Capítulo 219 - Uma líder Contra, Um não Líder!
No exato momento em que o Grupo B desce a escadaria para o metrô, o Grupo C finalmente chega ao Shopping Tsentr Siyanie. Liderados por Elizabeth, os três jovens – Jacir, James e Marcos – penetram no local e, em poucos minutos, alcançam a praça de alimentação, agora transformada em um verdadeiro campo de batalha.
Antes que as bestas possam reagir, uma explosão repentina sacode o ambiente. Um feitiço de chamas ardentes irrompe, iluminando o espaço e consumindo tudo em seu caminho. A responsável pelo feitiço é a exorcista celeste.
“Tão fácil…”
Ela, posicionada à frente, observa com um prazer disfarçado enquanto os demônios se contorcem, tomados pelas chamas que ela comanda. Em seu olhar, há uma frieza inquietante, como se o sofrimento das criaturas fosse uma forma de justiça que ela controla com maestria.
A mulher brinca de Deus… ao menos quando seus adversários são demônios. Isso nunca mudou desde que entrou nesse ramo sombrio.
— Caramba… — resmunga Jacir ao lado, os ombros pesados e enfaixados, visivelmente exausto. Ele tem dificuldades para auxiliar os sobreviventes, suas pernas tremem enquanto tenta amparar os feridos. A maioria das vítimas apresenta ferimentos graves nos membros, e as consequências da batalha anterior ainda pesam sobre ele. Nem todos têm corpos adaptados à luz para se recuperar completamente tão rápido. — Ela é, sem dúvida, diferente de nós…
— Claro, índio, um exorcista celeste é, de fato, um celeste, né? E… nós? Caramba, ainda presos no grau três! — comenta Marcos, com frustração evidente, enquanto observa a disparidade de poderes entre eles.
Seus cabelos pretos refletem a luz incandescente escarlate, assim como seus olhos castanhos claros.
Zahira exorciza várias entidades com um único feitiço, enquanto eles mal conseguem lutar contra uma. Ele tenta se mostrar útil, mas sua resistência está se esgotando. Pois, enquanto Jacir ajuda dois, ele faz o esforço sobre-humano de carregar três ao mesmo tempo.
— Você…
— Deixa! — responde James, impaciente ao lado de Jacir, enquanto ajuda uma senhora a se manter de pé. Ele também lança um olhar para ela, que permanece imperturbável e focada, limpando a área com seu poder avassalador. — Ele é assim mesmo, Jacir… irreverente e cabeça-dura! — suspira, meio frustrado, mas continua seu trabalho sem reclamar mais.
Dos três, é o mais alto, com cabelo Black Power, corpo esguio e um olhar penetrante e escuro.
— Não é só ele… Ehr… eu não posso dizer muito!
Ele entende, mais do que gostaria, porque se sente tão inferior quanto.
Mas ela interrompe a conversa com uma postura decidida. Vira-se para os três, a expressão inabalável e as mãos na cintura, exibindo a confiança de quem parece capaz de carregar o mundo no bolso.
— Rapazes? Vou avançar! Fiquem atentos para resgatar os que eu deixar para trás. Não se arrisquem em batalhas. Mesmo sendo bons exorcistas, o perigo aqui é imenso, entenderam? — diz ela, com uma voz firme, implacável, quase indiferente ao caos ao redor.
Para ela, o cenário é apenas mais um desafio a ser superado. Mas, para brincar, eles teriam que ser maiores do que são…
— Certo! — respondem os três em uníssono, embora a voz de Marcos soe mais fraca, carregada de uma preocupação não dita. Ele quer ser mais do que é.
A insatisfação consigo mesmo consome ambos os rapazes, um contraste gritante com a confiança inabalável da líder que os guia.
Ironicamente, esse contraste define muito mais do que eles podem perceber.
— Ótimo… espero ver nossa equipe revendo, parabéns pelo trabalho!
Um sorriso de canto toma seus lábios.
Elizabeth se distancia mais. Eles sabem que mais de cem pessoas precisam de ajuda, mas a exorcista está decidida a seguir adiante, a deixar para eles tal trabalho, tal lição…
Para sair do shopping, ela salta da janela do terceiro andar com a mesma violência de sempre. Sua aterrissagem é pesada, e sua presença irrompe na poeira que se ergue ao redor de seus pés.
