Capítulo 116 - Conto Passado: O Contrato — Parte Final
O espaço ao redor se torna um abismo opressivo, onde a luz e o som são consumidos, criando um vórtice de desesperança e silêncio.
— Caramba… garoto… você é um super-humano, hein! Eu… nunca tive tanto trabalho para matar a porra de um humano! — o demônio admite, transmitindo suas palavras através de sua aura abissal, forçando-se para empurrar contra a resistência do rapaz.
Sente os ossos do garoto crepitando, prestes a ceder sob a pressão, mas a expressão dele é feroz, como a de um cão bravo.
— Grr… qual é seu nome, hein?
— Meu nome? — Yami faz uma pausa dramática, antes de descruzar os dedos e enfiar a mão na escuridão que o cerca. Seu braço atravessa o abdômen da entidade, penetrando o vazio.
Esta é a essência de seu feitiço ativo, “Umbra, totum”. Com ele, manipula pequenos buracos de minhoca em seu domínio, dobrando o espaço-tempo do vazio ao seu dispor. O feitiço cria uma conexão direta com a escuridão, permitindo-lhe atravessar fisicamente a distância em um instante, penetrando na essência do demônio com uma frieza calculada.
É como atravessar um papel, e a mão dele se suja com o sangue púrpura que jorra da entidade. O demônio, surpreso, percebe que não conseguiu parar o ataque. Apesar de ter sentido a ameaça, esperava que seu poder oculto o livrasse da ameaça iminente.
— Minha dádiva do abismo… o que… você… fez… — murmura a entidade, enquanto, com um rugido de raiva, quebra o braço dele com um movimento brutal e o acerta com um soco devastador que quase arranca sua cabeça.
Yami cai ao chão, a visão embaçada e o corpo em dor agonizante.
E o demônio o mira, com uma expressão de confusão e frustração.
— O que você fez, pirralho? — pergunta, a voz carregada de fúria e incredulidade, enquanto a escuridão ao redor pulsa com uma intensidade ainda maior, como se a sua própria existência estivesse em jogo.
Ele coloca a mão na barriga, com um olhar sombrio. Mesmo enquanto se regenera, sentir-se atingido é inesperado.
— Era para ela me tornar imune a qualquer técnica…
— Uma barreira? — Yami cospe sangue, cada palavra um esforço agonizante. — Minha habilidade restrita impede qualquer uso de barreira, seja externa ou interna. É impossível que matéria, espaço ou tempo me parem.
Esse é seu feitiço restritivo, 99% Dei, permite controlar um vazio tão absoluto que transcende as influências do tempo, do espaço, da causalidade e do destino. Essa técnica é um domínio absoluto que nenhuma dádiva, mesmo herdada e imbuída na própria essência do demônio, pode desafiar ou manifestar dentro de sua presença.
Somente Elum, a entidade superior e transcendente, pode estar acima dessa influência.
O poder de Yami é um vórtice que, em sua supremacia, coloca qualquer outra força em um estado de subjugação inevitável, revelando a profundidade do abismo que ele controla e a impossibilidade de qualquer resistência.
— Então… moleque… é você…
Ele sente um déjà-vu intenso, como se uma voz antiga ecoasse em seus ouvidos, ressoando como uma promessa feita em ciclos passados.
— Eu? — o garoto pergunta, já se preparando para seu próximo ataque. No entanto, sua reação é interrompida quando a entidade pisa firmemente sobre seu braço, que continua intacto, imobilizando-o com uma força esmagadora.
A energia expandida que Yami havia liberado rompe os limites impostos pelas leis da realidade, e a entidade, percebendo isso, aproveita-se da situação.
— Você… é a luz que eu pedi! — exclama a entidade, apontando seu dedo, envolto por uma esfera de trevas, para o braço quebrado dele. — Escute… o que vou dizer pode parecer sem sentido, mas para nós, é uma luz!
A esfera de trevas pulsa com uma intensidade sinistra, como se as próprias sombras estivessem sendo canalizadas.
— Um demônio falando de luz? — ele tenta se mover enquanto fala, sentindo sua vida pendendo por um fio.
Mas a desesperança e a dor não o impedem de lutar pela sobrevivência.
— Escuta! Porra! Eu… quero fazer uma proposta para você! — A entidade insiste, sua voz carregada de uma urgência.
— Proposta? Não fode… — Yami responde, sua expressão era uma mistura de raiva e resignação. — Me mata logo… Vai!
Ele encara a entidade com um olhar desafiador, ainda firme mesmo diante da morte iminente.
— Tô falando sério… Você tem algo que deseja, não tem? — A entidade continua, observando as chamas de ira nos olhos de Yami, que não se apagam mesmo diante da morte. Um sorriso cruel surge em seu rosto. — Posso te fazer capaz de realizar isso. Em troca, eu quero essa carcaça…
— Por que eu aceitaria? — continua a desafiar, sua voz tremendo de dor e cansaço, mas ainda bradando como um fiel desafiante da morte.
— Porque você vai morrer, mas morrer realizando o que sempre quis… não é isso o desejo mais humano? — a entidade responde com frieza. — Então, pense nisso como um efeito colateral! Eu seria uma escada; qual é, você não tem nada a perder, tem?
A proposta, sombria e distorcida, oferece a ele uma escolha amarga: a chance de concretizar seu desejo final, mesmo à custa de sua própria vida, uma oferta que desafia o próprio conceito de sobrevivência e propósito.
— Quero matar o maldito do Gallael… — ele começa a ceder, enxergando uma possibilidade. — Acha que consegue? — desafia, a raiva clara em suas palavras.
— Gallael? — A entidade solta uma risada cruel. — Eu limpo meus pés com a cara desse puto! — diz com uma confiança perturbadora.
Ele reflete: mesmo sendo um demônio, um contrato e uma jura–selado em pacto–são a forma mais recíproca de trocar algo…
— Certo… então… faz o juramento… — Yami insiste, sua voz se tornando um sussurro determinado. Ele sabe que essa é a única chance de realizar sua vingança eficazmente, mesmo que isso signifique um acordo com o próprio demônio.
— Ego, Azaael, rex tenebrarum, iuro per vitam meam me ultimam tuam votum facere. Si non impleam, me tradam et transferam essentiam meam ad lucem potentissimum quae emanet. Sed pro fidelitate mea, corpus tuum, essentiam tuam… — A entidade promete, encarando-o com uma determinação fria.
— Ego… cedo cum quid volo habebo. Vitam meam renuncio pro nostro pacto! — Yami afirma, sem hesitar.
Assim, ele firma o contrato, trocando os anos que teria em vida por um relógio, que determinará que sua vingança será possível.
Se viveria como morto até a morte, ou se viveria até alcançar o que deseja. Sua decisão foi tomada e com ela veio a aceitação de um destino sombrio em troca da realização de seu desejo final.
Os fins podem justificar os meios, mas a verdadeira questão é até quando?
A linha entre necessidade e moralidade é tênue, e a busca por objetivos pode levar a sacrifícios que desafiam nossa própria humanidade.
Mas a pergunta é: até que ponto estamos dispostos a ir para alcançar o que desejamos, e qual é o custo real dessas escolhas?
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