Índice de Capítulo

    Quando vem o entardecer, o céu se pinta em tons de vermelho e laranja, como se refletisse o inferno prestes a se desencadear.

    Yamasaki adentra o hospital amaldiçoado, cada passo ressoando como uma sentença. Trajado em seu uniforme, ele não traz apenas sua presença física, mas um espírito de arrogância e uma confiança insana, como se o próprio caos fosse sua sombra. Seus olhos, frios como a lâmina de uma guilhotina, percorrem o ambiente com desprezo. O cheiro de desinfectante e sangue paira no ar, misturado ao sofrimento invisível que impregna as paredes descascadas.

    “Vou arrancar cada segredo que se esconde neste covil podre…”

    A frase ecoa em sua mente, carregada de sadismo, enquanto um sorriso curto e distorcido cruza seus lábios. A psicopatia brilha em seus olhos, uma promessa de destruição e morte.

    De repente, sua presença transforma o lugar. Uma aura negra, quase tangível, emana dele como um véu. A escuridão se desenrola ao seu redor, suave, mas mortal, como pétalas de uma flor de lótus desabrochando em um pântano de morte.

    É um espetáculo hipnotizante e terrível, semelhante ao pavão que exibe suas penas para seduzir, mas aqui não há beleza ou amor, apenas terror puro.

    O corredor hospitalar parece se fechar ao seu redor. As paredes rangem, os gemidos distantes de pacientes e entidades ecoam pelo espaço. A aura de Yamasaki sufoca tudo. Com um estalo de dedos, ele desencadeia o apocalipse.

    Chamas emergem, primeiro tímidas, depois vorazes, engolindo cada canto do hospital. O fogo dança com uma fome insaciável, transformando tudo em cinzas e gritos.

    — Ainda não… — murmura, quase gemendo, enquanto uma gota de suor escorre por sua testa. Liberar tanto poder bruto sem qualquer contenção o consome momentaneamente, mas ele permanece inabalável. — Assimilatio!

    O comando rasga o ar, e as chamas mudam de cor, do vermelho brilhante para um preto absoluto, uma escuridão viva. Não são apenas fogo; são a essência do vazio, consumindo tudo em seu caminho, até mesmo as almas presas naquele lugar. Os gritos das entidades ecoam como um coral de dor, a agonia das almas atormentadas se mistura ao som de paredes ruindo.

    Na beira do caos, uma criatura se arrasta. Sem pernas, apenas o torso miserável de um espírito deformado tenta escapar, mas o breu a engole, devorando não apenas seu corpo espectral, mas também qualquer vestígio de sua existência.

    O local inteiro estremece, prestes a desabar. Cada canto, cada sombra, agora faz parte do reinado dele. A destruição o envolve como uma orquestra regida por suas mãos cruéis, e ele é o maestro implacável.

    “Que melodia grotesca…”

    O jovem murmura, os olhos fixos no ser cambaleante à sua frente.

    “Então foi isso que a perturbou? Patético.”

    Sem hesitar, ele esmaga a cabeça da criatura em um único movimento. O som seco reverbera no ar pesado, enquanto um último gemido de piedade escapa dos lábios inumanos do ser.

    “Esse maldito purgatório…”

    Ele cospe, os dentes cerrados de raiva.

    “Lugares como esse só existem devido aos desgraçados que insistem em brincar de deuses!”

    De repente, ele estende a mão, reunindo um vórtice de chamas abissais na palma. O calor denso ondula o ar ao redor, distorcendo a luz. Ele estreita os olhos, sentindo uma presença na periferia de sua consciência.

    “Azaael?”

    Sua voz é grave, reverberando tanto no ambiente quanto em sua própria mente.

    “Azaael, você está aí?”

    Uma risada amarga ecoa em sua mente, acompanhada por uma voz fria e desdenhosa.

    “O que quer agora, pirralho? Não percebe que estou ocupado? Tentando, sei lá, salvar o meu mundo enquanto você reclama?”

    “Salvando o mundo ou afogando-se no luto?”

    Ele retruca, apertando o punho em torno das chamas que crescem, se transformando em um aglomerado, denso e voraz.

    “Caramba, ninguém morreu ainda, então poupe-me de suas lamentações! Me ajuda aqui…”

    “Ajuda?”

    A voz responde com sarcasmo.

    “Você nem sabe o que está pedindo.”

    “Sei o suficiente. Você disse que iria me ensinar, então me diga—qual é o próximo passo?”

    O jovem ergue o olhar, encarando o vazio, enquanto as chamas ao seu redor ardem como uma promessa.

    “Ah, seu pirralho… É só liberar… Você já comprimiu as chamas, agora as solte. Veja a mágica acontecer. Não restará mais nada disso aqui… Satisfeito?”

    — Tá… — responde ele, com um sorriso cruel que parece rasgar a inocência de seu rosto. O brilho em seus olhos cintila como brasas vivas prestes a consumir o mundo.

    De repente, a terra treme. Boom! Uma explosão colossal de chamas negras irrompe como se o próprio abismo houvesse se aberto. O calor é sufocante, devorando tudo ao redor com voracidade incontrolável. Os gritos das criaturas, antes imponentes, agora se tornam lamentos distantes.

    Tudo desaba. Tudo é reduzido a cinzas.

    No epicentro daquele inferno recém-criado, ele permanece imóvel. Seu corpo está sujo de poeira e cinzas, mas não há um único arranhão. Ele ergue a cabeça, respira fundo, o prazer quase palpável em seu rosto enquanto observa as chamas dançarem ao seu redor, ainda consumindo os vestígios do local.

    As chamas do breu parecem eternas, queimando não apenas os corpos, mas as essências de centenas de milhares de entidades. Elas exorcizam tudo que habita ali, apagando vidas e memórias, enquanto o silêncio macabro toma conta da região.

    — Caramba… eu tinha me esquecido de como era forte! — Ele estala o pescoço, como se estivesse aquecendo o corpo após um longo descanso.

    “Hm… você é, sem dúvida, superior a qualquer um dos príncipes do inferno, moleque. Talvez até… rivalize com os reis demoníacos!”

    A voz sombria, da entidade distante, mas sempre presente, ecoa novamente.

    — Será uma tremenda perda para a humanidade, não que me importe — ele responde, com a voz carregada de indiferença. — Mas… Masaru é mais forte, não acha?

    Há algo de ácido em sua provocação, embora o tom soe despreocupado.

    A criatura hesita por um instante. Quando fala, há uma dose incomum de sinceridade em suas palavras:

    “Fala daquele maldito? Não sei… Ambos são rápidos, mas talvez você seja mais letal, criança.”

    Por um instante, o tom muda. As palavras, antes carregadas de sarcasmo, agora soam quase como um elogio relutante.

    O garoto arqueia uma sobrancelha, mas não diz nada. Apenas dá um pequeno sorriso, mais sombrio que o anterior. Há algo inquietante nessa troca. As chamas ainda rugem ao fundo, mas os dois permanecem em silêncio por um momento.

    Naquele instante, uma verdade silenciosa pairou entre eles: a cláusula final um dia chegará. Aquela tal “cumplicidade” que os une será testada ao limite. Algum dia, tudo o que restará serão cinzas — não apenas do mundo, mas também de qualquer laço entre eles.

    ÚLTIMO CAPÍTULO ESCRITO AQUI!

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (1 votos)

    Nota