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    Abismo, escuridão, trevas… Cada uma dessas forças representa um aspecto fundamental da criação e destruição, o tecido e o desfiar da existência.

    A escuridão é o equilíbrio essencial, a sombra que nasce onde a luz cessa, representando o eterno ciclo entre o começo e o fim. Ela não é caótica, mas ordenada, sustentando a dualidade de todas as coisas. A escuridão é um contraponto sereno e inevitável à luz, o oposto que mantém o equilíbrio do mundo astral, tocando seus confins e regendo as vastidões entre o ser e o não-ser.

    As trevas, por outro lado, são a corrupção dessa sombra natural, uma distorção destrutiva que o mal, infunde no equilíbrio. Elas não são simplesmente a ausência de luz, mas uma fome incessante e insaciável que consome dimensões e universos inteiros. As trevas são fragmentos de um mal primordial, uma força corrosiva capaz de desintegrar a própria essência dos mundos.

    Já o abismo é algo ainda mais profundo: é o núcleo absoluto da destruição e da quietude onde tudo, por fim, repousa. É onde a morte se manifesta como uma entidade própria, e é onde o mal antigo e incontido é tragado e aprisionado. Esse vazio se confunde com a própria essência de Alum, o senhor do abismo, uma entidade maior e, ao mesmo tempo complementar. Ele representa a convergência final, onde vida e morte, luz e sombra cessam e se fundem em uma existência suprema e imutável.

    E atrás dele, Luciel atravessa camadas de realidade, cortando as fronteiras de universos e dimensões como lâminas de vento ao atravessar um lago. Em instantes infinitamente pequenos, ele chega ao território onde Alum, seu pai, repousa. Asas infernais — quatro, sublimes e ameaçadoras, como o próprio paradoxo entre graça e destruição — o levam ao solo das terras do Abismo, um plano existencial onde o material é transcendido e o espaço se define em frequências eternas e inatingíveis a seres físicos.

    Lá, sobre a colossal carcaça de uma serpente morta, jaz o imenso Alum. Vestido de seu manto negro como o próprio tecido do Abismo, a morte, transformada em espada em punho enquanto porta um olhar insondável e impaciente, observa o vazio, cercado por astros mortos e corpos de antigos servos, os demônios que caíram diante da impiedosa força do ciclo de existir.

    Esse é o território chamado Zona Fantasma, onde as sombras dos que existiram antes são meros espectros em um mar de poeira.

    Sem mover os lábios, a voz de Alum ressoa no vazio, grave e tremenda, alterando as partículas de poeira ao redor.

    — Quanto tempo? — A voz de Alum atravessa o vazio, reverberando como um trovão primordial nas profundezas do Abismo.

    Sua presença distorce o tecido do cosmos imaterial, esmagando a imatéria ao redor em poeira, reduzindo até os astros mortos a meras sombras de sua insignificância. Sua proximidade é devastadora, como um manto de escuridão que consome tudo, mas Luciel, de pé diante dele, mantém-se intacto apenas graças ao próprio poder protetor que emana da entidade.

    Ele hesita por um instante, as palavras queimando em sua garganta.

    — Meu senhor… Não me dotou com o dom da vidência. — Sua voz é um murmúrio que oscila entre temor e reverência, como se ele falasse diante de um deus que transcende o próprio conceito de existência. — Mas, se o destino assim permitir, tudo estará consumado em algumas semanas. Contudo, o que é o tempo linear para uma entidade que habita fora do alcance de sua sombra?

    Alum o observa com olhos como fendas de gelo e aço, a mesma frieza com a qual arrancou o braço de seu irmão, Regnum, em eras esquecidas.

    — E você também não é imortal, Luciel? — Sua voz corta como a colisão de astros condenados. — E mesmo assim, teme o futuro? Não se atreva a ser hipócrita, não comigo!

    Luciel engole seco, oscilando entre a fúria e a impotência diante daquela figura. Suas palavras são apenas um sussurro.

    — Perdoe-me! — Ele se ajoelha, a postura curvada, mas a cabeça ainda erguida, como se resistisse ao peso esmagador da presença da entidade mais aterrorizante que habita o mundo do criador.

    — Quantas vezes lhe disse? Neste mundo, você está sozinho! — O olhar de Alum atravessa-o, como se já soubesse a desculpa que viria em seguida. — E então, já se livrou das correntes que o mantêm cativo?

    O imperador desvia o olhar, uma hesitação profunda perpassando seus traços antes de responder, num tom abafado.

    — Estou… no processo…

    Então, a risada de Alum ecoa, uma risada fria, quase cruel, reverberando como gelo quebrando em um lago silencioso. Ele não conhece piedade; zomba de seus servos sem hesitação.

    — Processo? As correntes ainda o mantêm acorrentado, Luciel. Como a luz persistente que nos persegue desde a aurora dos tempos… e você ainda não percebe? Meu filho?

    Tomado por uma fraqueza sufocante, ele cai de joelhos, os olhos fechados e a testa quase tocando o solo aos pés de seu pai.

    Ele sente o desespero profundo de estar tão próximo de uma entidade cuja vontade é a própria definição de aniquilação. Aquela que aprisiona a própria morte entre os dedos e devora o mal com os dentes, como se fosse um banquete insignificante.

    — Perdoe-me… mas a ordem ainda está em vigor. Cada movimento precisa ser calculado com precisão! — Sua voz quase se desfaz em súplica. — Se falharmos, não haverá… uma segunda chance. É por isso que as correntes ainda me prendem. Mas elas estão afrouxando, meu senhor… juro!

    Mas Alum ainda o observa, frio como o vazio entre os astros nos céus, sua presença dominando o silêncio absoluto que tudo devora. Não há necessidade de palavras, pois ele sabe — que o verdadeiro poder não exige explicação.

    Naquele instante, o vazio é a resposta final.

    — Bem, eu… serei direto ao assunto, meu senhor, você poderia… — ele indaga, sua voz um sussurro cauteloso, enquanto seus olhos percorrem cada detalhe que compõe a majestade do ser diante dele.

    Afinal, tudo está apostado, cada palavra, cada gesto carrega o potencial de uma mudança irrevogável. Não há espaço para erros, nenhuma vantagem a ser desperdiçada… mas qual seria essa vantagem?

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