Em meio à névoa, o cenário fora do shopping é ainda mais devastador. Há buracos maiores que carros, sangue espalhado por todos os lados, corpos sem vida empilhados… E as trevas? Fervem, como se o próprio inferno se manifestasse em Crea.
A morte está ali, sem piedade, assim como o terror, o abandono e o medo do desconhecido. A energia do ambiente é mil vezes pior do que receber descargas e mais descargas de milhões de volts!
“Que caos… se isso não é o apocalipse, não sei o que pode ser…”
Ela pensa, permitindo-se, por um instante, questionar a situação. Mas logo afasta o pensamento, endurecendo a expressão.
— O império vai penalizar os sobreviventes… droga, foque, mulher! Você está aqui para exorcizar demônios, não para…
Ela se move como um vulto, enquanto esse último lampejo de consciência percorre sua mente.
Enquanto outro grupo sai do cinema no segundo distrito, o clima entre eles está longe de ser satisfatório, mesmo tendo cumprido a missão sem grandes contratempos.
Masaru caminha à frente, mãos nos bolsos, bufando como um garoto contrariado. Amai observa os arredores, claramente inquieta, e Yami mantém seu olhar fechado e severo, como uma máscara de alguém que preferia estar em qualquer outro lugar.
De todos os grupos que atuam nos distritos, o Grupo D é o mais temido.
Não por sua eficiência, mas pela caótica dinâmica interna. A união de personalidades tão díspares cria uma instabilidade que os superiores evitam lidar… Por isso, foram enviados para as missões mais insignificantes, longe das áreas críticas, quase como um fardo necessário.
— Sério que nos mandaram para cá? Segundo distrito… — resmunga Yami, sua voz carregada de desprezo, como se o simples ato de existir naquele espaço fosse uma ofensa pessoal.
Amai cruzou os braços, seu tom de voz carregado de ironia enquanto apontava o dedo acusador para o celeste.
— Culpa do senhor ali! — declarou, ainda que, no fundo soubesse que o trevoso também tinha parte na confusão. Meia verdade ou não, era o suficiente para acender uma fagulha.
Masaru apenas ignorou…
O grupo estava mergulhado no cansaço, uma exaustão que parecia pesar como uma sombra. Talvez nenhum deles tivesse realmente dormido, apesar das poucas horas disponíveis. Cada um carregava nos olhos marcas de uma noite mal aproveitada, mas o loiro parecia ser o mais afetado.
Caminhando alguns passos atrás dos outros, ele mantinha um ar ausente, como se a conversa ao redor fosse apenas um ruído distante. Na mão, a bússola girava em um movimento lento e quase hipnótico, enquanto seus olhos vagavam pelo céu — algo entre sonhador e melancólico, um reflexo de pensamentos que pareciam pertencer a outro mundo.
O silêncio que ele guardara desde o início da reunião foi finalmente rompido, sua voz soando baixa, quase hesitante.
— Não é tão ruim assim…
Os outros se entreolharam, surpresos com a quebra do mutismo, que até então parecia tão alheio.
A garota fecha os punhos e olha para o chão, frustrada.
— Eu só quero fazer a diferença, sabe? Não ficar sendo empurrada para lá e para cá como um estorvo! — Seus olhos brilham com uma pontada de vulnerabilidade antes de encarar Masaru. — E então, o que faremos, “líder”?
Ele dá de ombros, parecendo alheio à seriedade da conversa.
— Eu queria estar fazendo nada…
— Mas já que estamos aqui, que seja algo divertido, né? — interrompe, finalmente.
Masaru mal termina a frase e já dá um passo à frente, como se sua ideia já estivesse definida.
— Cara decidido…
— Hm… — Ela encara Yami enquanto sussurra.
— Go, terceiro distrito! Guys!
Antes que ele continue, Arthur segura seu ombro. O toque é firme, mas não agressivo. O loiro o encara nos olhos, com um semblante mais sério do que o habitual, que já é rígido como o de um professor.
— Posso seguir para o centro desse distrito? — Sua voz tem um tom que beira a urgência, mas é controlada. Ele suspira antes de continuar: — Preciso encontrar Kryntt… É urgente!
— Ehr… pode? — ele diz, sem graça, com uma atitude que praticamente ignora qualquer autoridade ali. No fundo, ele só quer exorcizar alguns demônios… Seu único e recíproco desejo!
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