Capítulo 237 - Quatro Espíritos de Vingança!

Alguns minutos antes…
O ar está pesado, quase sufocante. O cheiro de ferro e podridão impregna o ambiente.
Kryntt, ajoelhado no chão, está coberto de sangue púrpura e gosma. Suas mãos rasgam com brutalidade a criatura colossal que se contorce sob ele. O demônio, imenso como uma baleia, urra com uma fúria que faz o chão tremer.
Ele rasga as entranhas como um predador emergindo da presa, em um ato visceral e primitivo.
Quando finalmente sai, arfando como um animal acuado, seus olhos capturam uma figura inesperada caminhando em sua direção. Sangue escorre de suas roupas, e os músculos de seu rosto se contraem em uma mistura de exaustão e alívio. É Arthur. O loiro carrega uma bússola nas mãos, que reluz com um brilho opaco — um artefato impregnado de escolhas difíceis.
Com um sorriso sem graça, ele toma sua decisão. Joga o objeto para Kryntt, que o pega com uma expressão confusa, seus dedos ainda sujos de sangue demoníaco.
— Achei que já tinha morrido!
O exorcista, com as vestes grudadas ao corpo, encara o artefato, tentando entender.
— Eh… O que isso significa?
Arthur suspira e desvia o olhar.
— Decidi não usar essa merda. — Ele finalmente admite, virando-se de costas, como se as palavras fossem difíceis de suportar. — Quero vingá-la, mas vender minha alma? E nunca mais vê-la, mesmo depois de morto? Não… não vale a pena!
As palavras dele tocam Kryntt, que olha para o objeto em suas mãos. Por um momento, vê o reflexo de sua própria face desgastada. O nó no estômago é inevitável.
— É… — murmura, com um sorriso amargo. — Embora esteja certo, não sou muito bom em tomar decisões corretas. Acho que devo minha vida a Hazan por isso.
Arthur solta uma risada baixa, como se todo o peso do mundo tivesse sido retirado de seus ombros.
— Bom proveito, então! — Ele zomba, mas sua acidez carrega um alerta sutil. — Quem sou eu para medir o fundo do poço que cada um alcança? Confesso que eu não o usaria para me vingar… mas quase o usei para te encontrar!
A sinceridade arranca um sorriso dos dois. Por um breve instante, naquele inferno, eles encontram um vislumbre de humanidade.
Enquanto isso, dez minutos depois, a humanidade parece um diamante bruto, ainda não lapidado, aos olhos de um exorcista.
Yami Yamasaki caminha lentamente, sua figura uma sombra que consome o mundo ao redor. Cada passo faz sua aura pulsar, ondas invisíveis, mas poderosas, forçando as criaturas remanescentes a se esconderem em seus covis, temerosas de serem reduzidas ao nada. O chão sob seus pés range em protesto silencioso, como se até mesmo a terra não estivesse preparada para sustentar o peso de sua presença.
Ele sente. Sabe quando algo dentro de si se desalinha. É um desvio quase imperceptível que transforma a apatia em uma ira gelada, tão cortante quanto uma nevasca.
Seu transtorno transborda, escapando como vapor de uma chaleira prestes a explodir.
Dentro de sua mente, o demônio que habita sua alma brama como um trovão. Sua voz ecoa entre pensamentos desordenados, mostrando um caminho a seguir.
— Sério? — murmura, os olhos semicerrados enquanto dialoga consigo mesmo, ou melhor, com o parasita que divide seu ser. — Você realmente quer isso? Que sejamos nós a matá-la? Sua amada, nada menos…
“Pirralho, você nunca entenderia!”
O tom do demônio mistura raiva e desespero, um grito abafado por séculos de tormento. Ele nunca o viu assim: tão covarde, tão desistido, como nunca fora desde que se uniram.
— Ah, entendi, a velha desculpa de sempre! — o garoto solta um riso seco, sem humor, que corta o ar como uma lâmina. — O que ela quer? Ou o que você quer?
“É o que ela quer… e o que deve ser feito!”
A voz de Azaael se ergue como um rugido.
“Luciel… aquele desgraçado… ganhou. Ele nos colocou nessa posição, como sempre faz! Me acha uma merda? Haha, não há nada pior que um sádico que se acha um santo! Ele é um…”
Yami continua andando, franzindo a testa, pensamentos colidindo com as palavras de Azaael.
— Não há outra forma mesmo? — pergunta, com indiferença que beira a provocação.
“Não! Se Liliel fugir, será caçada e morta como traidora. E, se escolher o lado oposto, o nosso, se tornará inimiga de dois senhores… uma sentença pior que a morte! Não há como escondermos um demônio… garoto…”
O silêncio que segue é tão pesado que parece que o mundo ao redor também espera por uma resolução.
— Então… você escolheu matá-la pelas minhas mãos? — ele balança a cabeça, incrédulo. — E ainda quer que eu tenha pena de você?
“É melhor assim…”
Azaael hesita, como se o peso de suas palavras quase o esmagasse.
“Eu não poderia suportar vê-la cair pelas mãos de outro. Se for inevitável, prefiro que seja você, pirralho!”
— Mas por que não você?
O exorcista para, olhando para o céu, como se a resposta estivesse escondida entre as nuvens do firmamento.
“Se eu tomar o controle agora, morreremos. Existem exorcistas demais aqui, e, por mais que me doa admitir… você é mais forte do que eu neste estado. Só… garanta que ela não sofra.”
Por um instante, a voz do demônio treme, como se fosse um homem à beira do pranto.
Yami suspira, apertando os punhos.
— Que desgraça… você e suas emoções só me arrastam para o inferno. Mas tudo bem, eu faço!
Ele chega a um cruzamento. O cheiro de energia e sangue fresco paira no ar. Não precisa ver para saber: a luta está próxima.
— E depois disso? — enfim pergunta, a voz baixa, quase como se falasse consigo mesmo. — O que fará depois que ela for exorcizada? Desistirá?
“Vingança! Irei navegar no mesmo barco que você, pirralho!”
A resposta vem rápida, afiada, como se já estivesse esperando pela pergunta.
“Eu usarei seu corpo, garoto. Eliminarei Luciel com minhas próprias mãos. Ele terá tirado tudo de mim… e não haverá mais nada a perder…”
Yamasaki ri novamente, mas o som é sempre vazio, como uma concha esquecida pelo tempo.
— Isso é trágico. Você vive um drama pior do que os que eu já vi!
“Essa é a vida de um demônio…”
Azazel pausa, sua voz agora carregada de algo mais profundo, quase humano.
“Por quanto tempo você acha que poderá evitar isso, Yami? Viver é criar raízes… não importa o quanto lute contra isso.”
Yami hesita, sentindo algo estranho. Há um peso que não deveria estar ali, como se as emoções dele começassem a infiltrar-se em sua própria alma.
“Somos mais parecidos do que você imagina, garoto…”
O demônio murmura por fim, quase como uma maldição.
O jovem sabe que ele está certo. As almas deles se fundem, e não é apenas isso — é a razão e a experiência nas palavras de Azazel que lhe dão um calafrio profundo.
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