Índice de Capítulo

    O sangue se acumula lentamente ao redor do corpo inerte de Yamasaki, criando uma poça impura onde a luz fraca reflete o vermelho com um brilho quase profano. O silêncio opressor domina o ambiente por horas, até que, de repente, o corpo se move. Ele se ergue, não com a serenidade de quem desperta, mas com a violência de alguém arrancado de um pesadelo sufocante. A morte o toca novamente, pela terceira vez em dias. Num estalo, ele se levanta como um morto-vivo, respirando irregularmente, o coração batendo como um tambor, como se estivesse emergindo de um afogamento.

    Não é Azaael quem se ergue, como esperado, mas Yami.

    — Por que você fez isso, caralho? — grita ele, a respiração descompassada, a voz carregada de frustração e ódio latente que o corrói por dentro. Ele cospe o sangue preso na garganta enquanto tenta organizar os pensamentos. — O Azaael não quer falar com você, droga… Ele nem está aqui! Você é maluca ou o quê?

    A mulher à sua frente o observa, imóvel, como se ponderasse cada palavra. O silêncio que cai entre eles é cortante, e o rosto dela exibe uma calma perigosa, como a de alguém prestes a perder o controle. Os punhos de Yami se cerram, sentindo o ar ao redor se tornar pesado com sua presença descomunal.

    — Como assim? — ela finalmente fala, a voz baixa, mas carregada. — Por quê?

    — E eu vou saber? — ele responde, bufando enquanto se joga no sofá, limpando o sangue dos lábios com as costas da mão. A impaciência fervilha sob sua pele, com o desconforto crescente. — Talvez ele esteja com vergonha… ou algo assim. Se veio atrás dele, sabe como é…

    Ela franze o cenho, levando a mão ao queixo, pensativa, analisando a situação com mais profundidade do que Yami gostaria. O pensamento ecoa em sua mente: “Por que ele é tão importante para essa criatura? Será que o amor realmente existe entre eles?”

    A mente de Yami entra em alerta quando o demônio dentro dele, Azaael, emerge como um eco da razão. Ele sempre soube o que aquela expressão significava: o colapso estava próximo.

    “Pirralho… merda…”

    Azaael finalmente se manifesta, seu tom uma mistura de exasperação e desprezo. Yami sente o peso das palavras apertar seu peito como uma garra invisível. Ele precisava de uma saída. Uma mentira rápida.

    — Ele está com pouca energia negra… E agora que me matou, está ainda pior! — Um riso nervoso escapa de seus lábios. — Não pode voltar outro dia?

    A expressão dela muda subitamente, a fúria evidente em seus olhos. Ela dá um passo à frente, sua presença se torna mais ameaçadora.

    — Voltar outro dia? — ela repete, incrédula, abrindo as asas que mantinha contidas. — Eu não sei se terei outro dia, pirralho! Estou sendo vigiada… — A angústia em sua voz é palpável.

    — Bem…

    — Algum dia vou ter que matar pelos malditos, arriscar minha vida… e ele não entende? Ele não vê que cada segundo é precioso?

    Cada palavra dela faz a coragem de Yami murchar. Ele sabia que a verdade era mais complexa do que parecia. A energia sombria dentro dele se contorce, e Azaael está ciente de que aquela mulher é mais do que apenas uma ameaça física. Era algo mais profundo, mais pessoal.

    Sentindo-se encurralado, tenta se esquivar, levantando-se com um suspiro.

    — Ehr… — murmura.

    — Ehr? — Ela cospe a palavra, carregada de desprezo. Quase ergue o punho, mas para, tremendo de raiva. — Ele ouviu o que eu disse ou você vai continuar com essa cara de idiota me enrolando?

    O olhar dela faz ele hesitar mais uma vez, o peso da situação o esmagando. Ele sabe que Azaael está assistindo, rindo de sua hesitação. Mas havia mais em jogo do que apenas uma resposta.

    “Azaael?”

    Ele o chama mentalmente, esperando uma resposta imediata.

    “Calma aí, estou pensando…”

    A voz ressoa como um eco distante, contrastando com a gravidade da situação. Yami sabe que está caminhando em uma linha tênue. Ele, que não teme a morte, agora sente o peso das responsabilidades.

