Capítulo 242 - Onde Está tu?
Azaael observa de longe, olhos apagados, alma em convulsão.
“Acabar é o que torna tudo belo…”
As palavras ecoam em sua mente, como um mantra de resignação. Ele sabe que o fim é inevitável, mas ainda assim, permite-se assistir, omisso, enquanto o que uma vez foi amor se transmuta em ódio voraz nas mãos de Yami.
Liliel, por outro lado, encontra força no caos. Cada golpe, cada sombra que manipula contra o jovem é como um sussurro do destino lhe dizendo que o fim daquele pesadelo está próximo. Seu coração, embora ferido, pulsa com uma intensidade quase divina.
— Amplificator vulneris! — Yami ruge, desferindo um golpe brutal.
As chamas negras explodem no peito dela com uma força indescritível. A dor é uma revelação. Não física, mas existencial. Uma cratera, vasta como um bairro inteiro, rasga o solo, consumindo os restos de um lugar que já não importa. As chamas sombrias dançam, imponentes, mas milagrosamente poupam tudo além do chão.
Ela desaparece, engolida por sombras, apenas para reaparecer ajoelhada, mãos pressionando a ferida. Seus olhos brilham com algo entre esperança e determinação.
“Agora!”
Liliel não está disposta a cair sem lutar. A escuridão ao seu redor toma forma, e Lilith, seu dragão, ruge com ferocidade. De sua boca, milhares de esferas negras disparam como mísseis mortais, direcionadas às costas de Yami.
— Maldita! — ele vocifera, enquanto as esferas o atingem em cheio, lançando-o para frente.
Seus braços estão dilacerados, as vestes rasgadas e corroídas pela energia maligna. Antes que possa iniciar sua regeneração, Liliel e sua serva já estão sobre ele, golpeando com força avassaladora.
Ele segura ambos os ataques, sangue jorrando de suas mãos enquanto um gemido escapa de seus lábios.
“Está te dando sufoco, Yami? Haha! Essa é minha garota!”
Porém, o sorriso de superioridade não dura em Azael. Num movimento inesperado, ele agarra o rabo do dragão e a perna de Liliel, arremessando-os em direções opostas com uma força descomunal.
— Flammae spiralis attrae!
Uma espiral de chamas negras emerge, consumindo tudo em seu caminho. O rugido do fogo é ensurdecedor, e as labaredas se tornam uma visão infernal.
Liliel é reduzida a um corpo em chamas, lutando para regenerar sua pele queimada. Lilith, por sua vez, é exorcizada, sua essência banida instantaneamente para os confins do vazio.
— Sufoco? — Yami ergue o rosto, seus olhos ardendo com uma luz demoníaca.
Caroline, assistindo à distância, recua instintivamente, protegendo o rosto das torrentes de fogo.
— Eu disse… Esse cara… — ela murmura, a voz trêmula, enquanto as chamas varrem tudo ao redor.
A entidade tenta resistir, mas seu corpo está em ruínas, queimado e exausto. Mesmo assim, força-se a regenerar, seus instintos de sobrevivência a mantêm de pé. Yami, no entanto, não dá trégua.
Com mãos nuas, ele segura as próprias chamas, moldando-as com precisão.
— Flagelo!
Os chicotes flamejantes cortam o ar como feras indomáveis, cada golpe explodindo com força devastadora. O impacto lança contra o chão, o corpo pesado esmagado pela força das trevas. Ainda assim, sua aura pulsa, buscando energia suficiente para uma última explosão.
Mas Yami é mais rápido. Assim que ela tenta escapar, ele já a contorna em velocidade além do imaginável.
— Acabou! — declara, tocando as costas da besta e cruzando os dedos. Sua voz carrega uma mistura de cansaço e autoridade. — Está na hora de descansar. Não acha?
Como se fosse ele quem determinasse o fim de tudo! E, de certo modo, é… mas…
Liliel, mesmo em sua condição miserável, cerra os punhos. Sua respiração pesada e irregular reflete a batalha interna que ainda trava.
— Garoto… — murmura, o peito subindo e descendo, tentando controlar a fúria e o desespero.
A batalha atinge seu clímax, e cada movimento carrega o peso de mundos.
— Não! — ruge, os olhos brilhando em fúria e propósito. Ela se agacha como uma predadora, movendo-se sorrateiramente. Com precisão, desfere uma cotovelada contra Yami, atingindo seu flanco. No mesmo instante, suas garras rasgam o solo, deixando sulcos profundos e preparando o terreno para o próximo ataque. — Quero que isso termine como sonhei! — brada, um sorriso selvagem nos lábios, misturando dor e determinação. — Só me vencerá quando não sobrar pedaço algum em mim!
Dentro de sua mente, pensamentos conflitantes queimam como brasas.
“Desculpa… garoto… isso não pode acabar como uma desistência. Entenda, esse será o fim que sempre clamei. Mas ele precisa ser belo!”
Apesar de estar em posição de atacar, ela opta por recuar. Salta para trás em uma sequência ágil; seus pés deslizam no chão enquanto ela cria distância. Em cada mão, energias opostas tomam forma: na direita, ventos uivantes e cortantes; na esquerda, trevas densas.
Yami permanece imóvel, observando-a com olhos flamejantes. Seus dedos continuam cruzados, a postura inabalável, como se todo o peso da batalha fosse apenas mais um passo inevitável.
— Então, eu irei usar minha técnica inata… — diz, a voz carregada de algo além de uma simples ameaça.
Sua energia, embora instável, reúne-se em uma harmonia precária, quase caótica. Ele respira fundo, consciente de que o próximo movimento ultrapassará todos os limites conhecidos.
— Tempestas chaos! Omnia in tenebris et ventis pereant!
Liliel gargalha, os lábios curvados em um sorriso cruel e prazeroso. Suas palavras convocam uma tempestade colossal. Um furacão imenso, com ventos devastadores e trevas misturadas a milhares de esferas negras que orbitam como satélites, emerge diante dela.
“Vamos abalar este mundo!”
Mas Yami não hesita.
— Extensio energiae, quinquaginta centesimae simulationis!
Uma fissura grotesca se abre em seu corpo, na altura do umbigo, insaciável. É o último vislumbre do mundo para Liliel e sua tempestade. A fissura consome tudo: o furacão, as esferas negras e até o próprio corpo dela. Em um raio de cinquenta metros, a realidade é reduzida a nada, engolida pelo vazio absoluto.
Não é apenas destruição; é a aniquilação do conceito de existência física, astral e mental.
O mundo ao redor silencia. A tempestade, capaz de devastar corpos celestes inteiros, é reduzida a nada em um instante. Quando tudo termina, Yami permanece de pé, mas apenas por um momento. Um gemido escapa de seus lábios, seguido por um violento cuspe de sangue.
“Que desgraça… que desgraça!”
Ele cai. Seu corpo despenca na cratera colossal que agora define o campo de batalha. É uma queda de cinquenta metros, e o impacto ecoa como um trovão. Ele fica lá, inerte, enquanto a poeira e os destroços se assentam ao redor.
— Azaael? Satisfeito? — murmura, tentando levantar uma mão ensanguentada.
Não há resposta. Apenas o som do próprio ouvido latejando, como se estivesse prestes a explodir. O silêncio é interrompido por uma última e inevitável pergunta que ecoa em sua mente:
“Vou morrer mais uma vez?”
Ele desmaia. Ou falece. Para ele, não faz diferença. Foda-se.
Mas onde está o demônio?
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