Capítulo 157 – Moderação
Com o enfraquecimento de Aurora, o crepúsculo tinge o céu com cores desbotadas, os tons quentes desaparecendo em um espectro de laranjas e púrpuras.
As sombras se alongam, preenchendo o horizonte com uma melancolia silenciosa, como se a própria Crea estivesse suspirando ao final de mais um dia. No entanto, a tensão entre Masaru e Kyotaka contrasta com a beleza suave do entardecer, criando um conflito de atmosferas.
Masaru, firme e provocador, se destaca contra o cenário morno. Com as mãos cravadas na cintura e um sorriso cínico brincando em seus lábios, sua postura irradia desprezo pelo momento.
— O quê? — ele começa, um tom de desafio em cada sílaba.
O líder agarra uma xícara de café preto no mesmo instante em que sua indignação se derrama por seus lábios.
— Cê vai mesmo me pôr numa missão com mais três exorcistas para caçar um cara? Um único cara? — A cabeça de Masaru se inclina levemente para o lado, seus olhos brilhando com uma incredulidade quase cômica. — Sabe que posso fazer isso com as mãos nas costas e usando uma perna só… né? — Sua confiança é uma onda esmagadora que não deixa espaço para questionamentos. Afinal, ele é o autoproclamado exorcista mais forte, a lenda viva que derrotou sete exorcistas sozinho, e sua fama corre como fogo em mato seco.
Agora, nada lhe tira essa ideia, e sua teimosia é algo natural.
Kyotaka, no entanto, permanece impassível, com os olhos semicerrados e os braços cruzados após um gole quente, uma montanha inabalável diante da tempestade que é Masaru. A paciência está no limite, e cada palavra do rapaz parece mais um prego no caixão de sua tranquilidade.
Ninguém nunca o viu assim…
— Não seja tão burro, Masaru!
A voz do velho corta o ar como uma lâmina fria, quase implacável.
— Não é sobre equilíbrio de forças, nem sobre falta de confiança na sua capacidade. — Ele faz uma pausa, permitindo que o peso de suas palavras caia entre eles como uma pedra no silêncio. — Uma missão desse calibre precisa ser maquiada. As pessoas precisam ver que estamos agindo com tudo que temos para resolver a situação. — Seu tom se torna mais sombrio, as palavras se arrastando como se carregassem o fardo de uma verdade amarga.
É um jogo de percepção pública, mais um…
— “Aparências”, como sempre, né? — Masaru zomba, erguendo uma sobrancelha. O tom de desprezo em sua voz é tão evidente quanto a luz desbotada do crepúsculo entrando pela janela e colorindo a sala do líder.
Ele respira fundo, os músculos tensos enquanto relembra o estrago que a última ação de Masaru causou.
Em sua mente, ainda é vívido, o caos que teve que contornar e ocultar…
— E, além disso, você devia levar isso mais a sério. No último evento… pessoas morreram. Um quarteirão inteiro foi destruído. E tudo por quê? — Ele faz a pergunta como quem joga uma bomba, sabendo que a resposta só pode piorar as coisas. Masaru, afinal, é brilhante, mas negligente.
O exorcista revira os olhos, como se a menção de mortes e destruição fosse um aborrecimento menor.
— Diversão, ué… não posso fazer as coisas do meu jeito? — Ele encolhe os ombros, a despreocupação em sua voz é quase insultante. — Independente de como eu agir, danos são inevitáveis, não é?
Kyotaka aperta os punhos, a frustração brotando como uma chama mal controlada.
— É… mas esses danos podem ser minimizados. Não seja tão cabeça dura, Masaru. Só estou pedindo que aja com moderação e, pelo amor de tudo, aprenda a trabalhar em equipe! — A última frase sai mais como um desabafo do que como um pedido, uma verdade que ele e os demais guardaram por muito tempo.
Indiferente, ele balança a cabeça, ainda com aquele sorriso arrogante.
— Tá… Tá… — Sua voz arrastada demonstra claramente que ele não está convencido. — Droga, vai ser uma missão chata para caralho!
Kyotaka se inclina ligeiramente para frente, o olhar afiado como uma lâmina, julgador.
— Concordamos? Hein?
O rapaz apenas dá de ombros, mas o sorriso desafiador continua presente em seus lábios.
— Sim, estamos, velhote! — mente descaradamente, soltando um suspiro forçado.
Kyotaka fecha e abre os olhos imediatamente, exasperado, mas sem escolha a não ser seguir em frente.
— Certo, então amanhã começam os trabalhos da sua equipe. Você liderará, então faça reuniões de organização, o mínimo de planejamento! — Sua voz carrega a fadiga de alguém que já sabe que suas palavras serão ignoradas, mas o guia dentro do possível. Ao menos ele tenta. — Vamos atualizar depoimentos, localizações, tudo o que indique onde ele possa estar…
— Mas não é só fazer um feitiço de localização? — Masaru pergunta, quase como se estivesse entediado.
O líder o encara por um momento, sua paciência é novamente posta à prova. Mas, recolhendo os papéis sobre a mesa e jogando-os na gaveta, ele se prepara para responder.
— Feitiços de localização só funcionam se você tiver uma parte, um pedaço de quem quer localizar. Por isso, ninguém os usa, e a maioria desconhece isso! — ele explica, com um tom didático, oferecendo uma informação que poucos exorcistas sabem. — Na verdade, não ensinamos mais isso a partir dessa geração, a tecnologia é mais prática e oferece melhores resultados!
— Merda… você é um velhote bem inteligente, hein! — resmunga, uma mistura de sarcasmo e relutante reconhecimento em sua voz. — Mas enfim, sendo assim, já vou indo… — ele se vira para a porta.
— Bem, boa sorte e que Elum te abençoe! — A voz grave do Sr. Tachinaba carrega uma sinceridade quase paternal, embora seu olhar revele uma sombra de preocupação.
Masaru, com seu sorriso de canto de boca e postura desleixada, responde sem muito entusiasmo:
— Hm… é… igualmente, Sr. Tachinaba! — Ele dá de ombros, saindo pela porta antes que o velho possa replicar. O som da madeira rangendo enquanto a porta se abre e se fecha ecoa pelo ambiente, um último lembrete da partida precipitada de Masaru.
O líder permanece imóvel por alguns segundos, o silêncio agora preenchido pelo zumbido baixo do relógio na parede. O brilho de seus olhos, apagados pela idade, reflete a tensão.
“O que ele aprontaria desta vez?”
A pergunta teima em sua mente, repetindo-se como uma corrente que se recusa a quebrar.
Enquanto olha pela janela, o céu começa a escurecer. O vento sopra forte lá fora, levantando folhas e poeira, prenunciando a tempestade que está para chegar.
Masaru Jigoku, eles o lançaram ao mar, pensa o velho, inquieto, os dedos trêmulos entrelaçando-se, clamando para Elum abençoar cada instante e cada ação do rapaz. E que os bem-aventurados sejam aqueles que não serão vítimas de seus ventos.
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