Capítulo 206 - Beheel e Vassael
— Não! — brada Beheel, sua voz reverberando com um desprezo profundo enquanto os olhos fixam-se em Rasen, como se ele fosse uma simples sombra diante de sua grandiosidade. — Cara… sou péssimo em técnicas demoníacas, manipulação de trevas? O pior! — Ele solta uma risada descompromissada, como se risse de sua própria insignificância. Mas, sua expressão se transforma em uma confiança desmedida. — Mas… em fortalecer a densidade? Endurecer e criar armas e armaduras? Sou o melhor! — A ênfase em suas palavras é quase arrogante, como se sua própria existência fosse uma obra-prima, inatingível para qualquer outro ser.
O antigo messias, no entanto, apenas inclina a cabeça, seus olhos carregados de ceticismo, com um leve franzir de testa, como se tentasse avaliar se há alguma verdade nas palavras dele.
— Aumentar? Endurecer? Como exatamente você faz… isso?
“Ele me parece útil caso eu consiga dominar a manipulação básica de trevas… mas inútil para aprender…”
Pensa enquanto um leve sorriso de desdém toca os cantos de seus lábios.
Beheel, como se antecipasse a dúvida, solta mais uma risada curta e carregada de superioridade, uma risada que ecoa com o peso da experiência que ele parece ter, mas de uma forma insuportavelmente arrogante.
— É simples. Você intensifica a densidade das trevas até que elas se tornem mais pesadas que um minério, como ouro ou ferro. Aí, você molda mentalmente a forma que deseja… e pronto! — Ele fecha os olhos, sentindo a energia fluindo pelo corpo, com um poder latente que parece emanar de cada fibra de seu ser. Então, ele abre as mãos e uma espiral de trevas aparece em torno de seus dedos, como se a própria escuridão estivesse sendo manipulada por sua vontade. A energia caótica começa a se solidificar, assumindo a forma de uma esfera negra e opaca, que emana uma aura de opressão. — Veja só. Cada um dos quase dois milhões de fragmentos negativos que usei para criar isso pesa como um navio de porte grande. Quer segurar?
O convite desafiador faz com que hesite por um momento, seus dedos tremendo de forma involuntária, como se a mera ideia de tocar aquela esfera fosse absurda. Ele olha para a besta, tentando decifrar se a proposta é uma armadilha ou uma verdadeira demonstração de poder.
Quando, finalmente, toca a esfera, um peso esmagador o atinge instantaneamente, como se o próprio espaço ao seu redor fosse comprimido, desafiando as leis naturais. Ele solta um arquejo, retirando a mão rapidamente. O ar ao redor parece se estreitar, sua respiração ficando mais curta, como se uma força invisível estivesse apertando seu peito.
É como se a morte sussurrasse em seu ouvido, fria, silenciosa e inevitável.
E no instante em que deixa a esfera cair no chão, o impacto é devastador.
O solo estremece violentamente, rachaduras se espalhando como um imenso labirinto de linhas finas e quebradiças. O som do impacto é como um trovão rasgando o silêncio, reverberando no ar com a força de algo além da compreensão humana.
É como se milhões de toneladas tivessem se despencado de uma altura impossível.
— Que merda… caramba… — Rasen murmura, sua voz embargada pela incredulidade enquanto tenta recuperar o fôlego, ainda sentindo o peso daquela experiência, como se seu corpo não fosse mais seu.
Beheel, por outro lado, continua a gargalhar, uma risada áspera e perturbadora que ecoa pelo ambiente sombrio, como se a fraqueza dele fosse uma fonte de prazer para ele.
— Há! Há! Você é tão fraco que chega a ser patético. Esqueci de que, para vocês, humanos, erguer algo assim seria impossível. Mas nós, demônios? Podemos levantar um prédio como o de vocês… com os dentes! — Ele se inclina para frente, o olhar carregado de um desprezo genuíno, saboreando cada palavra como se fosse uma sentença.
