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    Finalizando a caçada…

    O ser se encontra diante de um cenário saído de um pesadelo distorcido e inquietante da mente de Gabriel, onde a realidade se curva e se retorce perante a estranheza.

    É um daqueles momentos em que se acorda tomado por uma única pergunta: “Que diabos é isso?”

    A floresta seca, mais parecendo um cemitério de ossos e galhos quebrados, se estende como um mar de destruição. O vento cortante farfalha entre os restos de árvores, enquanto corujas esqueléticas cantam a sua chegada.

    Mas ele não teme, por estar de olhos ferozes, a besta observa com eles aquela paisagem desolada, onde tudo se parece familiar e, ao mesmo tempo, estranho.

    Ele já caiu em um domínio inato antes, e se não foi exorcizado, foi porque teve sucesso em se livrar…

    Mas esse atípico cenário é como se tivesse saído diretamente de O Estranho Mundo de Jack, onde cada árvore e cada sombra parecem lhe contar uma história. Ali, naquele limbo, sente a continuação de sua prisão imposta, a prisão do cubo, que o mantém selado por tanto tempo, afastado de tudo, até mesmo de sua própria essência.

    — Sério? Não tem nada melhor não? — sua voz ecoa.

    Quem desdenha é a entidade demoníaca que é meio pássaro, meio demônio, uma aparência que faz qualquer um hesitar em se aproximar. Suas asas, cobertas de penas que parecem feitas de sombras, batem suavemente, diante da brisa do mal. O bico, grande e afiado como o de um tucano, se curva com um sorriso grotesco, e os dentes afiados, como os de um crocodilo, reluzem com ameaça.

    Está confiante… até demais…

    As mãos e pés humanos, desproporcionais, parecem ter sido criados com pressa, como um experimento que saiu errado.

    — Então, você conhece? — Gabriel finalmente se revela, sentando-se em um galho seco que range sob seu peso. — Oh, você é… cruza com o quê? Um tucano que fodeu um resto de aborto humano? — Ele zomba, a ironia e o escárnio dançando em suas palavras.

    “Ele é mais esperto… Que aquele vermelhão…”

    Tenta levar aquele trabalho meio tedioso para o campo da brincadeira, mas não é como se isso lhe desse prazer, não…

    “Merda… acho que a piada foi para o saco…”

    Pensa, desviando de um disparo mortal de penas afiadas que cortam o ar com uma precisão que suas barreiras não conseguem segurar, derrubando a pobre árvore em que estava.

    “Ele é mais forte… também!”

    — Acha engraçado, é? Mas sua cabeça parece um pênis… — ele devolve, mais ácido, enquanto os olhos brilham com um ardor hostil.

    De repente, o demônio ergue as asas, exalando uma aura negra que parece engolir o ambiente antes de disparar novamente suas penas afiadas como lâminas.

    Desta vez, porém, o ataque é uma verdadeira barragem. O exorcista, forçado ao limite, canaliza toda a força de suas pernas e se funde às sombras projetadas pelos galhos que voam ao seu redor.

    O resultado é devastador: milhares de árvores caem como se fossem feitas de papel, enquanto as mais próximas são reduzidas a pó, deixando o estrago impossível de ser ignorado.

    “Não vai me tratar como um mero figurante!”

    A entidade pensa, enquanto o exorcista pousa com firmeza no chão. Entre os dedos, a besta oculta uma rajada negra, que se forma em um instante. Sem hesitar, dispara-a, acompanhada de penas sombrias que cortam o ar, impulsionando a letalidade do golpe. O impacto é devastador, gerando um brilho incandescente que consome o terreno, erguendo detritos em todas as direções.

    Porém…

    No exato momento em que sua técnica é liberada, o adversário desaparece de sua vista, dissolvendo-se nas sombras com uma velocidade desconcertante. Ele se vira, buscando-o freneticamente, mas já é tarde demais.

    “Cadê?”

    Ele está atento, mas sua percepção não é suficiente!

    “Posso ter perdido na piada, mas você já era!”

    Gabriel, com um sorriso frio curvando os lábios, o observa. Em um movimento tão rápido quanto um piscar de olhos, sua mão toca o ser à sua frente, pegando-o de costas.

    — Xeque-mate!

    O poder se manifesta visceralmente: a carne do demônio começa a se distorcer, como cera derretida sob o calor implacável das chamas. Sua pele desmorona, fragmentos caem como folhas mortas, enquanto o corpo se molda grotesca e inimaginável.

    No ápice da transformação, o ser assume a forma de uma abóbora de carne, retorcendo-se em agonia. O som é inconfundível: carne dobrada, partindo e gritando, uma sinfonia de horrores. De repente, tudo cessa e ali está a criatura deformada, uma monstruosidade que parecia transcender o absurdo.

