Capítulo 155 – Invencível Sob os Céus
Admirando o horizonte, Amai sente uma inquietação misturada à atmosfera ao seu redor. O som das ondas quebrando na areia traz um ritmo constante, enquanto o cheiro de maresia impregna o ar com sua salinidade. O vento gélido, cortante, passa como um abraço insistente, trazendo uma leve tremedeira ao seu corpo.
E sentada no parapeito que separa a praia do calçadão, seus dedos brincam com a textura fria da pedra sob si, tentando encontrar algum tipo de ancoragem para o turbilhão de pensamentos.
Ao lado, Yami mantém seus olhos fixos no horizonte, onde o mar parece se estender até o infinito. Seus olhos, sempre cobertos por aquela névoa de apatia, parecem mais atentos agora, com um brilho quase oculto que escapa de sua habitual indiferença.
— O mar é uma das coisas mais belas, não? — ele diz, a voz baixa, mas firme, como se estivesse tentando capturar algo além da visão. — É tão forte… parece que o mundo poderia desabar em águas, mas as águas continuam, indiferentes ao mundo.
Amai se vira levemente para ele, tentando entender a profundidade por trás de suas palavras.
— Fala da magnitude do mar? — Ela hesita antes de continuar, os olhos fixos no perfil de Yami, sentindo que as camadas do rapaz estão se desgarrando diante dela. — É… pensar que Flumem tem dez vezes mais território que os três continentes… é meio louco! — Sua voz soa distante, tentando acompanhar o fluxo de pensamento dele. Ao tocar levemente o ombro do rapaz, sente-se estranhamente exposta e cora. — Não sabia que gostava do mar… quer dizer, não tinha essa ideia!
Yami ergue os ombros, sem tirar os olhos daquele resplendor.
— Gosto! O mundo é belo se admirado além das camadas convencionais, além dessa cidade de concreto, além das nossas normas e leis… soa meio idealista, eu sei, mas é interessante ver o que está além. Não?
Amai ri, uma risada que ecoa pelo calçadão, sem controle.
Por sorte, é um dia vazio, e não há tantos visitantes na praia. Ninguém tem ânimo após tantos desastres em tão pouco tempo, exceto os exorcistas…
— De fato… mas ainda não entendo por que você veio assim para a praia! — Ela diz, com as palavras se atropelando, enquanto sua risada se torna mais intensa.
Mas o que a faz descontrolar nos risos?
Yami está vestindo um sobretudo preto, com os óculos escuros quase em sintonia com a touca que cobre sua cabeça. Mesmo assim, sua pele começa a ficar levemente avermelhada pela fraca luz que consegue atravessar as nuvens carregadas acima. Ele suspira, com uma expressão entre o embaraço e o sarcasmo.
— Ah, vim admirar, não tomar banho! — Ele justifica, enquanto coça nervosamente a mão esquerda, marcada de vermelho pelas unhas.
Amai o encara de cima a baixo, ainda rindo.
— Você não parece nada praieiro! Tá?
Ela morde o lábio, seus dedos tocando inconscientemente os lábios enquanto sua mente divaga.
— Mas já que estamos aqui… e amanhã provavelmente não teremos tempo livre assim… que tal um sorvete até dar às três horas?
São duas horas, e seu tempo para chegar em casa está cada vez mais curto…
Yami solta uma risada curta, enquanto se ergue do parapeito.
— Um sorvete de quase uma hora? — Ele brinca, soltando um suspiro pesado antes de ceder. — Só se você pagar.
Amai bate levemente no peito dele, meio irritada. Não havia ninguém mais aproveitador que Yami “pobresaki”, pensou.
— Aff, sempre, né? Pagar gasolina, pagar sorvete… você é um rapazinho exigente e malandro, hein? Azedinho!
Ele sorri de canto, uma expressão que raramente se vê. Quer dizer, para ela, era constante — a happy hunter da geleira que ele é.
— Sou difícil, baby… — A palavra sai tão espontânea que ele mesmo parece surpreso.
A reação de Amai é instantânea, sua risada estoura no ar.
— Baby? Ah, isso foi horrível! — Ela o olha de soslaio, enquanto tenta controlar a risada, mirando seus olhos no horizonte. Ao longe, os prédios altos da cidade se erguem como montanhas artificiais, enquanto as barracas de comida se estendem ao longo do calçadão, oferecendo suas delícias em meio ao cheiro de maresia e frituras.
Ela se vira para Yami, ainda rindo, e lança um desafio.
— Já que você está com esse jeitão nada galante, vou te dar a chance de escolher algo para mim, tá?
Ele ergue as sobrancelhas.
— Algo para você? — Ele faz uma pausa dramática. — Que tal areia?
Amai rola os olhos, impaciente. A paz havia sido quebrada, e, de novo, está em uma competição de provocações.
— Não, idiota, estou falando sério… vai, ou você não consegue agradar uma garota?
Yami suspira, um leve sorriso se formando em seus lábios.
— Ah, maldita técnica feminina de provocar… — Ele anda até uma das barracas próximas. — Que tal um camarão no espeto?
Ela o observa enquanto ele pega o espeto diretamente da grelha e paga o vendedor, tirando uma nota de 1000 ienes do bolso.
— Fica com o troco… — diz ele com um sorriso maroto, entregando o espeto para Amai.
Ela ri novamente, aceitando o camarão com entusiasmo.
— Bora, palhaço, vamos ver se esse camarão de 1000 ienes vale mesmo o preço! — Ela dá uma mordida grande, mastigando com intensidade, enquanto Yami a observa com uma mistura de alívio e diversão.
— Devagar, caramba! — comenta ele, vendo metade do espeto desaparecer em duas bocadas.
Amai limpa a boca com as costas da mão, ainda sorrindo.
— Sabe… até que está gostoso. Você me surpreendeu, azedinho!
— Ha! — Yami ergue a mão, tocando levemente o rosto dela. — Tô vendo, até se sujou… você às vezes parece uma capitã de exército, mas aqui, tá mais para criança.
Amai cora, brevemente, desviando o olhar para o lado. Sua mão desvincula-se da dele rapidamente, e então sorri para disfarçar sua verdadeira reação.
— E você… até que não é de todo mal… — diz ela, seu tom voltando a ser provocador.
Seria impossível vencê-lo em seu jogo de provocações.
Assim como Miyamoto Musashi, Amai é invencível sob os céus, uma adversária implacável, cuja sagacidade e persistência transcendem qualquer esforço do rapaz.
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