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    O ar é sufocante, carregado de uma densidade que esmaga qualquer tentativa de respirar com facilidade. O calor, abrasador, parece rivalizar com a superfície de uma luminescência no céu.

    Nenhuma estrutura sobreviveu acima do solo; tudo está obliterado. Os dois fragmentos de energia que colidiram foram tão intensos que aniquilaram a matéria, deixando para trás um vazio absoluto.

    Elizabeth, a exorcista, permanece como a única figura intacta naquele campo desolado. A entidade, outrora uma presença aterradora, se desfaz em partículas de poeira aos seus pés.

    Seu corpo está nu, marcado por cicatrizes que narram histórias de batalhas passadas e do sacrifício que a conduz a este momento… uma verdadeira guerreira inabalável, capaz de aniquilar duas entidades originais!

    — Caramba… ele liberou toda a carga em mim! Esperava mais… — diz ela, cuspindo sangue enquanto cai de joelhos. Sua respiração é pesada, mas os ombros relaxam em um aparente alívio. — Eu disse… que dava conta! Seu pivete de merda!

    — Ér… você disse mesmo, Elizabeth. Até que você não é tão fraca… — Ele também se ajoelha, adotando uma postura quase fetal, seus olhos revelando uma mistura de admiração e decepção. — Um demônio equivalente a você é raro… eu faria tudo para encontrar um, sabia?

    — Essa é a sua maneira de reconhecer minha força? — retruca, entre o cansaço e a ironia.

    — É… pode-se dizer que é. — Um sorriso estranho surge em seus lábios enquanto seu olhar se perde. Ele sente o campo de batalha se transformar em sua mente: o cenário de destruição se torna um terreno claro, quase plano, onde as trevas restantes podem ser mapeadas. Ele distingue entidades malignas como ilhas em um mar de vazio até que uma aura abissal, imensa e sufocante, chama sua atenção. — Acho que achei algo… algo que pode estar além de você! — Sua voz se torna psicótica, seus olhos brilhando com uma excitação perturbadora.

    De repente, ele sorri largamente, inclinando a cabeça de forma despreocupada.

    — Melhor eu deixar isso para o Daniel Lopez!

    — Daniel? — Arqueia uma sobrancelha, surpresa. — Você consegue sentir ele também?

    — O quê? Você não? — Ele parece genuinamente espantado.

    — Não! Por Elum… — A exorcista engasga novamente, vomitando mais sangue enquanto apoia as mãos trêmulas no chão. — Achei que só Gabriel e Zuri tivessem essa sorte… de enxergar energias como um todo!

    — Mas… isso não é comum entre celestes?

    — Não! — Ergue os olhos, como pode, exausta, mas com um olhar incisivo. — Veja bem… ninguém nunca te explicou isso, não é? Tornar-se um exorcista celeste significa se conectar ao máximo consigo mesmo. Vocês têm conexões neurais e sensoriais elevadas ao limite. Já eu… bom, não posso dizer o mesmo. Minha afinidade é física, maleável… eu faço o impossível parecer possível! — Sua aura começa a fluir e a se estabilizar enquanto ela recupera o controle. — Mas, até nisso, somos diferentes. Elum fez o homem à sua imagem, e não à imagem de seus irmãos!

    As palavras pairam no ar, carregadas de significado, enquanto o cenário devastado reflete a profundidade do que é dito. Mas… ela diz isso ao mais excêntrico de todos!

    — Que irônico… sabe, Zahira, meu único talento não se resume a isso. Eu também posso ser maleável, e minha afinidade física é extraordinária. Então… — Ele se levanta, o semblante carregado de convicção. — Sou o ápice de um exorcista!

    Será verdade? Seria ele realmente o melhor?

    Enquanto o autoproclamado mais forte entre os exorcistas se vangloria em algum canto distante daquele distrito, o grupo E, o mais esquecido e negligenciado de todos, enfrenta sua maior crise.

    Daniel Lopez, o último dos celestes que eu, autor, apresento, está frente a frente com a entidade Liliel.