    “Sério que não pensou em nada? Ela está me dando medo…”

    “Que mulher não te dá medo?”

    Azaael responde com sarcasmo.

    “Idiota!”

    Yami retruca mentalmente, tentando esconder seu nervosismo.

    “Mas, espera, vamos parar de brincadeira… Estou com um medo bem sério, o que Luciel está tramando? Vai jogar sujo comigo agora?”

    Pela primeira vez, Yami nota a seriedade na voz de Azaael. O demônio, sempre irreverente, parece estar ciente de algo muito mais profundo do que Yami havia percebido até então.

    “Como assim? Explica…”

    A conversa mental começa a subir, enquanto as unhas do demônio arranham a mesa, ela se senta de pernas cruzadas.

    Yami pergunta, a ansiedade crescendo e o coração acelerado. Ele sente o ritmo mudar. Os olhos da mulher, que ainda os encara, parecem penetrar sua alma, como se soubesse que Azaael está presente, mesmo em “silêncio”.

    “Liliel…”

    O nome escapa de Azaael, agora com uma tonalidade de paixão, não mais seriedade.

    “Ela é mais do que uma peça nesse tabuleiro. Eu achava que Luciel a manteria intocável, devido a Asmael… ele é o pai dela. E claro, meu irmão…”

    Ele ri, mas não há humor em sua voz.

    “Mas parece que as coisas estão mudando. Se ela está envolvida, significa que a calmaria acabou. E meu porto seguro foi com ela.”

    Yami sente o impacto dessas palavras.

    “Liliel… uma moeda de troca?”

    A ideia o deixa inquieto. Ela é mais do que uma jogadora nesse jogo de poder entre entidades que ele não consegue compreender. Ela é uma variável que pode alterar tudo, e como Luciel a usa demonstra até onde ele está disposto a ir.

    “E o contrato?”

    Yami pergunta, tentando entender o quebra-cabeça.

    “”Sim, parte disso. O contrato, nossa ‘paz temporária’, tudo. Eu achava que teria mais tempo para elaborar uma saída, mas parece que agora estamos correndo contra o tempo. E sinceramente, estou começando a me perguntar se isso valerá a pena… ou se vai dar certo!”

    Há uma amargura na voz do demônio, uma dúvida que Yami jamais esperaria ouvir dele.

    Antes que ele consiga processar o peso das revelações, a mulher à sua frente começa a falar, cortando seus pensamentos.

    — Avisa esse medroso — ela diz, referindo-se a Azaael — que eu não vou aceitar que ele recue. Já sacrificamos muito pra estar aqui, e não temos mais pra onde correr! — Sua voz é firme, mas sem raiva, apenas uma certeza implacável. Ela se vira para partir, mas lança um último olhar, um sorriso sutil que Yami mal capta.

    — Ah…

    — Vou tentar ficar viva… tenta você também, idiota. E vê se consegue dar um pouco de juízo para esse pirralho, tá?

    Yami abre a boca para responder, mas as palavras morrem em sua garganta. Ele sente uma confusão, uma impotência que o consome. É como estar preso em uma teia de conflitos que mal entende, mas que já o sufocam.

    “Beleza, sua doida!”

    Azaael indaga seus pensamentos com um tom surpreendentemente sincero.

    “Vamos… daremos um jeito. E eu… eu te amo, sabia?”

    A vulnerabilidade na voz da entidade surpreende Yami. É raro ouvir algo assim vindo de Azaael, uma confissão genuína, sem sarcasmo… um lado dele que Yami nunca pensou em conhecer.

    Yami pisca, sentindo-se pequeno diante daquela troca de palavras inaudíveis. Mas antes que possa reagir, a mulher se lança pela janela com a graça de uma fera alada, como se estivesse destinada a voar.

    — Foi um prazer, pirralho… — ela murmura, sua voz já se distanciando na brisa noturna.

    Enquanto o ar frio invade a sala, Yami se deixa cair no sofá.

    — Que diabos… aconteceu?

    “Não pergunta…”

    Azaael corta, imerso em vergonha, enquanto Yami desmaia logo em seguida… de cansaço ou choque?

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