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    — Oh…

    A criatura encara as áridas terras do Deserto dos Fantasmas, onde a areia dança como uma tapeçaria de murmúrios, carregando ecos de vidas extintas. O horizonte queima em tons de âmbar e cinza, como se o próprio céu fosse uma tela desgastada pelo tempo.

    — Beheel… Então, também falhou?

    A voz de Alum corta o ar com uma serenidade cortante, como a lâmina que ele sempre carrega consigo. O ser colossal se vira lentamente, e por um momento, a tensão no ambiente se dissipa. O semblante permanece calmo, quase resignado, como a brisa suave antes de uma tempestade inevitável.

    — Meu derradeiro senhor… — Sua voz grave ecoa como um trovão abafado.

    — Por que essa felicidade? Você… morreu, não?

    Beheel permite que um leve sorriso curve seus lábios, como quem já conhece todas as respostas e aceita o inevitável.

    — Morri… mas de que adianta a agitação diante do imutável? — Ele se senta, e o impacto de seu corpo gigantesco espalha-se pelo solo como um tremor. Seus olhos, outrora ardentes como brasas, agora são poços apagados de um fogo extinto. — Sei que… meu fim está no fio de sua lâmina, como diz a tradição. Quando me acolhe como teu filho, ó, pai, me concede duas escolhas: ao término de minha luta, entregar-me eternamente a ti, servindo inteiramente ao propósito que me deste; ou desafiar tua vontade, carregando para sempre o fardo de rejeitar a dois senhores.

    Alum permanece em silêncio por um momento, observando o gigante à sua frente, como se pesasse cada palavra dita.

    — Como você não me negou, será parte de mim… — Sua voz é um misto de admiração e frieza. Ele tem sentimentos? Claro, Elum faz apenas seres pensantes e viventes. Aqueles que não os têm são fracos de alma e existência. — Mas é incrível… você não demonstra arrependimento mesmo após o fim. Mesmo que o Criador prometa salvação a todos, ainda haverá aqueles que não estarão contentes… como eu!

    Beheel inclina a cabeça ligeiramente, seu olhar perdido no horizonte distorcido do deserto.

    — Não posso dizer muito sobre suas escolhas, meu senhor, nem teria como, já que sou apenas um servo. Mas… — Ele hesita, sua voz carregando um peso inconfundível, enquanto a certeza transborda dele. — É sobre ser grato pelo que tem… e sentir um dever para com isso!

    — Hm… — Alum estreita os olhos, quase intrigado. — Quem diria que, debaixo dos músculos e dessa aparência brutal, existisse tamanha sabedoria, conde Beheel!

    O banido ergue sua lâmina, reluzente e afiada, apontando-a para o peito do gigante. Mesmo assim, a diferença de estatura o força a ajustar sua posição.

    — Me lembrarei de suas palavras, mesmo que na eternidade!

    — Burro, mas… não inconsciente, senhor! — O demônio se inclina para frente novamente, segurando a lâmina com firmeza e aproximando-a de seu próprio pescoço. Seu olhar encontra o de Alum, e naquele instante, silêncio e compreensão pairam entre os dois.

    Com um movimento preciso, Alum ceifa, não apenas a vida de seu servo, mas o que resta de sua essência. Um brilho tênue se desfaz no ar, como fragmentos de uma memória que já não pode ser acumulada.

    Pois não é a morte física que verdadeiramente marca o fim. O corpo é mutável, passageiro. Mas a alma… ah, a alma é uma constante, inabalável em sua essência. Não se molda uma alma como se molda um metal. Ela é o que é, desde as raízes até os galhos mais altos. E assim, para sempre será!

    Enquanto o segundo original caía, os dois exorcistas estavam no ápice de seu embate, cada movimento carregado de tensão e cansaço. Ethan, já suado e com os músculos tremendo, enfrentava uma maré de poder imensa. Diante dele, o maior prodígio do clã Watanabe, um jovem com um olhar de gelo, que não hesitava em usar sua técnica inata, devastadora e insidiosa. 

    Ele havia consumido as cinzas de seu tio, absorvendo sua essência e agora dominava a técnica do espantalho como se fosse uma extensão de seu próprio corpo.

    “Caramba… com a técnica do espantalho, é quase impossível eliminá-lo… Todos os danos que eu o inflijo, ele simplesmente os transfere para o boneco!” 

    Ethan pensava, seus músculos queimando de exaustão. Cada golpe que ele desferia parecia em vão, pois a técnica do espantalho o tornava invulnerável. O boneco materializado atrás do Watanabe era sua âncora, o mediador entre os ataques e o próprio corpo do exorcista, os fios invisíveis conectando-os de maneira quase imperceptível. 

    “Como ele consegue manipular sua técnica inata dessa forma? Ele faz a ativação, a restrição… tudo fora da sua expansão. Como?”

    Aquele cenário era uma desvantagem esmagadora, e a frustração dele só crescia. Ele estava em seus limites, mas não poderia ceder. Sabia que qualquer erro agora significaria a morte…

    Foi quando Miyazaki, preparando-se para conjurar um feitiço, ouviu o estrondo de ataques à distância. No céu, uma esfera negra surgiu, engolindo o ar ao seu redor.

    As cortinas de nuvens se abriram, como se o próprio firmamento estivesse sendo rasgado, e uma luz radiante emergiu de dentro daquela escuridão. Um portal celestial se abria, como se as portas do próprio céu se abrissem para julgar os mortais.

    Foi nesse exato momento que Natalie aproveitou a brecha. Ela, com sua agilidade, flanqueou a posição de Miyazaki, de pés à escadaria, e sua presença se impôs, como um predador com a presa à vista.

    — Ei… Você está acabado! — disse ela com uma confiança imbatível, seu dedo irradiando uma luz cegante, como se sua própria essência fosse forjada no próprio poder divino. O brilho era inconfundível, e o impacto dessa técnica seria fatal, sem possibilidade de escapatória. — Ninguém, nem o exorcista mais forte, poderia escapar de um golpe de luz sem estar dentro de seu domínio… desista agora!

    Aquelas palavras reverberaram na mente dele, mas a raiva só cresceu. Ele, desferindo um sorriso amargo, respondeu com desdém:

    — Merda… — ele abaixou as mãos, exalando uma sensação de derrota iminente, mas não sem lançar uma última provocação. — Sua namorada te salvou, hein, vira-lata!

    E então, antes que ele pudesse reagir, a fúria explodiu. Em um movimento rápido, ela o empurrou com um chute, sem paciência para mais provocações.

    — Seu merda! — sua voz rasgou o ar, sua energia a transbordar de raiva.

    Por azar, Miyazaki consegue se manter firme, segurando-se contra a força do golpe, evitando cair. Mas o olhar em seus olhos já denuncia algo: ele sabe que sua resistência não será suficiente. São dois contra um, e em qualquer cenário, quando dois exorcistas se voltam contra um, é muito desvantajoso, mesmo que sejam dois fracotes…

    — Vai continuar? — Ethan se acalma. — Hein?

    — Não! — ele quase quebra os dentes, fazendo a mordida de cima bater contra a de baixo. — Me rendo!

    Ele escapa, por hoje, mas… os danos de suas ações refletem na face de Zuri, que não deixará passar!

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