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    As cenas de destruição são transmitidas do alto, através da lente de um câmera-man a bordo de um helicóptero, que paira sobre o caos. O vento produzido pelas hélices mistura-se com a poeira que sobe do solo devastado.

    Cinco horas já se passaram, e o repórter que acompanha narra a sequência angustiante de mais uma catástrofe de proporções inimagináveis…

    Após o impacto que ergueu o feixe de luz, os destroços choveram sobre a cidade, como fragmentos de metal e concreto lançados ao ar com tamanha violência, que… Carros foram esmagados como se fossem brinquedos, as casas ao redor desabaram sob a pressão devastadora, e por isso um buraco colossal se abriu no coração do bairro, engolindo tudo ao seu redor.

    A energia negra, motor da explosão, é a força mais opressiva que há, e ainda pulsa no ar, deixando nada além de escombros e um rastro de morte por onde passou…

    “Mais de quinze pessoas mortas…”

    Ecoa a voz do repórter, suas palavras impregnadas de impotência.

    “A resposta da Ordem é a mesma de sempre, dizendo que o caso não está no escopo deles… Quantas mais morrerão até eles tomarem uma atitude? São sempre as mesmas desculpas.”

    A voz dele fraqueja, como se estivesse esgotado pela repetição dessas tragédias, até que a tela da TV se apaga abruptamente.

    No quarto de hospital, onde o silêncio paira pesado, Seiji Watanabe desliga o monitor, deixando apenas o eco da dúvida no ar. Ele se vira para encarar os três sobreviventes, suas expressões refletindo a gravidade da situação.

    — O que aconteceu? — Sua voz é firme, mas há uma exaustão evidente em suas palavras. — Poderiam, ao menos, me explicar?

    Hazan, com os lábios secos e a voz trêmula, tenta responder, mas apenas um murmúrio escapa. Ele olha para o chão, a culpa estampada em seu rosto.

    — Rasen… — começa Kryntt, o loiro que parece menos ferido, embora suas mãos estejam enfaixadas. — Ele exagerou. Usou sua técnica inata para liberar aquela energia explosiva… a mesma que a besta lançou contra nós. Hazan tentou avisar, mas…

    — Não foi só culpa dele… — interrompe Hazan, a voz falhando em frustração enquanto tenta encontrar palavras para defender seu parceiro. — Aquele demônio… não tínhamos como pará-lo… — A sensação de impotência preenche o ambiente, sufocante.

    Rasen, por outro lado, permanece em silêncio. Ele cerra os punhos, afundando-se ainda mais em seu próprio conflito interno, sem nem tentar se justificar.

    Seiji suspira profundamente, passando a mão pelo rosto.

    — Entendi. Independentemente de terem ou não conseguido, o dever é o dever. Apesar de não sermos heróis, o heroísmo é o caminho que nos cabe seguir. A besta tinha uma vítima… agora, por causa dessa escolha, ela tem dezesseis. — Ele olha para a porta, os ombros pesados pelo peso da responsabilidade. — Nossa reputação… é isso que importa. Mais que nossas vidas. A humanidade vive em casas de vidro, e nós somos aqueles que garantem que essas casas não desmoronam. Por isso, aplicarei uma punição aos três!

    — Sim, senhor… — respondem Kryntt e Hazan, em uníssono.

    — E você, Hazan. Como líder, deve buscar a verdade acima de tudo. Não deixe que a lealdade cega o impeça de ver os erros! — Ele se vira para Rasen. — E você, como exorcista, deve agir com razão, mesmo quando o caos tenta tomar conta… Afinal, não somos apenas homens lidando com o sobrenatural, tu és um revivido da morte e dela não deves temer!

    Suas palavras ecoam no silêncio pesado do quarto, antes que ele saia, batendo a porta com firmeza. O impacto seco reverbera como o fim de um julgamento. Eles ficam ali, sozinhos, imersos no silêncio de suas próprias falhas.

    Rasen, que até então se mantivera em silêncio, finalmente resmunga, com um tom amargo: — Equipe… balela…

    — Rasen, por favor! — Hazan exclama, apertando os olhos em frustração. — Não podemos simplesmente ignorar isso!

