Capítulo 211 - Grupo A
Manhã do dia 42.
O caos está aqui.
Nova Tóquio, o colosso de concreto, transforma-se em um palco de desespero. O Império, em uma decisão desesperada, declara estado anárquico em menos de uma hora. As ruas, que antes pulsavam com o frenesi e o ritmo acelerado da vida, ecoam agora o som de sirenes, gritos e explosões.
Nas duas primeiras horas, todos os exorcistas foram convocados às pressas. Mas o caos, como uma praga voraz, consome um terço da capital, transformando distritos inteiros em zonas de guerra.
Três horas passam e as estatísticas parecem saídas de um pesadelo: setenta e seis mil mortos, duzentos e treze mil gravemente feridos, marcados para sempre. Meio milhão de cidadãos arrastam seus corpos ensanguentados, carregando ferimentos leves, mas não menos significativos diante do horror coletivo.
Na quarta hora, dois terços de Nova Tóquio já sucumbiram. O número de mortes se equipara ao genocídio que foi o surto da síndrome de escuridão.
Mas, enfim, as equipes se organizam.
A Equipe A é destacada para o terceiro distrito, a zona comercial. Lá, o luxo e a decadência encontram-se em plena harmonia. É onde a Rua das Celebridades exibe o pior do excesso humano: vitrines repletas de futilidades extravagantes, agora envoltas em fumaça e sangue.
Os quatro membros se dividem. Gabriel, o líder desse grupo, e Kryntt formam um duo, enquanto Sofie e Satoshi cuidam de outra parte do setor.
O duo masculino adentra os escombros de uma loja de carros de luxo. A fachada está destruída, e veículos estraçalhados se espalham como brinquedos descartados. É então que o celeste vê.
A entidade.
Grande como um ônibus, o ser grotesco se move como um verme colossal, seu corpo disforme marcado pelos gritos e formas de incontáveis humanos que já devorou.
A criatura, feita de ossos, carne e restos de desespero, persegue um homem também desesperado. Um senhor, provavelmente um funcionário da loja, ainda estava vestindo o uniforme. Ele cambaleia, segurando o coto onde antes havia um braço, seu rosto deformado pelo terror.
“Que diabos é isso? Um demônio?”
Pensa Kryntt, enquanto luta para manter o equilíbrio ao desviar dos veículos lançados pela criatura como projéteis. Pois a tal besta se move com uma força serpenteante, desestruturando tudo ao redor.
— Que desgraça! — grita Gabriel, apertando os punhos. — De onde veio essa maldita coisa?
Sua pergunta ecoa no ar como uma acusação ao próprio caos. Ele não espera resposta. Ergue a mão, seu rosto marcado pela fúria. Enquanto uma aura de luz intensa emana de si, ele salta para a frente, criando um escudo translúcido ao seu redor que interrompe o avanço da entidade.
O impacto faz o chão vibrar, rachando o asfalto ao redor. Não há espaço para fraqueza ou hesitação.
Essa criatura precisa ser destruída, agora!
O impacto é brutal. A barreira cristalina que o celeste conjura segura o monstro por um instante precioso antes de colapsar. Quando isso acontece, seu corpo explode em uma tempestade grotesca. Fragmentos de carne púrpura, membros retorcidos e cabeças desfiguradas se espalham pelo ar em um espetáculo digno de um filme de terror.
É uma chuva de morte que se mistura ao solo já encharcado de sangue e vísceras.
Quanto à vítima? Sobrevive.
Ele tomba ao chão, exausto, o corpo traído pelo peso do esforço. Seus pulmões ardem enquanto tenta respirar, e sua visão começa a turvar.
Cambaleando, ele se arrasta para trás, as mãos trêmulas deslizando pela lama escarlate que cobre o campo de batalha.
— Por Elum! — clama, a voz rouca e quebrada em um último grito de desespero.
— Senhor… — Murmura o exorcista.
Mas continua recuando, os olhos arregalados, buscando uma saída.
Infelizmente, o terror o alcança primeiro…
Ele sente um peso esmagador pressionar suas costas, paralisando-o. Com o coração disparado, vira-se lentamente para encarar a fonte de sua nova desgraça. Outra criatura o fita com um olhar cruel e cheio de zombaria, os dentes afiados reluzindo em um sorriso torcido.
— Quê? — balbucia, o medo traindo sua voz com um tom trêmulo.
Já a nova criatura inclina a cabeça, como se apreciasse a cena, antes de soltar uma gargalhada gutural que ecoa no ambiente.
— Sério que essa puta tem uma voz tão patética assim? — zomba, com um desdém afiado como lâminas. Sem hesitar, ergue seu pé monstruoso e o desce com força esmagadora.
Um estalo ressoa enquanto a cabeça do homem é destruída, espalhando fragmentos de seu cérebro e sangue pelo chão.
