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    Retomando ao presente.

    Após um banho revigorante em uma das casas abandonadas daquele estranho espaço-tempo, Rasen avança em direção ao galpão. O vapor ainda envolvia seu corpo nu, envolto apenas por uma toalha desgastada, e sua expressão relaxada logo se transforma em alerta. Seus olhos, que esperavam encontrar Hazan, deparam-se com figuras demoníacas nas sombras, como presenças sinistras que o aguardavam.

    Gallael e Liliel, sentados em um velho sofá de couro rasgado, observam-no com olhares afiados. Outros demônios, espalhados pelo imenso covil, fazem o mesmo. O lugar exala o cheiro pesado de sangue coagulado e morte antiga; as paredes escuras parecem pulsar com uma energia opressora.

    Todos ali o olham como predadores, analisando sua presa recém-chegada.

    — Por que não avisou que traria convidados? — comenta, forçando um sorriso sarcástico para mascarar o desconforto.

    O ambiente, impregnado de estranheza, fazia com que cada olhar parecesse uma avaliação profunda de sua alma.

    Liliel, a princesa outrora aclamada como a mais poderosa entre os herdeiros, ergue os olhos com desdém.

    Suas íris ardem com impaciência. Pronta para implantar sua personalidade afrontosa.

    — Ele não era um dos nossos? — sibila, com desprezo escorrendo de cada palavra. — Ou será que isso tudo é uma encenação ridícula?

    Rasen arqueia as sobrancelhas e dá de ombros no mesmo instante, como se um segundo bastasse para a tensão se dissolver. Ele assume uma postura relaxada, como se estivesse em casa, cercado por antigos aliados.

    — E você, quem é para falar assim, hein?

    Com um sorriso malicioso, ela enfim se levanta. O grandalhão, sentado no chão, e os irmãos à direita do sofá, mudam seu foco, evitando se envolver na discussão.

    — Liliel, princesa da Casa de Asmael, ex-mulher do infame Azaael! — Seus braços se cruzam, e o olhar afiado corta como lâminas. — E você? Apenas mais um João Ninguém?

    — Então, estou sendo humilhado por uma divorciada?

    Todos se surpreendem, por mais morto que aquilo o deixasse, ele ainda tem coragem para tais palavras.

    — Pois é…

    Mas ex? Essa fala não é cânone… enfim… voltando.

    — Mas você seria um ótimo saco de pancadas, não? — Sua face se abaixa, encarando entre as pernas dele. — Adoraria lhe chutar até sair tripas dessa coisa que você chama de bolas!

    Talvez ela estivesse, em busca da ousadia do primeiro homem que ousa enfrentá-la.

    — Patético! — murmura Gallael, finalmente interrompendo e se erguendo em seguida. Sua voz, carregada de autoridade, reverbera pelo galpão. — Rasen, Liliel… não somos inimigos. Somos aliados com um objetivo comum. Então, comportem-se! Por favor? — O tom incisivo faz os dois cederem, irritados, mas sem ousar replicar.

    — Tá, tá… E aí, como será essa porcaria toda? — Agora sentada novamente, ela observa com desdém enquanto Rasen, mais calmo e descontraído, se encosta em uma mesa ao lado de Jahiel, após andar para as costas do sofá.

    A mesa, ainda manchada com o sangue de sua vítima, exala um odor fétido. O corpo descartado antes da chegada deles deixa o ar com o cheiro de morte, enquanto Jahiel, o demônio ao seu lado, desvia o olhar dela com um leve desconforto.

    Não é o cheiro que a incomoda — ela já está acostumada ao pecado e ao sangue.

    É o cheiro do próprio homem…

    — Que fedor… — murmura, franzindo o nariz.

    “Fedor? Acabei de tomar banho.”

    Rasen pensa, resignado, enquanto o príncipe começa seu discurso. A voz dele ressoa como uma ladainha familiar, lembrando-o das pregações de seu falecido amigo Romero, despertando uma nostalgia amarga.

