Capítulo 170 – Pôquer
À medida que a noite cai, o silêncio toma conta do covil dos “vilões”. O ar parece denso, sufocante, enquanto Liliel, com sua leve névoa presencial, preenche o espaço.
O cheiro de enxofre, mais intenso que o habitual, anuncia sua presença e a destaca entre os demais demônios.
Rasen está de pé ao lado da mesa de metal, onde antes comia, observando os quatro subordinados se ajeitarem. O tédio os corrói e, embora o lugar esteja cheio, a sensação de espera interminável é palpável. Gallael já havia avisado que o plano só aconteceria no dia prometido!
Então, eles precisam matar o tempo, antes que o tempo os mate…
“Será mesmo?”
Rasen pensa, jogando-se na cadeira da cabeceira e cruzando os braços, como se estivesse prestes a rir da situação absurda que iria propor. Ele olha para os demônios, cada um com uma expressão diferente, e abre um sorriso astuto.
Ao seu lado, Jahiel nota o gesto enquanto morde os lábios, mas o tédio é tão forte que suprime qualquer desgosto que ela sinta. Apenas observa.
— Vamos lá… — continua, arrastando as palavras com uma mistura de sarcasmo e cansaço. Ele quebra o silêncio, puxando um baralho do bolso e murmurando: — Já que a chefa não vai deixar a gente sair, que tal um joguinho?
— Jogo? — Beheel pergunta, sem compreender completamente o significado da palavra.
Certos termos mundanos são desconhecidos para seres que habitaram apenas o mundo astral por tanto tempo…
— É… vou explicar!
Por mais irreal que a cena pareça, Rasen está decidido a passar o tempo que resta até o dia decisivo jogando “pôquer”. Afinal, as ordens superiores são claras: nada de saídas noturnas até que tudo esteja pronto.
Ele embaralha as cartas com precisão, que arranjou após vasculhar cada canto daquela dimensão temporal. O som rítmico do embaralhar ecoa nas paredes úmidas do covil. Ao distribuir as cartas, seus olhos brilham com uma centelha de divertimento.
— Pôquer… é simples — começa Rasen, batendo levemente os dedos na mesa enquanto observa os demônios com o canto dos olhos; é o momento de ser didático. — O objetivo é formar a melhor combinação de cinco cartas. Você recebe duas, e as outras cinco ficam no centro da mesa, viradas para todos.
Os demônios assistem com expressões de leve curiosidade, enquanto ele fixa a atenção em cada um deles, mudando o foco a cada palavra proferida, tentando perceber se estão compreendendo. O grandão, no entanto, é o mais alheio, encarando os outros com incredulidade sobre o que estão prestes a fazer.
— As rodadas de apostas começam após a distribuição e, então, meus amigos, entra o verdadeiro jogo — continua, com a voz mais baixa, quase conspiratória. — Não se trata apenas de ter a melhor mão, mas de convencer os outros de que você tem… ou fazer com que eles acreditem que não têm chance.
Jahiel inclina a cabeça, tentando entender o conceito. Enquanto ele sorri, empurra algumas moedas para o centro da mesa.
Essas seriam suas “fichas”…
— Você pode apostar, passar ou blefar. E, se for bom, o blefe é onde você os destrói. Às vezes, a carta mais fraca pode fazer você ganhar… se souber como jogar.
Com todos prontos, Rasen distribui as cartas e tenta dividir 50 ienes em moedas para cada um. Sendo cinco jogadores, isso significa dez moedas para cada um, entre moedas de 1 e 5. Lançando um olhar provocativo aos demônios, ele abre um leve sorriso, como se o pôquer fosse mais do que um simples jogo para passar o tempo. É uma nova forma de mostrar quem realmente sabe manipular… ou quem é o melhor entre todos os que estão sentados ali!
— Então, quem vai ser o primeiro a cair?
Ele se apresenta extravagante, mesmo em um simples jogo…
— Hm… isso parece confuso… e inútil — murmura o grandalhão, com sua voz grave e monótona.
No entanto, por mais inútil que fosse para ele, move suas fichas, parecendo mais curioso em imitar o gesto do messias do que realmente interessado em jogar.
Já Jahiel, por sua vez, inclina-se para frente, os olhos vermelhos fixos nas cartas. Ela não consegue conter uma risada suave que escapa de seus lábios, demonstrando que rapidamente compreende a essência do jogo.
— Então… eu só preciso fazer vocês pensarem que tenho a melhor mão… mesmo quando não tenho, certo? — Ela pergunta, e ele solta uma risadinha ao ouvir. E que confirma com um aceno de cabeça após jogar uma ficha para o centro da mesa. Apesar de seu mau-humor, essa atitude só a anima; uma competição sempre lhe cai bem. — Isso parece divertido. Vejamos quem é bom de mentira por aqui!
Vassael, o mais silencioso e novo dos três, permanece imóvel. Seus olhos vermelhos estão fixos na mesa, avaliando as palavras de Rasen com um ar de absoluto desinteresse.
Mesmo quando ele pega as cartas, seu rosto permanece impassível…
— Se não posso matá-los, jogar cartas terá que servir, por enquanto! — fala com uma indiferença quase agressiva, como se o simples ato de se entreter fosse uma ofensa. Coloca as fichas no centro da mesa, mas seus movimentos são mecânicos, sem prazer evidente.
Rasen observa as reações deles com um sorriso sutil, a excitação mal contida.
— Ah, vocês vão aprender rápido… ou serão engolidos! — provoca, seus olhos faiscando de expectativa.
E Moloel, sentado mais afastado na penumbra, permanece neutro, como se estivesse alheio ao jogo que começa a se desenrolar à sua frente.
Ele cruza os braços lentamente, soltando um suspiro silencioso.
— Isso me parece uma perda de tempo… — murmura, sem esconder o desdém. — Mas, se é pelo bem de todos, não vou recusar!
Ele pega as cartas e um punhado de moedas com um movimento lento e despretensioso, erguendo-se da mesa sem sequer olhar para elas. Ao se sentar, a cadeira protesta sob seu peso, quase quebrando sob a pressão.
Foi nesse instante, quando todos se concentraram no jogo, que o messias, percebe que Liliel já não os vigiava desaparecendo do sofá onde estava os encarando. Para onde, ou o que, a princesa recém-liberta do submundo gostaria de fazer?
Não sabia, mas se concentrava em deixar aquilo claro, forçando uma risada.
“Se eu sair… todos vão querer. Enfim, melhor obedecer aquele chão! Nada de rua!”
Esbravejou em sua mente, agarrando as moedas, tantas, e as jogando na mesa, chamando a atenção de todos para si.
— Que vença o melhor! — ecoa de seus lábios.
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