Índice de Capítulo

    Ao descer do carro no quarto distrito, Yami sente uma leve brisa fria no ar, algo que sempre o deixa mais alerta.

    Ele caminha em direção ao edifício, observando a fachada desgastada e, ao se aproximar, seus olhos se estreitam em uma expressão de decepção.

    O prédio é modesto, sem qualquer indício de que ali more Masaru, o maior exorcista de sua época.

    “Que piada”

    Pensa, refletindo sobre o salário exorbitante de Masaru, que supera os quinhentos mil ienes por mês. A discrepância entre o dinheiro e o ambiente ao redor o incomoda, esperando algo mais imponente, mais digno da fama de um celeste.

    Ao subir as escadas de concreto, chega ao apartamento número 25. A porta entreaberta revela um tapete sujo, manchado de barro. Ele hesita por um momento, considerando o quão descuidado o lugar parece.

    “Que espelunca…”

    Resmunga mentalmente, embora ele próprio não tenha muita moral para criticar, sendo o tipo de pessoa que raramente se importa com ordem e limpeza.

    Quando está prestes a bater na porta, ela se abre completamente, revelando Arthur. O encontro é inesperado. Yami fixa o olhar no rosto dele, como se estivesse vendo um fantasma, notando algo diferente. O brilho nos olhos, antes cheios de vida, agora está apagado. Há uma frieza e amargura ali que ele não esperava.

    Mas o que mais o choca é a percepção súbita de que vê um reflexo de si naquela expressão vazia.

    — Oi… Lewys — diz Arthur, enfiando as mãos nos bolsos, com a voz vacilante. Não é do feitio de Yami sentir-se tímido, mas a situação parece exigir isso.

    Arthur, com uma postura pesada, apenas assente com a cabeça e responde apressadamente: — Eai, cara? — Ele se afasta alguns passos, apoiando os braços no parapeito do corredor e encarando o horizonte com uma expressão distante.

    — Tá tudo bem com você? — pergunta Yami, apesar de já saber a resposta.

    — Por que não estaria? — Arthur não o olha, apenas fixa o olhar no céu, como se estivesse buscando respostas que nunca virão.

    Antes que ele possa responder, Amai aparece à porta, segurando uma xícara de chá. Ela se acomoda no sofá com uma serenidade incomum, seu olhar pousando suavemente sobre ele.

    O clima é mórbido; de um lado, a calmaria da garota, e do outro, a indiferença do rapaz. Dois polos distantes, mas tão próximos.

    — Yamasaki… oi… por que não entra? Hein? — Sua voz é suave, quase pacífica, enquanto toma um gole do chá. Mais ao fundo, Masaru, de pé e com um sorriso brincalhão, o saúda despretensiosamente.

    — Olha quem chegou, o namoradinho da Shirasaki… Que prazer te rever! — brinca, mas há um brilho provocador em seus olhos.

    Yami entra com certa hesitação, suas pernas pesadas enquanto se senta no sofá laranja que destoa do resto da decoração.

    “Que decoração mais caótica…”

    Pensa, desviando o olhar dos móveis brancos e da mesa de centro preta.

    — O que foi resolvido até agora? — pergunta, já antecipando que a resposta não será do seu agrado.

    — Masaru quer criar uma armadilha… algo idiota… — responde Amai com um suspiro.

    — Não é idiota! — retruca Masaru, com convicção. — Nosso alvo tem padrões. Ele sai casualmente à noite e caça exorcistas. Nos últimos dias, oito foram mortos, mas só temos quatro corpos. Os outros quatro… sumiram… ou quase!

    — Como assim “quase”? — Yami franze o cenho.

    — Foram encontrados pedaços… uma perna masculina, mãos femininas… tudo com marcas de mordidas. Pode ser um canibal. Hazan e os outros foram encontrados com as mesmas marcas! — Masaru explica, quase divertido com a situação.

    — E seguindo as informações de Kryntt, sabemos que Hazan foi morto por Rasen. Já temos um padrão… — completa Amai. — Ele enfrenta, assassina e devora exorcistas!

    Yami cruza os braços, tentando processar aquilo.

    — Tá… o cara é um maluco canibal. Mas qual é a armadilha?

    Masaru, com um sorriso confiante, responde: — Vou desafiá-lo em rede nacional. Rasen e eu já tivemos nossas diferenças no passado, quando éramos exorcistas de mesmo grau. Isso vai tirá-lo do sério. Farei um pronunciamento e veremos se ele morde a isca. Não temos nada a perder e, no mínimo, capturamos pistas! O que acha?

    — Que… maluquice… — Amai, murmura, repousando a xícara de chá com um olhar cético. Não é a primeira vez que ouve isso, mas… — Você é o líder. Eu não tenho muito o que dizer.

    Yami olha para ela, surpreso. Amai, que sempre foi assertiva e lutou pelo que acreditava, parece conformada, o que o incomoda.

    — Entendo… — Yami pega alguns papéis na mesa de centro, contendo localizações, provas e informações sobre o tal canibal. — Demônios o ajudaram a roubar um objeto amaldiçoado… Você acha mesmo que ele parará tudo para aceitar um x1? E deixar um tal plano maligno para trás?

    — Ele é louco, como eu. Por que não? — Masaru dá uma risada despreocupada, tão natural que até Yami, cético como é, tem que admitir que a lógica torta faz algum sentido.

    Arthur, que permaneceu em silêncio, agora se afasta em direção às escadas.

    — Bem… se essa ideia maluca não funcionar, me chamem! — Seus olhos se encontram com os de Yami por um breve instante, como se estivesse deixando uma mensagem não dita.

    Amai responde casualmente, misturando suas palavras com as de Masaru, como se a reunião não passasse de uma mera formalidade. Ela, de repente, dá um tapa leve nas costas de Yami, o som ecoando suavemente no ambiente silencioso. A xícara de chá já está vazia, e sua expressão denota certo tédio.

    — Me dá uma carona? — pede ela, tentando parecer despreocupada, mas com um leve toque de impaciência na voz.

    Yami pisca, surpreso.

    — Ah, não… veio de carro?

    Amai solta uma risada nervosa.

    — Nah… — Ela parece desconfortável, algo que chama a atenção de Masaru, que, sem perder tempo, resolve adicionar uma pitada de sarcasmo à conversa.

    — Não sabe? — interrompe, rindo profundamente, revelando que sabe mais do que aparenta. — Essa daí fez o carro dela voar!

    Enquanto Masaru agarra a xícara vazia dela, ele estala o pescoço casualmente, como se estivesse se preparando para o que segue.

    — Enfim, vejo vocês depois… Bolarei um plano. Se tudo der certo, amanhã já estaremos com a execução em andamento! — O entusiasmo na voz é quase contagiante, mas a expressão amarga de Amai indica que ela não compartilha da mesma confiança.

    — Confia… — murmura, claramente irritada. Sem se despedir, ela sai da sala, suas passadas firmes ecoando no corredor, e Yami apenas a segue, ligeiramente atordoado com a súbita mudança de humor.

    — Tá… bem, falou!? — Yami lança um olhar para Masaru, sem saber como responder à situação. Assim que sai, corre atrás de Amai. — Caramba… — murmura, um pouco sem fôlego.

    Amai, claramente aborrecida, responde com tom mordaz: — Não comenta! Já foi, já passou… — Sua raiva é palpável, irradiando-se dela com uma intensidade surpreendente.

    Yami, por instinto, cala-se, sabendo que não é sábio provocá-la quando está assim.

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    Nota