    Não que sinta saudade, apenas o faz relembrar…

    — Nosso plano é simples. Para que o verdadeiro fim do mundo aconteça, nosso senhor Luciel precisa de três grandes massacres… O primeiro é realizado quando Azaael e Masaru se enfrentam, gerando milhares de mortos devido à imensa energia negativa. O segundo é a execução dos seis ressuscitados, também realizada pelo exorcista. E o terceiro… — Gallael faz uma pausa, deixando o ar denso de expectativa. — Um sacrifício de demônios e humanos. Um genocídio de ambos os lados dessa guerra!

    — Espere, esse sacrifício não é só para abalar o mundo e iniciar o fim dos tempos? — O silêncio que segue é quebrado pela voz confusa de Rasen.

    — Sim, mas Luciel simplificou para você. A verdade é mais complexa… — responde Gallael com paciência. — O fim do mundo não é como imaginam. Enquanto seguimos as previsões e ordens de Alum, vocês, humanos, acreditam em versões distorcidas por outros homens! — Ele faz uma pausa para respirar antes de concluir: — E esses três atos fornecem a energia e são simbólicos o suficiente para o feitiço final!

    — Então tudo isso é só para abrir uma maldita caixa? — Liliel provoca com certo desdém. — E o que acontece conosco, os demônios originais? Matar humanos e deixar demônios fracos serem exorcizados é trabalho para esse fracassado aí! — aponta, com mais desprezo, para o homem.

    Já ele reprime a raiva, mas sente o peso da acusação. Liliel, apesar das provocações, lida com a mesma ignorância dos outros demônios quanto ao verdadeiro plano.

    — Rasen tem um contrato com o nosso imperador. Entenda isso — O príncipe intervém, firme. — Mas falando apenas de nós… Nossa missão é eliminar os exorcistas celestiais, exceto Masaru Jigoku. Certo?

    — Mas caramba… por que ele é tão especial? — pergunta o homem, ainda sem entender o fascínio que todos na academia parecem ter pelo “Exorcista mais forte” desde o momento em que ele chega.

    — Porque há apenas um futuro em que ele morre, e nele nenhum de nós é o responsável. Nem Asmael, nem meu pai! — A frustração na voz do príncipe é evidente, ele capta a essência da fala de seus tios. — Claro, isso é só uma hipótese… não é uma verdade absoluta! Asmael pode prever resultados, mas há limites, é como…

    — Ele só pode ver o que já aconteceu ou o que está prestes a acontecer. Resumindo… — Liliel, astuta, interrompe, deixando uma última dúvida suspensa no ar. — E por que Mael e Leviel não estão aqui?

    — Eles têm outra missão… — ele diz, mais sombrio do que nunca, absorvendo o peso das informações que carrega. No entanto, sabe que precisa revelar algumas jogadas; não são apenas demônios cientes de seus planos ali, todos são seres puros da arquitetura do mal do imperador. — Bezeel vai retornar, e nem três demônios podem garantir que ele será contido! Satisfeita?

    — Esse verme… — Liliel reclama, visivelmente irritada. — Sempre uma pedra no sapato!

    Enquanto o príncipe continua sua explicação, Rasen se perde em pensamentos, imerso nas possibilidades.

    Ele viaja entre as vítimas que pode ter e o poder que pode conquistar se for fiel a eles e ao seu novo senhor, o imperador do mundo abissal.

    Ele dá um passo à frente, coçando a nuca, tentando organizar a mente.

    — Certo… E quem vai me ensinar essas malditas técnicas de energia negativa que o paizão prometeu?

    A pergunta abrupta quase faz Liliel rir, enquanto Gallael desvia o olhar, ligeiramente incomodado por mais uma interrupção.

    — Ehr… Jahiel. Ela será sua professora — Ele coloca a mão no ombro de Rasen e olha para a marquesa Jahiel, que, nada satisfeita com a escolha, cerra os punhos e apenas acata a decisão em silêncio. — Agora, por favor, volte ao seu lugar, preciso continuar a explicação, certo?

    — Tá… — Rasen apenas concorda, meio convencido, sentindo um déjà-vu inquietante. É como se já estivesse naquele lugar, planejando o futuro, em uma sala cheia de sombras e intenções obscuras.

    Será essa, sua segunda chance?

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