Capítulo 210 - A Noite Mais Longa
Entre o terceiro e o quarto distrito, na Zona Comercial, destaca-se o imponente prédio da corporação Kurogane Seisaku.
O imponente edifício exala poder e corrupção através de suas colunas de concreto, com seus vidros refletindo não apenas autoridade de uma das principais líderes na produção de armamentos para o exército do Império, mas também o evidente e ao mesmo tempo oculto comércio clandestino de armas para facções obscuras, ávidas por espalhar o caos, o sangue e a guerra.
O ambiente ao redor é tenso, abafado pelo constante zumbido da cidade em movimento, um local onde os negócios mais sangrentos e secretos se entrelaçam.
Acima de tudo isso, nas alturas, Rasen sente a brisa cortante e os ventos a rasparem sua face.
À sua frente, o cubo – o artefato sombrio – repousa aos seus pés, um objeto que pulsa com o eco das almas perdidas, guardadas no silêncio da eternidade. Seus olhos observam o horizonte em silêncio, absorvendo as vibrações que o cercam, cada batimento do cubo ressoando nas profundezas de sua alma, como uma chamada ancestral.
Abaixo, ao seu lado, Jahiel observa o movimento frenético das ruas, os carros que cortam o asfalto e as figuras apressadas que caminham em busca de seus destinos. A seu lado esquerdo, seus irmãos, confiantes, e à sua direita, o gigante Beheel, cuja presença emana uma tensão opressiva, como se o próprio ar estivesse comprimido ao redor dele.
“Finalmente…”
Ele murmura mentalmente.
A mão do ex-exorcista desce lentamente até o cubo, tocando-o. Instantaneamente, um arrepio percorre seu corpo. Sente a pulsação do objeto, como se o próprio peso da história e da destruição nele contidos quisesse se libertar. O lamento das trevas, prisioneiras por tanto tempo, começa a ecoar, uma sinfonia de sofrimento que reverbera nas fibras mais profundas de sua existência.
“Esse mundo… terá uma nova chance…”
Continua.
Esse seu pensamento estava carregado com uma mistura de psicose e convicção.
Na sua mente, não havia limite para a estranheza de seus próprios pensamentos. Para ele, a destruição não era um fim, mas um prelúdio. Ele já tinha visto a crueldade humana em sua máxima potência, e acreditava que, ao liberar as forças que agora segurava, poderia dar ao mundo a oportunidade de recomeçar — de uma forma que ninguém mais poderia compreender.
Por mais indiferente à morte de seus iguais, Romero deixa o legado em sua mente…
Inala profundamente, sentindo o ar se expandir em seus pulmões, e então, como se convocasse os próprios ventos das profundezas, sua aura se expande, crescendo em poder. Aos seus pés, o cubo brilha com uma intensidade sobrenatural, como se finalmente estivesse pronto para ceder ao seu comando.
Atrás dele, o fantasma de Hazan observa, uma dor silenciosa consumindo-o enquanto testemunha a transição de seu antigo amigo, que agora se torna algo… Mais monstruoso.
— Spiriti antiquissimi, relinquant hoc arca, tempus est quiescendi, malum quod ibi iacet continendum est, a nova generatione, ideo rogo… Per meam auras, concedite permissionem, ut lux attingat! — Rasen profere as palavras, sua voz crescendo até se tornar um grito quase celestial, como um eco de mil espíritos sedentos por liberdade. A linguagem antiga reverbera no ar, quebrando o silêncio de séculos, até que, num estalo, algo se rompe.
E então, os gritos. Fantasmagóricos, distorcidos, como almas perdidas que se libertam de um cativeiro eterno. Uma onda de trevas irrompe ao seu redor, como se a caixa tivesse guardado uma tempestade indomável por eras. O vento que antes era suave e confortável, agora se torna um furor de escuridão, envolvente e sufocante, ameaçando engolir tudo.
Então veio a calmaria. Como se o mundo inteiro tivesse retido a respiração.
Do outro lado da cidade, Liliel, com uma expressão serena e um foco absoluto, observa a nuvem de breu se formar nos céus, uma visão que corta o horizonte. Sentindo a mudança, ela levanta a palma de sua mão, como se desejasse domar a tempestade que surge, a força da sua vontade contra as forças caóticas liberadas por Rasen. Ela sabe o que aquilo significa e o peso da responsabilidade que agora recai sobre seus ombros.
O jogo está prestes a começar!
Disparando um feixe de trevas, essa lâmina de escuridão corta a densa neblina, rasgando o véu sombrio que envolve o firmamento.
Do impacto, os demônios selados começam a despencar do abismo, um após o outro, queimando o solo com sua energia vil. A intensidade da força negativa é tamanha que até mesmo a intercessão, o campo protetor que deveria deter tal mal, se rompe como vidro frágil diante de uma tempestade.
Aos olhos de quem ainda ousa sobreviver, uma legião de criaturas disformes, banhadas em negrume, se ergue, como sombras vingativas que renascem para devorar tudo o que resta.
— Socorro! — grita uma mulher, sua voz despedaçada pela angústia. Ela tenta correr, mas o pânico a domina.
Seu olhar implora, mas ninguém tem respostas. As ruas estão tomadas… e os gritos são abafados pela força do terror.
Mas antes que possa dar mais um passo, algo sinistro a alcança. Seu peito é perfurado por um golpe devastador, sangue espirrando aos seus pés enquanto a dor se torna insuportável. Ela mal tem tempo de entender o que aconteceu antes de cair, os olhos embaçados pela visão turva de uma entidade formada do próprio breu.
O ser, com a pele impregnada de cinza demoníaco, raízes retorcidas brotando de seu corpo e quatro chifres negros adornando sua cabeça, parece mais uma aberração do que uma criatura qualquer.
Seus olhos vermelhos penetraram na alma da mulher, que não tem mais forças para gritar.
Do outro lado, o caos não cessa. Um grito de horror ecoa quando outro homem é partido ao meio, suas vísceras espalhadas como se fossem meros pedaços de carne descartáveis. O sangue escorre como rios de morte, enquanto o impacto da lâmina cortante retumba no ar. Tirar o machado do corpo é como arrancar uma lâmina da carne de um boi, cheia de vida, mas já condenada.
A entidade, quase um minotauro em forma, gargalha com prazer, o som grotesco de sua diversão se misturando ao barulho da destruição ao redor. O breu, que antes era parte de sua essência, agora se desprende de seu corpo como uma casca, revelando a monstruosidade em sua totalidade.
— Não sei como… mas matar esses bostas com esse terror é perfeito! — grita, a voz impregnada de uma satisfação doentia.
Com um movimento violento, gira a arma que carrega, arremessando carros em direção aos prédios e derrubando-os como peças de dominó. O impacto é ensurdecedor: corpos dilacerados, árvores arrancadas do chão, vidros quebrando como cristais em um pesadelo.
A humanidade, banhada em sua ignorância, conhece agora o verdadeiro significado do caos.
E o apocalipse, como uma onda implacável, se ergue sobre suas cabeças, e nada parece capaz de deter o terror que se espalha como fogo nas florestas secas.
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