“Ah, ele deve adorar se sentir superior… malditos demônios…”
Pensa, tão próximo, sente o fedor que a criatura tem, revirando os olhos, a frustração se tornando cada vez mais perturbada em sua expressão fechada.
— Hm… consigo dobrar aço com as mãos, mas isso? Isso é… surreal! — Admite o homem, seus olhos ainda fixos na esfera, a seus pés, uma pontada de respeito de repente surge, embora não o seja disposto a mostrar totalmente.
Beheel, sem perder a postura, sorri de forma cínica, sua falsa humildade transparecendo enquanto agarra novamente sua criação.
Mas o olhar dele não deixa dúvidas de que ele acredita ser a essência do poder.
— Bem-vindo à realidade, garoto. Aqui, ou você aprende a moldar o impossível… ou será esmagado por ele! — As palavras saem de sua boca com a mesma frieza de uma bala disparada no coração do inimigo.
Rasen dá um suspiro profundo, afastando-se da esfera com impaciência.
— Passo! — diz, com uma leve risada irônica, sua desistência sendo a terceira tentativa falhada.
Restam ainda duas! Os irmãos…
Eles encerraram o treino, com o mais velho se afastando daquele lugar, decepcionado…
“Não é o melhor, mas… ele será o mais fácil de se convencer!”
Com um movimento cansado, ele se escora contra a parede, observando Vassael, que já sai de seu transe em que estava encarando a mesma parede. O ambiente ao redor parece impregnado de um silêncio, o da incapacidade, e energia não dispersa.
As trevas que deixam para trás…
— Agora é sua vez… — murmura o homem, dirigindo um olhar desafiador para a entidade, que agora o encara, com uma mistura de confusão e desafio em seu olhar.
— Minha vez? De quê?
Mas o maldito, com um sorriso perverso, deixa a dúvida no ar. Até que a entidade lhe dê de fato a atenção que devia, virando-se totalmente para ele.
— Me ajuda… — Ele diz finalmente, com um tom grave, já se preparando para seguir em frente com seus próprios planos. — Preciso aprender a dominar energia negativa para o grande dia…
— Por quê?
— Porque será mais efetivo. Consigo absorver energia, sabe? Desfragmento-a, com minha técnica, e absorvo. Mas… há uma possibilidade que descobri: posso manter energia acumulada e liberá-la de forma menos trabalhada… — A explicação sai com uma confiança fria, quase calculista, como se estivesse revelando uma estratégia fatal. — Minha ideia, e a do Chefão, é absorver energia negativa e transformá-la em uma bomba capaz de exterminar todos que estão em Nova Tóquio. Seria um golpe de mestre, não? A vitória estaria nas mãos de todos…
Vassaell faz uma pausa, suspirando, como se ponderasse a proposta.
— Entendi… — responde, sua voz agora carregada de uma irritação abafada, como se não conseguisse ver sentido no que Rasen está propondo, mas, ao mesmo tempo, há algo em seu tom que indica que começa a compreender. — Então, você está mesmo do nosso lado…
“Ué… esse cara é um demônio bipolar? Vegano?”
Esse pensamento vaga em sua mente.
— Estou! — ri, sua voz mais leve, mas ainda assim carregada de uma malícia sutil. — Vocês são muito desconfiados, hein?
Ele emite um suspiro profundo, olhando para Rasen com olhos que parecem pesar suas intenções. Na balança da honra que ele acredita, o humano está no mais baixo… mas…
— Não é isso… mas é peculiar você jogar contra o próprio time, mas não reger o destino de todos é o presente que Elum deu a vocês — A energia ao redor dele cresce, pulsando com poder. — Mas sabe… estou cansado de ser um estorvo ao meu irmão… Por isso, vou te ensinar, humano! Que isso traga glória à minha casa!
— Trará! — o olhar dele se afia, a serpente se enrola na maça.
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