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    “Arthur?”

    A voz ressoa como o som de um sino distante, logo após o estalo seco de um tapa. Isso é o suficiente para arrancá-lo de um torpor profundo, como o despertar de um pesadelo sufocante. Seus olhos se abrem com um sobressalto, percebendo que está no banco de trás de um táxi, os pulmões se enchendo de ar, como se estivesse emergindo de um afogamento.

    Sua visão está enevoada, mas gradualmente, a realidade volta. As mãos tremem enquanto apertam o assento do táxi, e ele se vê encarando o motorista, um senhor de meia-idade, através do retrovisor. O olhar do taxista é curioso, porém cauteloso. Arthur sente como se estivesse vendo algo que há muito não o visitava—fragmentos do passado. Aquela sensação familiar e insidiosa… Seriam os primeiros sinais de que sua depressão está retornando?

    Seu corpo está tomado por seus gatilhos, mas algo o mantém distante de sentir as águas da incerteza e traumas baterem em seu barco. Talvez sejam as velas da certeza, que ele gostaria de usar para revidar todo o sofrimento até então.

    Ele não se importa.

    O desinteresse se mistura com uma profunda apatia enquanto seus olhos se desviam para a janela, observando a paisagem do centro de Nova Tóquio. A cidade parece diferente, como se tivesse perdido o brilho. O que um dia foi uma metrópole vibrante agora é apenas uma massa cinza de concreto, que se estende interminavelmente.

    Sem ela, tudo é sem vida…

    — Tem certeza de que está bem, jovem? — A voz rouca do motorista corta o silêncio enquanto vira à direita em uma avenida movimentada, onde os edifícios se erguem imponentes, simbolizando o poder da nação. — Sabe, é normal beber muito na juventude, fumar… usar drogas… — suas palavras vacilam, como se estivesse apostando nas razões do estado de Arthur, morrendo quando o jovem abre a boca.

    — Não é nada disso, cara, só me leva para casa — responde com exaustão, sua paciência esgotada.

    — Certo, só… me confirma — o motorista hesita, seu olhar voltando ao retrovisor por um instante. — Você vai mesmo fazer a limpeza, não vai? Se fizer, eu te levo de táxi até o fim da sua vida! — há um tom animado em sua voz. O acordo é claro: Arthur realizaria um exorcismo no prédio onde o velho mora, em troca de corridas gratuitas.

    — Sério… farei — Arthur murmura, sem energia.

    — Ótimo! Tive que inventar cada desculpa para minha mulher, sério, mas é muito caro um serviço seu! Sorte que o governo do imperador está ajudando com isso, né?

    Arthur solta um suspiro pesado, seus olhos acompanhando os prédios que passam como uma visão tediosa. Aquela cidade já não significa mais nada para ele. Houve um tempo em que se imaginara criando uma família ali, mas agora, tudo o que se vê é uma prisão de concreto. — Mas não se iluda tanto… o imperador sempre ganha… ele sempre… ganha.

    O motorista ri, embora nervoso. — Talvez seja verdade, mas esse jovem que assumiu agora, o Yujiro Yamato, parece ter empatia pelos súditos, não?

    — Mesmo que tenha… — Arthur murmura, com um toque de amargura. — Como ele vai convencer os velhos escrotos a esvaziarem os bolsos em troca de mais qualidade de vida para os pobres? Todos trabalhando igual e igualmente capazes de chegar ao topo? Meio ilusório… até para um sonhador como eu… — Sua voz carrega o peso do pessimismo, de uma alma que um dia teve esperança, mas que agora se esconde atrás da frustração. Ele não veste mais seu manto heroico e, em seus lábios, sussurra: “como eu?”. — O ideal é contar só consigo mesmo… Nem sempre haverá quem esteja disposto a ser flexível!

    O motorista, sem graça, solta uma risada tímida, enquanto a tensão enche o espaço do carro. Com os pés, joga para trás o tapete do império.

    — Certo, e… segundo distrito, não é? Rua Kinpatso?

    — Isso. — Arthur suspira novamente, apoiando o rosto na palma da mão, seus olhos fixando-se novamente no horizonte além da janela, sua vista tomada por casas cada vez mais humildes. Ainda faltam alguns minutos para o fim dessa jornada. E, naquele instante, ele sente que, mais do que qualquer destino físico, o verdadeiro caminho que precisa percorrer continua longe de acabar.

    Os poderosos nunca tiveram empatia pela vida. Mesmo que esse fosse um sol no meio da tempestade, o sol era pequeno demais para parar as tormentas que trazem a escuridão e o caos…

    Um desses é Hugo Moreau, que encara os corpos dos ex-iluminados colocados em uma van. Ele está cara a cara com seu maior comprador.

    Os corpos são levados em macas, sacos pretos, no terceiro distrito, onde fica o necrotério particular contratado pela ordem…

    Um museu de técnicas que nunca conheceriam descendentes pelas regras dos nove, administrado por ele, um dos do conselho, que alimenta um mercado clandestino, movimentado por uma única pessoa: doutor Hermes.

    Um dos herdeiros dos nobres estrangeiros, que fogem de Regnum após a guerra da independência…

    — Certo… aqui está, meu bom e velho companheiro de ciências! — Hermes diz, após colocar um cheque nas mãos do líder, no valor de sete milhões de ienes, com sua assinatura. — Foi caro, mas justo! A contribuição para o conhecimento científico não tem preço!

    — Hm… — Hugo ri, guardando o cheque no bolso do terno, sentindo uma leve curiosidade. Dessa vez, a remessa foi alta: em menos de sete dias, mais de dez corpos foram entregues a ele. — O que a ciência quer com exorcistas moribundos?

    É o suficiente para o médico acariciar o bigode.

    — Está curioso?

    — Qual é, eu não vou ser um concorrente científico. Mata minha curiosidade! — ele insiste, com as mãos no bolso, encarando o relógio a cada relance. Ele deveria buscar Amane às cinco da tarde.

    — São pesquisas medicinais. Eu aprimorarei a ciência com o conhecimento dos exorcistas. Satisfeito? — responde, e então, após duas tossidas forçadas, como sua empatia, percebendo a face perplexa do exorcista, destrincha: — Quero curar doenças, aumentar a longevidade… descobrir como produzir luz de forma sustentável para ser um tipo de tratamento médico!

    — Não seria mais fácil criar um hospital com exorcistas capazes de usar seus poderes para isso? — ele pergunta, tão sincero que a risada sem graça do velho vem como se tivesse sido humilhado por tal indagação.

    — Hugo… você não entende. Quero que a humanidade seja independente e trilhe seu próprio caminho. Exorcistas são guerreiros, não médicos! Quero médicos capazes de entender e subjugar essa natureza curativa da luz… enfim, é algo idealista de alguém, igualmente idealista! — Se ele não conhecesse a figura, poderia ser comprado por essa nobreza, mas ratos conhecem a natureza dos ratos…

    Uma eterna corrida, não?

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