Índice de Capítulo

    Enquanto debatem filosofia e tragam goles de vinho, Masaru e Kryntt dividem uma mesa em um dos bares mais renomados do Primeiro Distrito. O ambiente é uma mescla de elegância e frivolidade, onde o preço exorbitante de oitocentos ienes por hora compra não só as bebidas, mas também a ilusão de sofisticação. Sentados frente a frente, o silêncio que paira entre eles é denso, impregnado pela amarga sensação de fracasso.

    — Sério? Achou mesmo que aquela porcaria ia funcionar? — Kryntt questiona, sua voz carregada de reprovação. — Você… já foi mais esperto, não acha?

    Enquanto diz isso, ele leva a taça aos lábios, seus olhos fixos nos camarões empanados repousando no prato à mesa. Então, Masaru quebra finalmente o silêncio com sarcasmo:

    — Sou o mais forte, não o mais inteligente! — Sua voz transborda cinismo enquanto toma um gole generoso. — Achar um rato em um milharal nunca foi fácil!

    Ele ergue a taça, girando o resto do vinho dentro dela como se buscasse respostas no líquido rubro.

    — Fácil? — Kryntt arqueia uma sobrancelha, sua incredulidade era evidente. — Poderia ter sido mais inteligente, isso sim. Usar gravações de semáforos, espalhar cartazes… Qualquer coisa seria melhor do que essa tentativa de pega-pega patética. Nem sabemos se o Rasen sequer assiste TV!

    — Tá bom, tá bom. Foi mal! — Masaru enche a taça até a borda e, após um longo gole, sua expressão se carrega de indiferença. — Talvez o autor não tenha me dado esse triunfo. Vai ver, diriam que sou mais protagonista que o próprio protagonista!

    Kryntt estreita os olhos, claramente confuso.

    — Do que você está falando? — Ele bate na mesa com a palma da mão, visivelmente irritado. Já está na sua terceira taça, enquanto o celeste está na sexta. — Escuta, agora a gente faz do meu jeito. Certo?

    — Tá, manda aí — Masaru dá de ombros, desinteressado, mas atento.

    O rapaz sorri, triunfante, antes de declarar:

    — Vamos usar a Bússola do Destino!

    O vinho não chega a descer; Masaru cospe tudo no sobretudo em um acesso de tosse. Ouvir isso é um atentado, até para alguém sujo e desprezível como ele, um assassino a sangue-frio.

    — O quê?!

    — É isso mesmo. Pegaremos emprestado aquele artefato da Zona de Contenção. Com ele, encontramos esse desgraçado de uma vez por todas! — mantém a voz firme.

    — Tá louco? — Masaru se inclina na cadeira, sua expressão oscilando entre incredulidade e divertimento. Nunca esperou ouvir isso logo dele. — Você tem ideia do que está propondo?

    — Ué…

    — A bússola não é só um localizador, é uma maldição! — A voz dele se torna mais séria, quase sombria. — Ela revela a localização exata do seu alvo, mas, em troca, você paga um preço alto demais. Quem faz essa troca… perde tudo. Sua vida, sua alma. Dizem que quem a utiliza vira um vagante entre os mundos, preso na escuridão eterna. Você entende?

    O tom grave dele contrasta com o sorriso cínico que começa a se formar em seus lábios. A seriedade logo se quebra em uma gargalhada estrondosa e desajeitada, que faz os outros clientes, cavalheiros e damas impecavelmente compostos, voltarem seus olhares em choque.

    — E isso me assusta? — Kryntt afirma, mais do que pergunta, sua voz calma e provocadora.

    — Deveria — responde, ainda ofegante, com lágrimas nos olhos de tanto rir.

    — Não a mim. Já perdi tanto… já fiz tanto! — Kryntt inclina-se para frente, o olhar afiado como uma lâmina prestes a cortar. — Eu daria tudo para acabar com ele! Você sabe… o ódio que eu carrego!

    O riso de Masaru morre, mas o brilho irônico permanece em seus olhos.

    — Espero que esteja falando sério, porque depois disso não tem volta! — Ele afasta a cadeira bruscamente, o rangido ecoando pelo ambiente. Seus olhos, antes dispersos, agora carregam um misto de ceticismo e tensão. — Eu topo, mas você… droga, você sempre foi o cara que recuava no último segundo!

