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    Você já ouviu os sussurros de uma vítima? Não qualquer murmúrio, mas aqueles que se retorcem no abismo entre o desespero e a agonia? Quando o orgulho e a inocência são corrompidos por uma criatura que só busca seu prazer insaciável e grotesco?

    Não?

    Não importa. Poucos ouvem. Eles são engolidos pelo vazio — gritos sufocados, ruídos tênues que morrem antes de nascer. São gemidos abafados, como o suspiro de um moribundo, que se perdem na escuridão onde ninguém ousa olhar.

    O suor escorre pela pele dela, os cabelos emaranhados grudam à carne quente e úmida, enquanto a madeira da mesa geme sob a pressão dos corpos. Os pés, retorcidos, estalam. O corpo, reduzido a um receptáculo de dor, estremece. E, entre os espasmos do tormento, emerge o sussurro hediondo de satisfação — não dela, mas da besta que a possui.

    Se houvesse um voyeur a testemunhar, o cenário seria grotesco: olhos inchados de lágrimas e borrões de maquiagem, escurecidos pelo horror que ela não consegue verbalizar; lábios secos e rachados, uma boca tão ferida que qualquer palavra morre antes de ser pronunciada. Horas de tortura sugam sua força, deixam-na frágil, subjugada no breu total, e às suas costas, a silhueta da criatura se ergue.

    Três metros de puro terror, um colosso envolto nas sombras, pulsante de malícia. Ela, em contraste, é apenas um fragmento quebrado de humanidade, tão pequena sob a monstruosidade. Suas unhas, já despedaçadas, sangram enquanto afundam na madeira, tentando desesperadamente agarrar-se à realidade. Seus olhos se apagam aos poucos, e, como em um pesadelo sem fim, ela sente o gosto metálico e pútrido do próprio sangue encher sua boca. Ela o vomita, um líquido espesso e denso, que traz consigo o cheiro da morte e o sabor do horror.

    E os gemidos dissonantes? Eles são deformados, distorcidos, como o último brado de um cavalo prestes a ser abatido.

    Quando a porta da cozinha é arrombada, o som ecoa na casa como um grito, enquanto os três presentes ficam paralisados em um instante de puro horror.

    O baque reverbera pela alma, como o estalo final de algo quebrando… As faces congelam em expressões de surpresa e desespero, os olhos arregalados e as bocas semiabertas, como se o ar tivesse sido roubado dos pulmões.

    Kryntt, no entanto, sente algo além do choque. O nojo sobe por sua garganta, ágil e corrosivo, ao ver a criatura diante deles.

    O demônio que toma forma ali não é uma simples aberração; é um pesadelo encarnado. Um cavalo com chifres curvados como lâminas, um ser deformado pela maldade. Seus cacos negros jazem espalhados pelo chão, reluzindo à luz pálida, enquanto as patas da frente esmagam as costas da mulher nua e em colapso. Ela treme, a pele marcada de hematomas, a respiração fraca e irregular, como se a vida estivesse sendo sugada de seu corpo.

    — Merda! — Hazan pragueja, o coração acelerado batendo contra suas costelas enquanto ergue o torso, lutando para absorver o que seus olhos veem. O horror tenta paralisá-lo, mas o instinto de sobrevivência o força a agir. Rasen, porém, é mais rápido, mais preciso.

    — Transmutatio materiae et status! — A voz de Rasen corta o ar como um relâmpago, os dedos se movendo com precisão. O poder que ele invoca distorce o espaço ao redor, criando uma pressão de ar que quase esmaga a besta.

    Mas o demônio, como se desdenhasse da tentativa, se metamorfoseia. De um equino profano, torna-se uma serpente monstruosa, uma criatura de escamas iridescentes que rasteja velozmente pelas paredes, sumindo na escadaria e se lançando para o andar de cima.

    — Não vamos deixar ele fugir! — Hazan grita, a voz rouca pela urgência, lançando-se atrás da criatura.

    Sua aura se expande como um manto de guerra, traçando o caminho da entidade como um predador farejando sua vítima.

    — Kryntt? — Rasen tenta chamar o amigo, pegando seu ombro em uma tentativa de trazer racionalidade à situação, mas é inútil. Enquanto Hazan avança, insensível a tudo, como se o mundo à sua volta estivesse se desfazendo em um borrão de ódio e propósito. Kryntt, no entanto, está preso ao chão, após perder as forças das pernas, congelado por algo muito mais profundo que medo.

    Ele olha para a mulher, para o corpo destruído dela, e o que vê o dilacera. O choque está estampado em seu rosto, mas o horror é ainda maior, porque nos traços da mulher, ele reconhece algo que o devasta: sua irmã.

