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    A cena se desenrola em uma aceleração impossível de acompanhar.

    Tudo acontece tão rápido que parece que o próprio tempo se fragmenta, diluído em menos de um milésimo de segundo. Nesse intervalo quase inexistente, a cópia executa dois golpes simultâneos: um devastador em velocidade e força, e outro, que parecia ter acontecido um instante antes, igualmente letal.

    A Berserk, com seu poder absoluto, detém o ataque mais veloz — mas o segundo golpe, imediato e implacável, atinge como o peso de uma sentença irrevogável.

    Foi obra do destino, mas também a resposta a uma dúvida que há muito corroía a mente da entidade: como enganar o sensor da técnica? Afinal, o tempo define a essência de um ser, separando-o de outro.

    “Malditos!”

    Azaael praguejou.

    E o embate, uma dança incessante entre tempo e energia, começava a cobrar seu preço. O desgaste tornava-se evidente, minando sua precisão e eficácia. Ele sentia o peso esmagador da exaustão se acumular a cada instante, mas mantinha o silêncio, escondendo com determinação a verdade que o enfraquecia: ele era incapaz de se curar.

    O que poucos sabem é que, ao liberar todo o potencial de seu poder, ele sacrifica sua regeneração — mais rápida que o próprio pensamento. Um preço inevitável, pois perder a eficiência de seus golpes seria uma consequência muito maior.

    Mas, naquele momento crítico, não havia espaço para hesitação ou arrependimento. Ele precisava avançar, custasse o que custasse.

    Ele devolve parte do dano sofrido…

    Com um gesto, sua mão varre o ar, desfazendo seu agressor. O corpo da criatura se desintegra em partículas minúsculas, reduzido a pó, como se jamais tivesse existido.

    “Eu não conseguirei manter… por tanto tempo…”

    E Azaael percebe que seu fim está próximo. Apesar da perseguição incessante dos três, o peso do confronto é uma sentença inevitável.

    “Se eu morrer…”

    Com a mesma intensidade com que uma vez viveu, ela agora se despede, enfrentando o destino de que não pode escapar.

    O pensamento se infiltra em sua mente como um sussurro sombrio, uma presença que não pode ser ignorada. Imagens fragmentadas atravessam sua consciência, revisitando Liliel. A visão dela é cristalina, carregada de uma pureza vulnerável, e junto a ela, a pergunta que dilacera seu espírito: quem a protegeria se ele não estivesse lá?

    Ele tenta convencer a si que seria o escudo de que ela precisava, que ainda possui coragem suficiente para enfrentar o impossível. Mas, como uma sombra que paira sobre sua alma, a consciência do que está em jogo se torna um fardo insuportável, pesando mais que qualquer ferida.

    Ele já não é mais o “homem” vazio que outrora encarava a morte com indiferença, sem nada a perder. Agora, o que permanece em sua vida torna seu peso quase insuportável. Ele não pode mais ignorar a verdade que o atormenta: há algo — ou melhor, alguém — que precisa dele para continuar existindo.

    Naquele instante, todo o seu ser converge em um único propósito. A dor e a angústia que o consumiam tornam-se sua força motriz, um combustível para uma última tentativa desesperada.

    Ele entrelaça os dedos, canalizando cada fragmento de energia em uma barreira frágil, mas obstinada. A magia negra flui de seu corpo, silenciosa e densa, como o último suspiro de uma tempestade.

    Lágrimas silenciosas escorrem pelo rosto de Azaael, mas ele permanece mudo. Nenhuma palavra poderia alterar o curso do que está para acontecer. O vazio que uma vez habitou sua alma foi substituído por algo maior, impossível de ser traduzido em palavras, mas esmagador em sua presença.

    Seus olhos se fixam no horizonte, em busca de um último fio de esperança.

    “MALDITOS!”

    O grito irrompe como um trovão, carregado de uma fúria tão primordial quanto a dor que o consome.

    Os golpes inimigos colidem com sua barreira em uma sequência de impactos devastadores, ressoando como trovões que sacodem a terra já fragmentada. Cada ataque é um teste de limites, uma força avassaladora que ameaça despedaçar sua última resistência. O mundo ao seu redor se distorce; o tempo desacelera, carregado pela sensação implacável de fatalidade.