— Pena que o grandão foi exorcizado… Ele ia adorar comer os restos dessa puta… — murmura, erguendo o olhar faminto para os exorcistas. Seus olhos brilham com voracidade, enquanto o sorriso selvagem e malicioso ainda deforma seu rosto. — Quem será o próximo? — O cheiro de morte domina o ambiente, pesado e sufocante.
Essa tal criatura, que emerge das sombras, tem um corpo envolto por um manto de pelos negros que ondulam diante da ventania inquietante. Seu rosto é uma máscara indígena, um artefato ancestral, talvez a manifestação maligna de uma deidade esquecida. Suas orelhas de coelho se destacam bizarramente contra os chifres retorcidos que brotam do topo de sua cabeça.
Mas mais bizarro que sua aparência, é o cajado que carrega na mão direita, de madeira, parecendo de um bruxo medieval, com a ponta retorcida.
“Que porra é essa?”
O pensamento escapa pela mente do exorcista, suas mãos tremendo levemente enquanto encara a aberração grotesca à sua frente.
A visão é mais perturbadora do que qualquer morte que já presenciou.
E o silêncio do conflito é rompido por um riso estridente e insano.
— Hhihihi! — gargalha, enquanto ergue o cajado. Sua energia maldita flutua no ar, como uma tempestade prestes a explodir.
Mas antes que o golpe seja desferido, um vórtice distorce a realidade à sua direita.
— Transmutatio materiae et status! — ecoa uma voz grave e resoluta.
Uma tempestade de ventos brutais atinge o monstro, desviando-o por um triz. Ainda assim, o impacto é devastador. Parte de seu peito, braço e ombro é arrancada, expondo ossos e carne despedaçada, enquanto seus pelos negros voam em fragmentos pelo ar.
Das nuvens de poeira, emerge Kryntt, os olhos ardendo como chamas e as mãos envoltas em energia que dança e se dissipa. Ele encara a besta com desprezo.
— Covarde desgraçado! Por que não tenta com alguém forte? — desafia, avançando com passos firmes e carregados de propósito.
A besta, atônita, sente um calafrio percorrer sua espinha. O predador, agora, parece ser a presa.
“Ah… esse cara… Eu nem consigo calcular ou sentir sua movimentação…”
Pensa, reconhecendo-o imediatamente.
Gabriel não perde tempo; em um movimento veloz, atravessa a cabeça da entidade com um golpe preciso, exorcizando-a em uma explosão de pura energia e força física.
— Que merda… Tive uma noite tão boa, para acordar no inferno! Por Elum! — desabafa, passando a mão pelo cabelo desgrenhado enquanto observa os fragmentos da entidade se dissiparem.
O exorcista celeste então encara o amigo, que estava surpreso.
— Que foi?
— Ehr… nada, só… não sabia que você era tão agressivo assim! — responde, virando o corpo rapidamente para o horizonte, onde dezenas de outras criaturas similares se aproximam.
— Eles são fracos, mas… são muitos!
Kryntt analisa a situação, os olhos percorrendo rapidamente o ambiente enquanto franze o cenho.
— São fracos porque estão conectados ao mundo físico! — explica, em tom carregado de urgência. — Alguém está manipulando esse evento… Não faz sentido!
Flashes de memória invadem a mente do celeste naquele instante.
— Realmente…
“Esses jovens… até que não estão tão ruins nos estudos!”
Ele reflete, brevemente.
Essas entidades não deveriam sequer ser visíveis aos humanos, muito menos capazes de causar tamanha destruição. Além disso, o poder delas é incomparavelmente inferior ao de seres originais.
A conclusão é óbvia.
— Algo ou alguém está corrompendo as leis naturais!
— É… eu já sei até quem poderia fazer uma merda dessas… — Antes que Kryntt pudesse concluir, uma descarga elétrica colossal os atinge, o impacto explodindo o local em milhões de fragmentos.
A destruição é visível do outro lado da cidade. Onde havia uma loja, agora só restam escombros…
E no epicentro desse caos, uma figura demoníaca emerge. Sua forma é monumental, envolta por um céu tempestuoso carregado de relâmpagos.
Grandes asas de morcego se erguem imponentes, enquanto chifres retorcidos adornam sua cabeça. Espinhos cobrem seu corpo grotesco, e no centro de seu peito, uma luz azul pulsa como um coração energizado.
— Hahahahaha! — Sua risada ecoa, vibrante e enlouquecida. Relâmpagos dançam ao redor de sua figura enquanto ele estende os braços, absorvendo a energia ao seu redor. — Não acredito que posso sentir a eletricidade novamente percorrer meu corpo!
É aterrorizante…. A nova criatura exala uma aura de poder tão intensa que o próprio ar parece vibrar em sua presença.
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