Capítulo 188 - A Exorcista Mais Astuta
— Tibi iram meam damno! — As palavras saem com rancor, malditas, e, ao serem pronunciadas, desencadeiam a tempestade de esferas negras que rasgam o ar em direção à exorcista.
Cada uma delas age como um presságio de destruição, traçando uma trajetória de pura hostilidade, concentrando-se apenas nela, como se o próprio caos houvesse escolhido aniquilar a única que ousara desafiar sua queda.
As esferas avançam com uma densidade esmagadora, comprimindo o ar ao redor, como se cada uma carregasse o peso de uma montanha. O estrondo de sua aproximação é ensurdecedor, ressoando como um trovão. Qualquer ser humano comum sentiria as pernas tremerem só por estar ali, à mercê daquele poder esmagador.
Mas Elizabeth… não, é qualquer ser humano.
Num impulso rápido, ela se lança para trás, o corpo se dobrando em um salto evasivo, contornando as esferas como um espectro. Ela sente o roçar da energia negra tão perto que os pelos de seu braço se eriçam, e o frio da morte percorre sua pele. Sem hesitar, ela se lança na direção da janela quebrada do quinto andar. O vidro estilhaçado cintila ao redor dela, os pedaços dançam como pequenos fragmentos de luz antes de caírem no vazio.
Ela mergulha, o som da destruição ecoando em sua fuga.
Ao tocar o chão, uma força devastadora irrompe do impacto. Elizabeth aterrissa mal, em um agachamento que força os músculos e ossos de suas pernas ao limite. A dor é excruciante, e ela sente os ossos cederem em resposta à brutalidade da queda, enquanto uma onda de impacto se alastra a partir de onde seus pés tocam.
“Não vai dar para brincar!”
Pensa, os dentes cerrados. Não há espaço para erros. Seus olhos se erguem para o céu, agora pulsando com o brilho obscuro das esferas. Cada ataque, quando explode, evapora o que estiver em seu caminho, transformando o ambiente em uma zona de guerra.
Vidros e fragmentos de concreto flutuam ao redor dela, despencando em cascatas de ruínas.
“Droga… o Jacir está sozinho!”
A preocupação golpeia sua mente como um relâmpago. Elizabeth cerra os punhos, e sua aura brilha, uma luz intensa envolvendo seu corpo, restaurando rapidamente as lesões e os ossos fraturados. A energia pura pulsa, reparando-a, mas ela sabe que o tempo é um luxo. Sem hesitar, ela se impulsiona para trás em um salto, lançando o corpo no ar e usando as mãos para frear, empurrando-se para cima com força.
Então, a ameaça se revela do seu hábil reflexo. Algo monstruoso irrompe do chão abaixo dela. Uma mão, grotesca e coberta por uma aura negra, emerge da terra como uma raiz, rompendo o asfalto em um tremor que faz as estruturas ao redor oscilarem. E então a criatura surge, exalando uma presença tão opressora que o próprio ar parece ressecado ao redor de sua forma.
O asfalto rasga, levantando-se como ondas petrificadas. A entidade se ergue, e seus olhos, dois pontos brilhantes de um carmesim gélido, se fixam nela com um ódio que ela não sente há tempos, como se enxergassem nela um desafio que não poderia ser tolerado.
— Você é bem confiante, hein? — a voz da entidade sussurra.
Mas não é a grotesca forma da entidade nem a escuridão opressiva ao seu redor que mais a inquieta. Até uma hora atrás, Elizabeth tinha certeza de que o dia se manteria claro.
As ruas estão desertas, completamente vazias, sem sinal de vida humana. O cenário é de um silêncio, e seus olhos aguçados, capazes de captar qualquer movimento até cem metros de distância, não detectam ninguém.
Agora, porém, algo estranho flutua no ar, uma sensação perturbadora.
“Será…?”
— Exatamente! — A voz da entidade interrompe seus pensamentos, com um sorriso malicioso. — Ainda estamos em meu território de caça, exorcista!
— Mas…
— São tão limitados, não é? — zomba a entidade, com um tom que transborda arrogância. — Vocês acham que podem me restringir, me controlar… Pois bem, eu destruí essa limitação. O horizonte de eventos deste lugar não é um prédio ou uma sala, mas… sou eu mesmo! — Sua risada reverbera, distorcendo a realidade ao redor deles. — Estamos fora do mundo físico e do astral. Lá fora, as pessoas apenas veem o caos! E sentem apenas os efeitos da nossa batalha!
Elizabeth estreita os olhos, frustrada.
“Ótimo… Ele ainda lê meus pensamentos.”
Ela ergue a mão, murmurando um feitiço quase num sussurro: — Transmutatio materiae et status!
Num movimento rápido, ela dispara um enxame de chamas que dançam ao seu redor, crescendo até se lançarem como uma tempestade de fogo sobre o oponente. Mas a entidade, com uma calma gélida, estende a mão e detém as chamas com um gesto. Os fogos vibrantes começam a perder a cor, escurecendo, contorcendo-se como se fossem corrompidos por uma energia obscura.
Em segundos, as chamas se tornam negras, sombrias, pulsando com uma energia negativa.
— Não adianta usar os elementos naturais contra mim! — A entidade ri, a voz pesada como chumbo, enquanto infunde as chamas com sua própria escuridão, dominando a energia espiritual de Elizabeth com uma facilidade assustadora.
Mas, apesar da desvantagem esmagadora, Elizabeth está sempre um passo à frente.
— É mesmo? — aparece ao lado dele, tão rápida que é impossível prever seu movimento. Antes que ele possa reagir, ela o acerta com um chute certeiro nas costas, lançando-o com brutalidade contra outro prédio. O impacto retumba pelo terreno, rachando as paredes da estrutura. — Melhor ficar atento! — murmura, o tom ácido.
Ela aproveita a chance, reunindo o que resta das chamas puras flutuantes ao redor e as condensando em uma esfera de fogo. Em um segundo, lança a bola de energia contra o corpo da entidade, causando uma explosão ardente.
— Minha velocidade de raciocínio é alta demais para conseguir ler com tanta precisão! — Elizabeth brada, com um brilho de triunfo nos olhos. Ela se move com uma segurança quase provocativa, desafiando a própria natureza do território sombrio em que está presa. — E mesmo que possa ouvir cada um dos meus pensamentos, manter um território de caça como este, manipular eventos sobrenaturais e ainda me atacar com seis braços requer uma capacidade de consciência além do imaginável!
Mas sua vitória é breve. De dentro das chamas, um feixe de trevas como um raio laser atravessa o ar, quase atingindo seu peito. Ela se abaixa no último segundo, mas sente o feixe raspar seu ombro, queimando-o com uma dor corrosiva e ardente.
Sem tempo para avaliar a ferida, salta para o alto enquanto o chão se transforma em um lago fervente de trevas, borbulhando como um breu vivo. A superfície negra consome tudo ao redor, manifestando tentáculos sombrios que chicoteiam em sua direção. Cada ataque, cada distorção reflete o domínio absoluto da entidade sobre aquele território.
Ele é o predador, e ela, forçada a lutar sob as regras dele.
“Se ele continuar atacando assim, sem pausas… vai ser game over para mim!”
Mas ainda há uma centelha de esperança — não qualquer esperança vaga ou ilusória. À frente dessa criatura, com um porte firme e uma expressão implacável, está ela, a exorcista mais astuta que já caminhou sobre Crea.
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