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    No vale da morte, onde cadáveres jazem sob um deserto de concreto e areia, o vento carrega o eco de um silêncio ensurdecedor.

    Os ventos param de uivar, e no ar, o breu das mortes surge lentamente…

    A cratera que agora adorna Nova Tóquio é uma ferida aberta na terra, selada junto à lembrança da destruição… um impacto tão devastador que fez a cidade tremer.

    Prédios colapsaram à distância, pessoas foram feridas pela onda de impacto, e a neblina de poeira ofusca parcialmente a grandiosa e maior cidade do império Aijiano.

    E desbravando esse caos…

    — Zuri? — A voz sussurra próximo ao seu ouvido, rouca e urgente. Familiar o suficiente para fazê-la erguer o rosto, lentamente.

    Quem é? Quem mais poderia ser…

    — Ethan… Natalie… — murmura, forçando um sorriso fraco. Mas o brilho de seus olhos não reflete alegria, apenas o cansaço e a sombra de algo que os dois à sua frente não conseguem compreender.

    Eles se entreolham, horrorizados, como se o terror fosse um reflexo do que os aguarda. Ela está no limite…

    — Por Elum… — sussurra a garota. — Como?

    — Zuri… você… — Ethan tenta dizer algo, mas as palavras morrem em sua garganta.

    — Eu fui até onde deveria ir! — Sua voz sai rouca, quase um suspiro. — E vocês? Vão ficar me olhando ou me darão uma mão? — conclui com um suspiro carregado de exaustão.

    — Desculpa…

    O rosto dela está irreconhecível, coberto de sangue seco que escorre por suas feições e mancha as roupas em farrapos. Cada movimento parece um esforço monumental, mas há algo nela – algo além da dor e do sangue – que torna o ar ao seu redor ainda mais pesado.

    Junto a Natalie, Ethan hesita antes de ajudá-la a se levantar. Ainda assim, o estado dela não é tão perturbador quanto a vastidão que os rodeia… O horizonte, tomado por um breu absoluto, parece vivo, pulsando…

    — Então, este é o poder de um demônio original… — murmurou, a voz pesada, quase um sussurro de resignação. — Não importa o quanto tentássemos, jamais teríamos uma chance real!

    — É aterrador… — ela comentou, um brilho de admiração e temor refletindo em seus olhos. Por mais que, em algum momento, tivessem acreditado estar se aproximando daquele nível, agora parecia que os degraus haviam se tornado infinitos.

    E a frente deles estava uma das exorcistas mais formidáveis da história.

    Não era apenas força ou habilidade; era algo mais profundo, quase inatingível. Ela havia conseguido aquilo que incontáveis outros tentaram e fracassaram: subjugar uma entidade que domava as trevas com suas mãos.

    Mas, com o foco em mente, avançaram… cada passo adiante é uma luta contra a sensação de asfixia que cresce no peito e uma pergunta ecoa: para onde foi a vida?

    As plantas, as construções, as pessoas… tudo se dissolve, como poeira.

    É mais um trio do que um grupo. Mas onde está Myazaki? Ele, o homem que, mesmo diante do caos apocalíptico, parece alheio a qualquer senso de dever ou moralidade.

    Ethan e Natalie trocam olhares para o horizonte, seus pensamentos se cruzando em silêncio. Estará ele vivo?

    Infelizmente, sim.

    Nesse exato momento, Myazaki chuta o corpo de um civil contra as grades de uma passarela abarrotada de sobreviventes. O som metálico reverbera entre os gemidos abafados do homem e os sussurros aterrorizados de quem assiste, paralisado pelo medo.

    Mulheres agarram crianças contra seus corpos; homens mais velhos desviam o olhar, incapazes de intervir.

    — O que disse, cadela? — ele zomba, um sorriso retorcido dançando em seus lábios enquanto inclina a cabeça, observando sua presa com um misto de fascínio e crueldade. O homem, com as pernas trêmulas, mal consegue segurar nas grades frias que o sustentam, sua respiração entrecortada pelo desespero. — Vai repetir? Não vai dizer mais nada? Hein?

    O civil apenas geme, derrotado, seus sons se misturando aos gritos abafados das mulheres e ao choro apavorado das crianças.

    — Desculpa… — ele sussurra, a voz fraca, um sopro de esperança na busca pela própria sobrevivência.

    Myazaki se inclina ainda mais, seus olhos frios como lâminas refletindo um abismo de desprezo.

    — Desculpa? — ele ri, uma risada seca e sem vida, como o estalar de galhos secos. — Só depois de levar um chute você encontrou sua consciência, verme? Vocês… me divertem. Se acham tão críticos, tão superiores… Mas quando o mundo desaba, a quem correm? Aos exorcistas.

    Sua aura começa a pulsar, opressiva, uma presença gélida que rouba o calor ao redor.

    — Deveriam me venerar. Eu deveria ser um deus para vocês!

    Ele crava novamente o olhar no homem, sua expressão agora uma mistura de loucura e convicção distorcida.

    — Por favor… — o civil balbucia entre soluços, lágrimas e suor escorrendo por seu rosto.

    — Só Elum oferece salvação, perdão e compaixão — ele declara, num tom quase sacerdotal, enquanto conjura um escudo reluzente que, com um movimento rápido, transforma-se em uma lâmina.

    Em um único golpe, ele corta as pernas do homem. O sangue esguicha, salpicando as paredes translúcidas e arrancando gritos de horror da multidão.

    Crianças choram, mulheres recuam, e o silêncio pesado da impotência paira no ar.

    Nesse instante, Ethan, Natalie e Zuri chegam. A celeste está apoiada nos ombros dele, sua respiração ofegante.

    E quando os três vislumbram a cena, o choque é imediato.

    — Que merda tá acontecendo aqui? — Ethan murmura, passando Zuri para os braços da parceira enquanto seus punhos tremem. Ele avança, o peito arfando de ódio. — O que você pensa que está fazendo, seu desgraçado?

    Myazaki se vira, seu olhar entediado, como se estivesse sendo interrompido em um jogo de passatempo.

    — Lá vem… — ele suspira, quase teatral. — O que foi agora? Só estou educando esses imbecis. Você tem algo contra, vira-lata?

    A palavra ecoa na mente, acendendo uma chama de fúria incontrolável.

    “Não acredito!”

    Pensa a exorcista enquanto mantém a postura firme, seus cabelos castanhos sendo agitados pela ventania que sopra com força.

    “Esse maldito herdeiro…”

    — Vira-lata…? — ele repete, incrédulo, antes de soltar uma risada amarga. — Então, além de xenofóbico do caralho, você é um maldito psicopata?

    O ar ao redor começa a vibrar. Sua aura explode como um incêndio, uma pressão avassaladora que faz até os sobreviventes recuarem mais do que já estavam. O calor de sua raiva queima, chocando-se com a frieza calculista de Myazaki, que o observa com um sorriso quase divertido.

    — Ora… está irritado, vira-lata? Que adorável. Vamos ver se o ódio vai te fazer algo além de me entreter!

    O ar é límpido, as estruturas são abaladas…

    Uma ode à sua arrogância…

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