Capítulo 174 – “Fake Natty”
Em outra realidade, onde o tempo e o espaço se entrelaçam como reflexos distorcidos das decisões falhas das entidades, em espelhos dimensionais, um dos sete reis manipula além das barreiras do espaço-tempo, minando o coração de mais um…
— Realidades que você criou? — pergunta Gallael, sua voz carregando certa admiração, enquanto seus pés permanecem firmes sobre a fina camada de energia negra que separa o vácuo espacial. Esse lugar oculto está em algum setor do multiverso, onde criatura alguma poderia chegar sozinha…
O local se assemelha à colossal Árvore Primordial dos contos Regnianos, do povo do norte, cujas raízes tecem o destino dos mundos físicos em incontáveis realidades.
— Sim… — responde o rei, sua voz pesada com o peso de incontáveis falhas, ou seriam incontáveis vitórias? Desde quando ele se tornou um opositor indireto de seu senhor e irmão? — Você pode chamar de galeria de bilhões de fracassos… cada um, uma trilha que Luciel percorreu desesperadamente até alcançar este ponto. O último!
A morbidez em suas palavras é inescapável. E o príncipe, perplexo com os caos que suas palavras injetam em sua mente, observa o emaranhado de realidades abaixo, acima e ao redor, refletindo a perfeição e os erros acumulados… Seus olhos se detêm em um fragmento cristalino, uma imagem do paraíso: o mundo antes da corrupção do homem. Animais correm, a luz reina sobre os céus, e homens e mulheres vivem em paz e harmonia.
São vislumbres dos sonhos dos justos, um mundo simples, longe do material, apenas a liberdade da luz.
— São todos os mundos físicos completos? — pergunta, a dúvida cortando o ar, seus pensamentos tão afiados quanto sua espada, presa às suas costas. — Existem outras dimensões imateriais também?
O rei demônio se aproxima, pousando a mão pesada nas costas do príncipe, um gesto de intimidade que ele ignora e permite.
— Há outros mundos, sim. Não apenas físicos. Para cada aglomerado de realidades materiais, existe um correspondente astral interligado… Mas você não percebe esses mundos porque eles não colidem. O mundo astral é vasto, Gallael, imensurável, como um oceano profundo onde flutuam infinitas réplicas do que você conhece… Réplicas de nós e suas!
— Réplicas? — estreita os olhos, absorvendo cada palavra, incerto se o que ouve o levará a algum lugar. — Mas como essas réplicas nunca se encontram?
— Imagine jogar bilhões de moedas em um oceano. Qual a chance de duas caírem exatamente no mesmo ponto? — Asmael sorriu enigmaticamente, apreciando o momento de descrever o incompreensível. Apenas ele possuía a chave para decifrar as verdades ocultas de seu poder, segredos que pertenciam à escuridão. — Quase inexistente. É assim que o mundo astral opera — continuou, sua voz envolta em mistério. — Ele ressoa, é alcançado por meio da luz e da sombra. Cada frequência, de cada mundo, de cada ser, é ordenada de maneira única pela Ordem… a força que regula tudo que existe, e tudo que jamais poderia existir!
— Então, se entendi bem… sou apenas uma réplica? — A voz dele endurece, a tensão crescendo em seu tom.
— Não… — Asmael retira a mão de suas costas e começa a se afastar, as palavras que seguem saindo como lâminas, frias e meticulosamente calculadas ao longo das passagens que o forçaram a guardar essas verdades. — Ou, pior ainda, no seu caso… você é uma versão anterior de si. E foi enviada para um instante após…
Gallael dá um passo à frente, a inquietação se transformando em confusão, seus punhos cerrados em uma manifestação de frustração.
— Como assim?
Asmael se vira lentamente, o peso de suas palavras pendendo no ar.