    E Kryntt, que se mantinha quieto até então, explode.

    — Você vai mesmo ficar irritado com a punição? Pessoas morreram, caramba!

    Mas sua raiva rapidamente se dissipa e sua voz volta ao tom brando de antes. Seu peito não o deixa crescer da tristeza ao ódio.

    — Chega. Vocês dois! — Hazan os interrompe, tentando colocar fim à discussão. O silêncio que se segue é cortante, como um divisor de águas que deixa para trás as últimas faíscas de unidade.

    Os danos reais só são sentidos naquela tarde, dois dias depois do incidente. Uma tensão pesada paira no ar, como se o mundo ao redor estivesse prestes a desmoronar.

    — Então, é isso? Vai mesmo sair? — Hazan pergunta, sua voz carregada de incerteza e fadiga. Eles estão em um parque deserto, o sol se pondo no horizonte, tingindo o céu de tons alaranjados. Hazan e Rasen estão sentados em um banco enferrujado, enquanto o loiro, imóvel, mantém-se encostado em uma árvore, o rosto oculto pela sombra das folhas.

    — Estou de saco cheio. Vocês sempre implicam comigo, com o que faço, com o que penso. Chegou a hora de trabalhar sozinho… — A voz de Rasen é fria, sem qualquer traço de hesitação. Suas palavras cortam como lâminas afiadas, mas carregam um peso silencioso.

    — Você só quer liberdade para fazer merda. — O loiro responde, os olhos distantes, carregados de um cansaço profundo, como se sua alma estivesse em frangalhos. — É até melhor que saia… — Ele olha para Hazan, esperando algum tipo de confirmação. — Não acha?

    Hazan suspira pesadamente. — Merda… Vocês dois nunca iriam se dar bem, né? — Ele levanta uma mão, como se hasteasse uma bandeira branca invisível. — Se temos tantas diferenças, talvez seja melhor assim… Mas, Rasen, tem certeza de que esse foi o problema? Você sabe o que fazemos, sabe qual é nossa missão. Ou até isso te deixa em dúvida?

    O futuro messias se ergue com um ímpeto súbito, como se as palavras de Hazan tivessem acendido uma chama dentro dele… mas qual chama?

    — Vocês não entendem, não percebem! Acham que devemos seguir as regras deles? Caramba, olhem o que fazemos! Não somos como eles, mas ainda assim vivemos à sombra da ética deles. Será que somos bons o suficiente para cometer os mesmos erros? — Sua voz ecoa no parque vazio, carregada de fúria e frustração. — Eu não tenho nada contra você, Hazan, mas Kryntt… — Ele se vira, o rosto agora visível, frio como gelo. — Até quando vai se culpar pela morte daquela pessoa?

    Aquelas palavras atingem o loiro como um soco no estômago. Ele engole seco, os olhos nublados de dor, incapaz de responder, a sombra de uma culpa inescapável pairando sobre ele.

    — Então é isso… um adeus. — Hazan quebra o silêncio, sua voz agora é um sussurro resignado. Ele sabe não haver mais nada a dizer, que aquele será o último diálogo entre os três.

    Não é apenas uma despedida física, é o fim de algo maior.

    Naquele momento, sente uma parte de si desaparecer, sua fé nos outros se esvaindo lentamente, enquanto Kryntt… já está morto por dentro.

    E não é apenas pela despedida que os pensamentos do loiro vacilam. Enquanto tenta se afastar da verdade amarga que o consome, sente o peso sufocante da proximidade com seu agora ex-parceiro. O desejo desesperado de se distinguir, de ser algo além da sombra rebelde do outro, o aprisiona em um ciclo. Quem ele é? O que realmente deseja?

    Cada passo que dá em direção à liberdade expõe o espelho sombrio de sua própria transformação, refletindo uma realidade incômoda: ele não só falha em se diferenciar, como também se perde ao longo do caminho.

    Este mundo é injusto, e o dever que ele carrega, supostamente “bom”, irá desmoronar. E, quando isso acontecer, perceberá que o sofrimento nunca terá fim.

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