    Suas vestes nada condizem com a gravidade do momento: uma bermuda floral de verão, sem camisa, um monóculos de sol, um crucifixo pendurado ao peito e um chapéu de praia desproporcionalmente extravagante cobrindo a cabeça.

    É um contraste gritante com o cenário caótico de destruição ao redor.

    Ele esfrega o nariz, como se enfrentasse uma simples tarde ensolarada, e olha para o lado.

    — Cacete… Oh, Wotecoski, está bem?

    Entre os escombros de uma lanchonete, uma figura se levanta com esforço. Karoline Wotecoski, a mais nova promovida ao grau V, se ergue ofegante.

    Sua técnica inata é conhecida por sua peculiaridade, mas parece insuficiente diante da carnificina.

    A jovem afasta os cabelos loiros escuros do rosto, respirando com dificuldade. À sua frente, há uma carcaça inerte — o corpo destroçado de seu parceiro.

    — Ah!!! — ela grita em um misto de desespero e incredulidade, jogando para longe os ossos que ainda segura. — E-eu… estou bem, mas… Dante foi falar com Elum! — gagueja, limpando a poeira do rosto enquanto se força a ficar em pé.

    De seis, apenas os dois ainda estão vivos.

    Mas o foco está ao longe. Liliel observa, seus lábios se curvando em um sorriso maléfico. A criatura exala uma aura sufocante, como se o próprio ar ao redor fosse absorvido por sua presença.

    — Morreu com um único disparo negro… — diz entre suspiros, cerrando os punhos enquanto seus cabelos ruivos são levados pelo vento da destruição.

    A entidade gargalha, inclinando-se para frente, os olhos como fendas brilhantes no rosto perfeito e assustador.

    — Que patético… Nem ao menos inimigos decentes terei! — murmura, analisando Daniel.

    “Sério? Serei derrotada pelo poder da amizade? Ou será que esse tal celeste é bom?”

    Ela ergue um dedo, a unha longa e afiada refletindo a aura fantasmagórica ao redor, onde todos os rostos que ceifou se manifestam.

    — Você, celeste… lutaremos sozinhos, está bem? E aí, talvez, eu não mate esse seu cachorrinho que chama de companheira!

    Karoline sente o sangue ferver. Seus olhos castanhos, cheios de indignação, cravam-se na entidade.

    — Ei! Ei! Cachorrinho é a sua avó! — grita, cruzando os braços e forçando uma postura confiante, apesar do cansaço.
    “Sua sorte é que eu não comi nada, maldita…”

    Ela olha ao redor. Não resta mais ninguém. Todos os corpos demoníacos foram apagados da existência pelo exorcismo.

    Mas Daniel dá um passo à frente, o crucifixo reluzindo no peito suado.

    — Deixe comigo, menina… — diz, e o tom cômico não passa despercebido.

    Seu olhar, uma mistura de confiança e despreocupação, lembra um herói de filme B.

    Ele infla o peito e aponta para Liliel.

    — Vou mostrar a todos que, vencendo essa diaba, sou o mais trabalhador entre os exorcistas! — exclama, enquanto lágrimas escorrem dramaticamente de seus olhos.

    “Nunca mais me chamaram de vagabundo!”

    Liliel arqueia as costas, estreitando os olhos, confusa.

    “Que tipinho… parece… um palhaço!”

    Ela zomba, mas sente algo estranho.

    Ele, mesmo ridículo, possui uma presença quase magnética. Sua coragem e otimismo inabalável brilham como uma chama que não se apaga diante da mais sombria entidade.

    “Que nojo… mas…”

    — Se for tão poderoso quanto é ridículo, vou me divertir! — ela provoca, preparando-se para o confronto.

    O que não sabe é que, por trás daquele sorriso fácil e postura despreocupada, está um celeste capaz de carregar o peso do mundo inteiro nas costas, tudo com a leveza de quem encara a vida como uma grande piada cósmica.

    Desde que se entende por gente… a zoeira é sua maior força!

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