    — Nunca estive tão sério! — Interrompe, a voz firme, mas quase suplicante. — E eu sei, sei que isso não é o meu estilo, que nunca faria nada assim por escolha. Mas isso… isso é diferente!

    — Tá… — Masaru levanta-se devagar, como se o peso do momento o puxasse para baixo. Por um instante, quase perde o equilíbrio, apoiando-se na mesa antes de se endireitar.

    — Jigoku? — pergunta, preocupado.

    — Tô… tô bem! — responde, sacudindo a mão para dissipar a tensão. Ele dá alguns passos para longe, as costas viradas para o amigo. — Melhor que você, com certeza. Caramba, eu bebi o dobro! — Um sorriso enviesado se forma enquanto solta a provocação, ainda cheio de orgulho competitivo.

    O silêncio que se segue é quase tangível, pesado como o prenúncio de uma tempestade. Não é o vazio típico de quem não tem o que dizer, mas a pressão de um plano que ambos sabem ser arriscado demais.

    — Então é isso… — murmura Masaru, virando-se novamente. Sua expressão carrega uma sombra que nem mesmo seu sarcasmo habitual consegue esconder. — Estamos mesmo ferrados, não é?

    — Talvez… — suspira, o tom calmo contrastando com a gravidade de suas palavras. — Mas não é como se tivéssemos escolha agora, certo?

    — Algum dia tivemos?

    Após o clima esfriar, os dois deixam o restaurante, passos lentos no piso frio, os pensamentos presos à conversa anterior. E ao pagarem a conta, cruzam o corredor estreito, iluminado por luzes pálidas que piscam intermitentemente. 

    A tensão cresce, o ambiente carregado de uma energia inquietante.

    E no final do corredor, uma figura surge. Um homem de rosto pálido e olhos injetados de sangue, a mão trêmula segurando uma pistola. Seu corpo parece à beira do colapso, mas os olhos ardem com um ódio visceral, alimentado por algo mais profundo do que raiva: desespero.

    — Maldito… finalmente te encontrei! — A voz dele é um rugido contido, a arma agora apontada diretamente para Masaru.

    Kryntt dá um passo à frente, instintivamente se colocando como um escudo, mas Masaru o detém com um gesto rápido.

    — Quem é você? O que deseja? — pergunta, a voz baixa e quase entediada.

    O mesmo cerra os dentes, o dedo hesitante no gatilho.

    — Quem sou eu? Sou um pai! Um pai de uma filha que você matou, desgraçado! — Sua voz falha, carregada de dor. Ele aponta a arma novamente, desta vez com mais firmeza. — Minha conversa não é com você, garoto. É com ele!

    E ele olha de Masaru para o homem, os olhos estreitados em confusão. O celeste, por sua vez, dá um passo à frente, ignorando o aviso do amigo.

    — Para trás, Kryntt! — O tom dele muda, frio e autoritário. — Quero ver ele tentar. Essa arma… ela pode disparar, mas não vai me ferir.

    Ele para, inclinando a cabeça, um sorriso sádico formando-se lentamente.

    — Mas você… você vai sentir cada segundo de dor quando eu devolver o favor!

    O homem hesita, o tremor retornando à mão. Sua coragem parece evaporar diante daquela ameaça que vai além do físico.

    Kryntt, então, se coloca entre os dois novamente.

    — Espera! — A voz é urgente. — Masaru, ele não vai atirar. Ele só está perdido, quebrado. Caramba, deixe isso para lá! Temos coisas mais importantes. Precisamos da bússola.

    O celeste olha para Kryntt por um momento, indecifrável. Então, bufando, o sorriso desaparece.

    — Hmph. Você tem sorte, velho… — Ele se vira, lançando um último olhar cortante ao homem. — Da próxima vez, escolha melhor seus alvos. Nem todos têm minha paciência.

    O homem cai de joelhos, a arma ainda apertada inutilmente em sua mão. Lágrimas silenciosas caem ao chão, carregadas de fracasso e desespero.

    Masaru segue em frente, as mãos nos bolsos, a postura relaxada como se nada tivesse acontecido. 

    Kryntt o acompanha, soltando um suspiro pesado.

    — Idiota… — murmura para si. Enquanto ambos passam por ele sem olhar para trás.

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