    — Ellen? — A palavra escapa de seus lábios como um sussurro, despindo-o de qualquer resquício de autocontrole, uma lâmina que corta sua mente em pedaços.

    Sua falsa realidade desmorona quando, acima, uma explosão sacode a casa. O chão treme como se o inferno estivesse prestes a se abrir, e o som é tão brutal que parece que o teto colapsará sobre suas cabeças.

    — Ele é forte! — Hazan emerge do caos, cuspindo sangue enquanto cai na rua, pousando apenas com a força de suas pernas. Suas roupas estão rasgadas, queimadas em partes, e seu corpo treme de dor. Rasen também mal consegue se manter de pé, ofegante, com a respiração cortada após a explosão. As paredes superiores da casa foram consumidas pelas chamas, reduzidas a cinzas, como se a morte em pessoa tivesse passado por ali.

    — Ele é mais forte que a calamidade da seca… Se fosse qualquer exorcista abaixo do grau IV, seria fatal! — Rasen arfa, suas palavras como uma sentença de morte.

    Então, a entidade se revela. O demônio desce das sombras, emergindo como uma visão do abismo, grotesco e horripilante. Seu corpo deformado é uma paródia de todas as criaturas que já caminharam pela Terra. Seus olhos são vazios, negros como o vácuo do espaço, e entre seus lábios, uma língua nojenta serpenteia, lambendo a própria pele, como se saboreasse o medo que exala da casa.

    — É? Que tolo, humano, eu não ataquei para matar! — A voz da besta é uma afronta, mas carrega um peso inominável.

    Ele se ergue diante deles, nu, o corpo marcado por cicatrizes de lâminas. Suas pernas são como as de um cavalo, e uma cauda de golfinho balança em suas costas, enquanto uma barbatana corta-as. Orelhas felinas adornam sua cabeça próxima aos chifres. Ele é um amálgama de tudo que é profano e, diante de seu poder, até o ar parece pesado demais para respirar.

    O prazer sádico do demônio é palpável, pairando no ar entre seus lábios repugnantes. Ele já imagina as mortes que causará, seus olhos predatórios vasculhando o local, saboreando o terror nas expressões de suas futuras vítimas. Está certo de seu domínio, quando, de repente, sente algo atrás de si — uma mão tentando agarrá-lo com força e velocidade.

    A reação do demônio é instantânea. Com uma agilidade que desafia a lógica, ele desvia como um raio, os pés mal tocam o chão antes de despir o telhado da casa vizinha com a força de seu movimento, destruindo-a em segundos. Ele se vira e vê Kryntt encarando-o com olhos que agora parecem pertencer a uma fera.

    A aura do demônio se ergue como um predador enjaulado, ameaçador e intenso.

    “Quase não o percebi… o que ele iria fazer?”

    O demônio pensa, o coração acelerado, tentando manter a pose. Mas mal tem tempo de processar a situação antes que um vendaval de pura energia seja disparado por Rasen. O impacto é devastador, um turbilhão de poder que quase derruba a casa ao lado. A entidade tem que voar para se esquivar, revelando enormes asas de morcego que se abrem com um estalo sinistro, batendo com tal força que o som reverbera como um trovão distante. As asas criam correntes de ar tão fortes que o simples bater delas faz as árvores próximas se curvarem.

    Hazan, rápido como uma lâmina, intervém, freando o golpe que poderia ter causado ainda mais destruição. Seu olhar está fixo nele, com uma mistura de receio e frustração, a tensão entre os dois evidente.

    — Não seja imbecil, Rasen! — Hazan rosna, sua voz carregada de exasperação. — Isso aqui é uma área residencial, tem pessoas vivendo aqui! Quer ser responsável por mais mortes?

    Suas palavras são como um tapa na realidade, duras, mas absolutamente necessárias. A destruição já é suficiente, e o caos em torno deles deixa claro que qualquer passo em falso pode condenar inocentes.

    Mas, mesmo assim, o futuro messias balança a mão com desdém, a raiva tomando seus olhos.

    — Certo, certo! — Ele responde, o tom seco, mas firme. — Mas nosso foco agora é eliminar aquilo ali!

    Os três se voltam para a criatura ao mesmo tempo, seus olhares carregados de tensão, como se estivessem à beira de um precipício.

    O demônio, agora pairando acima das casas daquele bairro residencial, parece ainda mais monstruoso, um colosso de escuridão, suas asas batendo devagar, mantendo-o no ar.

    O confronto final é iminente!

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