Capítulo 126 - O Impacto da Morte
Passando por Mahmoud, que se dirige apressadamente para a saída, Arthur entra na Ordem com um semblante carregado de cansaço e frustração.
Através do salão de recepção, ele observa o incessante vai e vem dos exorcistas e de outros membros da organização.
Ele murmura para si, num tom baixo e amargurado:
— Não importa se uma, dez ou trinta pessoas morreram… ninguém parece se importar.
A verdade, dura e fria, ecoa em sua mente.
O mundo está repleto de números e estatísticas que vão e vêm, vidas que se esvaem como areia entre os dedos. Seriam essas pessoas lembradas? Talvez como um exemplo fugaz, ou talvez nem isso.
A percepção dele é clara: o mundo não se importa com ele, nem com ninguém. O valor de alguém é medido apenas enquanto vivo; na morte, tudo se torna descartável.
A menos, claro, que você tenha um pacto com o diabo.
Mas, afinal, quem é o Diabo?
Com um suspiro pesado, ele atravessa o salão. Suas mãos estão escondidas nos bolsos, o terno azul que usa está suado e visivelmente surrado.
Ele caminha com passos determinados em direção ao elevador. Seu destino: o vigésimo terceiro andar, onde estão os arquivos, a seção obscura onde todos os casos de Aija são meticulosamente registrados e catalogados.
O andar é um depósito de mistérios e segredos, repleto de falhas humanas, vítimas e desbravadores de eventos sobrenaturais.
Minutos se passam enquanto sua mente fervilha. Quando finalmente chega ao andar desejado, e os murmúrios dos corredores chegam aos seus ouvidos.
— Parece que houve outro fracasso… lá no distrito de Saisho… acredita? — ri um rapaz que segura uma xícara de café, trocando olhares cúmplices com uma moça ao seu lado. — Dois exorcistas de elite apanhando e destruindo tudo!
— Sério? Meu Deus… — responde ela com um tom desdenhoso. — E nós temos que limpar a bagunça desses idiotas!
Mas Arthur mantém o foco, ignorando os comentários maliciosos e se dirigindo diretamente ao final do corredor.
As portas numeradas de A1 a A10 passam pela sua visão periférica à esquerda, mas nenhuma delas é o seu destino. Ele procura a última porta, o gabinete de quem administra aquela área caótica.
Ao se aproximar, a porta se abre antes mesmo de bater, e Gabriel sai com a cabeça baixa, visivelmente exausto. Seus olhares se cruzam brevemente, um silêncio pesado paira entre eles, carregado de memórias e dores não ditas.
— Lewys… — murmura Gabriel ao avistá-lo, como se estivesse diante de um fantasma. — Faz tanto tempo… não o vejo desde sua formatura.
— Souza… É — responde Arthur, quase o ignorando, desviando o olhar. — Parece que você tem estado ocupado, hein? — ri, com um tom de vergonha.
— Bem… — Gabriel segura o ombro de Arthur, forçando-o a parar de procurar uma saída e a encará-lo. — Primeiro, eu preciso dizer que sinto muito. Fiquei sabendo que a Yelena estava com você. Jurei que veria vocês saindo desse poço de merda… mas, enfim…
As palavras dele carregam um peso que ambos sentem. O peso da perda, das promessas quebradas e do vazio que se alastra dentro de seus corações. Eles estão em uma guerra sem fim, lutando contra demônios e sombras, mas, às vezes, os demônios internos são os mais difíceis de derrotar.
— É, acho que, no fundo, pensei o mesmo. Não sei… sempre tive uma visão muito peculiar disso tudo — ele confessa, a voz vacilando, enquanto uma risada nervosa escapa de seus lábios.
Aquelas palavras, pronunciadas em voz alta, sempre lhe trazem uma sensação incômoda de ansiedade, como se expusesse uma parte de si que preferia manter oculta.
— Entendo. Você, eu, Romero… e alguns poucos de nós sempre tivemos uma visão romântica sobre tudo isso — ele diz, com o olhar distante, como se estivesse introspectivo e analisando suas próprias convicções. — Mas, por algum motivo, comecei a ver as coisas com mais dureza. Talvez seja falta de fé! — sua voz se torna mais firme, quase desafiadora, confrontando as ilusões do passado.
— É, acho que só agora percebo tudo com essa tal… dureza! — o rapaz responde, seu olhar fixo em um ponto distante, como se buscasse uma resposta oculta, mas, assim como Gabriel, nada encontra além do clamor angustiado de sua alma. — E você, Silva? Se tivesse a possibilidade, agarraria a chance ou deixaria passar, esperando que o tempo a fizesse esquecer? — A pergunta surge de repente, como uma revelação do que está em seu peito.
— Eu… — Silva hesita, seu rosto refletindo um misto de conflito interno e desolação. Aquela pergunta não é simples; carrega uma ganância sombria, uma fome que não se sacia com respostas fáceis. Ele sabe que não é uma luz no fim do túnel que o rapaz busca, mas um punhal, afiado e mortal, pronto para cravar no próprio coração. — Acho que as coisas vão além desse vai e vem… Superar ou não… seria muito fácil se eu soubesse a resposta. Mas aqui vai uma reflexão: há um futuro, um destino e você, vai matá-lo?
As palavras pairam no ar como uma sentença, pesadas e carregadas de significado.
O silêncio que se segue é denso, como se o próprio tempo tivesse parado para absorver a gravidade do que foi dito. Não é apenas uma conversa comum; é um confronto com seus próprios demônios, um exame de consciência onde cada escolha parece uma faca de dois gumes.
E antes que ele possa responder, Silva o interrompe, a voz suave, mas firme:
— Mas claro, isso não, é algo que você deve decidir agora! Essa escolha tem que vir acompanhada da sua consciência. Pode levar semanas, meses ou até anos… — Como sempre, com aquele tom paternal que o faz parecer mais um professor do que um amigo. Seu olhar cai sobre o rapaz, esperando que suas palavras encontrem algum eco.
— Entendo o que você quer dizer. Como a Sofie… vocês dois têm opiniões tão simplistas e coerentes, mas é difícil, sabe? Ainda mais quando o inimigo é sua própria mente! — O garoto se afasta, dando três passos largos em direção à porta, como se cada passo representasse uma decisão difícil, uma batalha interna travada contra si. Quando chega à porta, ele para, virando-se apenas o suficiente para encarar Silva uma última vez. — Mas agradeço, Silva. E… sinto muito pelo Romero — Sua voz é um sussurro pesado.
Gabriel apenas assente, um agradecimento implícito estampado em seus lábios.
Então, Arthur bate na porta, uma, duas vezes, e o som ecoa no corredor vazio como um martelo cravando um prego que sela algo irrevogável.
Infelizmente, aquele dia seria longo…
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