    Ele luta, resiste até o último fragmento de energia, mas o golpe final é inevitável. A barreira se despedaça, e sua essência é consumida pelo impacto. A poeira se ergue, densa como uma cortina que encobre o cenário de destruição. Quando ela finalmente se dissipa, o campo de batalha está mergulhado em silêncio. Não há corpo. Não há alma. Apenas o vazio.

    E com ele, uma promessa não cumprida: o retorno nunca acontecerá.

    Ou talvez…

    — Finalmente… — murmura Bezeel, agachando-se para tocar a areia negra. Seus dedos cravam-se nos grãos ásperos, enquanto ele busca um sinal, qualquer vestígio de Azaael. — Ele…

    Bezeel para, sua sentença suspensa no ar. Nenhum traço da aura negra de Azaael se manifesta. Uma entidade-rei não desaparece sem que sua essência seja consumida por um igual.

    — Escapou! — brada Asmael, sua voz tingida de incredulidade e frustração.

    Luciel, entretanto, não reage. Seu olhar enigmático permanece fixo no vazio onde p rebelde deveria estar. Há algo em sua expressão, uma compreensão que transcende a cena diante deles.

    — Meu senhor? — insiste, a hesitação evidente em sua voz.

    O imperador, no entendo, ergue o olhar, uma calma quase inquietante emanando de sua postura. Ele não responde, mas o brilho sutil em seus olhos parece dizer tudo o que não é dito: não desapareceu. Ele escolheu o impossível.

    — Agora, sim, temos um problema… — seus olhos se estreitam, a expressão rígida, como se estivesse segurando uma força invisível muito maior do que o momento exige. Seus punhos estão fechados com tal força que seus dedos ficam brancos, e sua mandíbula tensa, uma máscara de contenção. — Viu, o que ele pode fazer? Ele… foi além do óbvio, mesmo com Bezeel tendo reduzido drasticamente o leque de possibilidades…

    — Merda! Como!? — A gula ruge, sua voz uma explosão de frustração, golpeando o chão com tal fúria que as pedras ao redor estalam sob o impacto.

    — Ele… — Asmael com uma calma gélida, mais como um observador distante do que alguém imerso na tempestade, — usou o restante da energia para se materializar em Crea, ao invés de se defender. Por isso, não há vestígios do escudo dele. O maldito aprendeu a viajar entre dimensões sem recorrer a portais ou brechas… — Sua voz carrega mais uma pontada de admiração do que de medo ou raiva, como se o gesto dele fosse, em sua essência, uma obra de arte.

    — Formidável, mas… infelizmente, ele se proclamou nosso… inimigo!

    “Nosso?”

    A palavra flutua na mente da luxúria, que já começa a entender as complexidades da situação. Naquela época, já sabe o que faria, mas não tem total domínio sobre o teatro cruel da existência.

    — Então, o que faremos? — Bezeel pergunta, sua voz, um misto de interesse e uma necessidade silenciosa por respostas claras. — Vocês… os quais são os arquitetos aqui!

    — Vamos, por enquanto, deixá-lo em paz. Ele está fraco, não lutará mais. Apenas se ocultará de nossos radares… — Sorri, mas há algo perturbador na calma, como se a satisfação que sente não proviesse da vitória, mas da emoção pura de manipular as possibilidades. — O jogo acabou para ele, por agora!

    — Não seria melhor caçá-lo enquanto ele está fraco? — pondera, o imperador, com um tom mais estratégico. — Nós…

    — Acha que ele escapou para lá no desespero? — Asmael o interrompe com uma frieza. — Desculpe, senhor, mas não existe demônio mais acostumado com Crea do que ele!

    — Então…

    — Iremos fazer o que planejamos, não é?

    — Ah… — Luciel vacila por um momento, uma sombra de dúvida atravessando sua face, talvez o ódio seja o que o tira de sua zona de conforto, uma emoção que até então nunca havia sentido tão intensamente. — Verdade… temos a regalia do tempo a nosso favor! Bem… meu irmão, Bezeel…

    Ele se aproxima e coloca a mão no ombro de seu irmão, sua voz ganhando uma gravidade que impõe respeito.

    — Certifique-se de que a casa de Azaael, bem como seus filhos, garantem lealdade. Se não, elimine-os! — A ordem é fria e definitiva.

    Mas, nem todas as verdades estavam sendo reveladas…

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