    Um dos olhos da entidade se revira lentamente, examinando o ambiente, os movimentos erráticos, provocando uma sensação de desconforto, mesmo no exorcista… O sangue púrpura escorre, gotejando, tingindo o chão aos seus pés.

    É nojento e, ao mesmo tempo, fascinante, como se o caos tivesse encontrado uma forma de ser belo em sua própria perversidade…

    — Cada pesadelo bizarro que tenho… — ele murmura, a voz quase um sussurro.

    Então, flores-de-sangue surgem ao redor do que restava do ser, preenchendo o campo de terror, quase cósmico.

    Já vi sonhos malucos, mas assim? Só carecas mesmo.

    E, em um instante, ele desaparece.

    Reaparece diante do último desafiante. A criatura à sua frente não exibe confiança nem medo. Está neutra, como se sua própria existência fosse um mero acaso, mas algo em seu instinto primal ruge: este inimigo não é como os outros.

    Sua aparência é estranhamente humana. Traja um sobretudo cinza que parece antigo, com fios de cabelo castanhos-claro desalinhados sobre o rosto pálido.

    Os olhos, vermelhos como brasas, parecem comuns à primeira vista, exceto pela intensidade flamejante que queima na íris. Seus lábios estão manchados de sangue púrpura, e o único sinal inconfundível de sua verdadeira natureza é o chifre que brota do lado esquerdo de sua cabeça.

    “Quanto mais humana for a forma, mais forte a entidade…”

    Esse pensamento cruza a mente do exorcista como um aviso tardio, enquanto algo no ambiente parece… errado. Antes, as duas figuras que o encararam na escadaria eram disformes, animalescas, perceptíveis mesmo envoltas em sombras.

    Mas este… não é nenhuma dessas entidades trevosas.

    — Quem é você? — Corta o silêncio.

    — Eu? — Responde, suspirando profundamente. Enquanto o corredor onde estão se solidifica em uma cena infernal. Estão na UTI de um hospital. As luzes oscilam, criando flashes que revelam macas abandonadas nos corredores. Sangue goteja das paredes e o cheiro de morte se espalha pelo ar. A luz pisca uma última vez antes de se apagar, deixando apenas o breu, como em um filme de terror. — Me chamo Melanchazel. Não pensei que perceberia tão rápido…

    — Você devorou o outro? — A tensão cresce como uma maré sombria.

    — Sim. Devorei!

    — Por quê? Vocês… não têm natureza canibal…

    — E quem disse isso? — Antes que a resposta possa ser completamente absorvida, uma força invisível o atinge. O exorcista recua um passo, mas o impacto é devastador. O chão abaixo dele desaba, rachando como se um terremoto tivesse sido invocado.

    “Ele ataca sem ao menos se mover.”

    — Você estava selado? — A pergunta escapa, uma tentativa de ganhar tempo e entender a ameaça à sua frente.

    Mas o demônio solta uma risada seca, cuspindo algo entre os dentes. É um dente enorme, maior que uma caneta, que rola pelo chão antes de parar.

    — Sim, eu estava selado, com outras entidades… — Ele lambe os lábios manchados de sangue. — Mas sabe… estou faminto. Muito faminto. E, para saciar essa fome, terei que te matar. Você não vai me deixar conseguir o que quero, vai?

    — Você é… uma entidade! 

    O exorcista desvia de mais ataques que vêm sem aviso, sem forma, movendo-se instintivamente enquanto o espaço entre ele e a sala de emergência se encurta sem que perceba. 

    A cada movimento, ele parece ser conduzido, como se um jogo estivesse em andamento.

    — Está confuso, não está? — Melanchazel sorri, seus dentes brilhando em contraste com a escuridão. — Mas é simples… Para ativar sua técnica inata, você precisa me tocar, não é? Então, basta não deixar que isso aconteça!

    Sua fala ecoa como uma canção profana, enquanto olhos surgem em suas mãos. Ele os ergue, observando atentamente o que está à sua frente.

    “O quê? Mas ele”

    — Como sei disso? Pode chamar minha dádiva infernal de clarividência! — Ele gargalha. — É até irônico, mas a cada refeição que faço, ganho fragmentos do futuro… ou do passado… e posso ir mais adiante com minha vidência!

    O exorcista sente o peso da revelação como um golpe. Sua técnica expansiva, sua maior carta no baralho de sua energia expandida, só funciona com um único toque.

    E, diante dele, o demônio parece disposto a nunca permitir que isso aconteça.

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