— No seu mundo original, Gallael, você se rebelou. Matou seus irmãos, mas não se rendeu. Ergueu sua lâmina contra seu pai… sido morto por ele! — Cada frase é um golpe, a pior verdade que ele poderia ouvir. A crença em um laço com Luciel se desfaz como fumaça. — Trouxemos você de outra linha temporal, uma versão menos corrompida…
O chão parece desaparecer sob os pés dele, sua mente vacilando por um instante, traída pelas revelações devastadoras.
— Então… eu não sou quem pensei que era? Vocês manipularam minha mente? Criaram uma versão falsa de mim? — Sua voz falha, repleta de incredulidade e desespero, enquanto a realidade que ele conhecia desmorona ao seu redor.
O rei demônio sacode a cabeça com um gesto que beira a piedade.
— Não, Gallael. O que você não experimentou é chamado de sobreposição consciencial. Quando foi transportado para cá, a versão deste mundo já estava morta. A viagem entre tempo e espaço foi tão sutil que você não percebeu as alterações. Não foi manipulação, foi uma substituição não sensorial. Uma mudança imperceptível, mas real. E agora você está aqui, vivendo uma vida que nunca foi sua!
O príncipe opta pelo silêncio, o peso da revelação o esmagando, como se um manto de incerteza caísse sobre seus ombros. Asmael se afasta, tocando o espelho do mundo original, o primeiro a surgir naquele lugar. É uma superfície que reflete não apenas a realidade mais longínqua, mas a vastidão de infinitas possibilidades transformadas em diversos fins.
O príncipe permanece ali, perdido entre as raízes das realidades que jamais poderia compreender, sua identidade flutuando como folhas ao vento, à mercê das correntes de um destino que ele nunca escolheu.
— Eu e Luciel somos os únicos a manter nossas versões originais, porque essa corrida insana pelo controle só é possível por minha causa, e porque sua mente insatisfeita me ordenou a isso. Criamos esse genocídio multiversal! — ele tentou puxar sua mente até ali, novamente, buscando clareza em meio ao caos.
Quando o ar volta à garganta da entidade, ele sente a verdade das palavras de Asmael. Não eram meras réplicas de uma ordem, mas declarações carregadas de cansaço e exaustão…
— Você diz isso como se fosse um fardo… — responde, sua voz ecoando com uma mistura de compaixão e desconfiança, como se começasse a compreender o peso que carregava, um fardo que transcende a própria existência.
— Como? Mas é, Gallael. Acha que sou o mesmo cão de sempre? Acha que não perdi? Que não vi o que amei ser desfeito diante de mim inúmeras vezes? — Brada, a voz carregada de uma dor crua, como alguém que já não tem mais o que perder. — Seu pai… é como esses emaranhados de mundos, uma praga!
Foi decisivo, para o príncipe, entender por que estava ali e por que Asmael dizia aquelas coisas.
— Então, você me trouxe aqui em busca de um aliado, é isso? — pergunta, tentando compreender a profundidade da conexão que se formava entre eles.
— Exatamente. Na verdade, acho que você, de todos os que estão ao meu alcance, é o único em quem posso realmente confiar. Somos iguais. Você perdeu todos que amava, assim como eu, pelas mãos do imperador. Então, vai me ouvir? — Pressiona, sua determinação soando como uma música agridoce, uma melodia que começa a se tornar mais doce entre os lábios de Gallael após ser repetida.
A resposta do príncipe? Um aceno silencioso, uma aceitação cautelosa da proposta que se desenhava diante dele. Após a revelação esmagadora, ele precisava se agarrar a algo, um fragmento de esperança capaz de transformar o abismo de ódio e desilusão em algo maior. Ele não queria sentir aquilo de novo… A escolha entre lutar ou sucumbir pesava em seu coração, enquanto as sombras de seu passado se entrelaçavam com as possibilidades do futuro. Novamente, ele se via apenas como o filho servo de seu pai, preso em um ciclo de dor e frustração, mas agora, talvez, a oportunidade de redefinir seu papel estivesse ao seu alcance.
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