jocosamente, tem um tom afetuoso, uma tentativa de arrancá-lo daquele estado de inércia.

    — Tá… mas só até às 2 da manhã, certo? — resmunga Yami, os encarando com um olhar emburrado, as sobrancelhas franzidas. — Quero dormir um pouco…

    — Tá, até às 2, my lady! — responde o rapaz com um sorriso provocativo, inclinando-se levemente em uma falsa reverência. Ele pega o smartphone do bolso, sacudindo-o três vezes antes de religá-lo, as gotas de chuva escorrendo pela tela. — Vou pedir um táxi. Trouxeram grana?

    — Eu… tenho 100 ienes aqui… — o de cabelos espetados diz, enfiando a mão no bolso e tirando uma pequena nota amassada. Ele a segura entre os dedos, o olhar meio envergonhado. — Usei as moedas para comprar um lanche…

    O olhar de Yami endurece um pouco mais, e ele solta um suspiro de resignação. A cena é quase cômica, mas o ambiente sombrio e a missão iminente carregam tudo com um peso desconfortável. Eles estão se preparando para enfrentar algo que pode muito bem ser o fim deles, e ali estão, contando trocados para um táxi.

    — Sério, cara? — Yami balança a cabeça, a frustração evidente, mas uma leve sombra de um sorriso ameaça aparecer em seus lábios. — Estamos indo enfrentar um demônio original e você gasta suas moedas em um lanche? Não come em casa não?

    — Ei, não sabia que precisaríamos de táxi, OK? — responde o rapaz, tentando se justificar, mas não conseguindo esconder o pequeno sorriso que surge no canto dos lábios.

    — Ah, seu gordo maldito! — o ruivo brinca, sua voz carregada com um tom ácido, mas os olhos brilhando com diversão. Ele arranca a nota da mão do amigo e dá uma risada de moleque, aquela que só os verdadeiramente inconsequentes conseguem soltar em momentos de tensão. — Vamos à caça, rapazes! — exclama com entusiasmo, quase como se o perigo fosse apenas mais uma aventura a ser conquistada.

    A ganância que o move está além de qualquer coisa que ele possa realmente alcançar, um desejo insaciável por reconhecimento e poder que o impulsiona a seguir adiante, mesmo quando o caminho à frente é escuro e cheio de horrores. Ele não tem medo de trilhar esse caminho, de se lançar na escuridão com um sorriso no rosto e um brilho nos olhos, algo que, mesmo diante da loucura e do perigo, faz dele alguém que, no fundo, Yami respeita, mesmo que não queira admitir.

    Ele sempre os considerou dois idiotas, imprudentes e destemidos de uma forma quase suicida. Mas há algo neles, uma chama indomável que os faz se destacar, que os torna únicos.

    Mesmo que não lembre seus nomes, eles são parte de algo que ele nunca mais havia sentido: a verdadeira sensação de viver.

    Quando pegam o táxi, seguem em direção às proximidades da cidade, para a floresta ao redor do quarto distrito, Haji mari. Lá, nas cavernas mais profundas de Aija, dizem que se chega perto dos limites de Crea, onde é possível ouvir os lamentos daqueles que estão no limbo.

    Após meia hora de caminhada desde a rodovia Nani no mai, atravessando a mata sombria repleta de sussurros animalescos, o canto de corujas, o rastejar de serpentes e o uivar de lobos, chegam à entrada da famosa caverna Akuma.

    Dizem que um demônio está selado ali.

    Placas de aviso advertiam os visitantes sobre o perigo, informando que o número de mortes e desaparecimentos na área já ultrapassa 150.

    No entanto, eles não se importam. Lendo e encarando as placas, avançam para a boca da caverna. Sem enxergar nada adiante, estão armados apenas com suas auras e a fé de que tudo dará certo.

    A única testemunha é Nox, calado, diante dos pesares do livre-arbítrio humano.

    E a chuva continua a cair com intensidade, martelando as pedras da estrada e produzindo um som que ecoa pela noite. Os três exorcistas, encharcados, seguem em direção às profundezas, suas silhuetas se destacando contra o fundo escuro da floresta. 

    — Tá, pessoal, temos um plano? — pergunta Yami, sua voz rouca e carregada de cansaço. 

    Ele observa os dois companheiros com um olhar de sono, tentando se concentrar.

    — O plano é simples — responde o ruivo, seus olhos brilhando com tanta energia e otimismo que assusta. — Entramos, encontramos o demônio e o exorcizamos. Não temos tempo para enrolação!

    Suas palavras são tão inconsequentes… Mal sabiam o que estava prestes a acontecer.

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