Capítulo 245 - Último Ato Para Mim!
Soltando um suspiro pesado, o exorcista retira a bússola do interior de seu manto.
Os dedos envolvem o metal frio com firmeza, embora um leve tremor denuncie o peso da responsabilidade que carrega. Não é apenas um artefato; é uma chave para um destino incerto, um fardo que parece querer esmagá-lo a cada segundo.
Ele a abre lentamente, cada clique da dobradiça metálica soando como uma sentença.
E no vidro opaco, marcado por arranhões e cicatrizes, o reflexo de seu rosto aparece, manchado por sangue púrpura já seco, os ecos visuais da última batalha da qual mal conseguiu sair ileso.
Esse sangue não é apenas um troféu de sua sobrevivência; é um lembrete da violência necessária para chegar até ali.
Sua respiração é áspera, entrecortada, enquanto seus músculos pulsam, como se sua própria existência estivesse sendo desafiada a todo instante.
E não é por menos, pois está!
Isso vai além do cansaço. O ar ao seu redor parece denso, carregado de uma energia sufocante, como se o mundo inteiro estivesse conspirando para impedi-lo de prosseguir.
— Revela-te… — Sua voz reverbera com autoridade, mas é traída por um traço de temor.
As palavras escapam de seus lábios como lâminas, cortando o silêncio e invocando o que repousa na escuridão da bússola.
Tais palavras, porém, não são apenas um comando; são uma maldição em si.
Do interior do artefato, começam a emergir filamentos retorcidos, semelhantes a galhos secos, mas pulsando com uma vitalidade inquietante. Têm a textura de carne viva, marcada por veias que se iluminam com uma energia pútrida e maligna. Esses filamentos serpenteiam pelo ar, em busca de algo para consumir.
“Posce me, viam, da mihi animam tuam!”
O sussurro não é humano. Cada palavra traz um peso ancestral, um eco sombrio que reverbera diretamente em sua alma. É o som de um milhão de vozes fundidas em um coro de dor e desejo.
— Ehr… — engasga, seus olhos arregalados diante do horror.
Antes que possa reagir, os filamentos avançam, envolvendo seus braços com uma força esmagadora. Eles são frios como a morte, e a pressão que exercem parece estar drenando sua essência, tentando alcançar algo profundamente enraizado em seu ser.
O seu desejo…
“Fac rogationem tuam!”
A bússola exige mais. Clama por outra alma, outro sacrifício para alimentar sua fome insaciável. O exorcista sente o peso de incontáveis vidas devoradas por aquela entidade; cada uma delas ecoa em sua mente como gritos agonizantes.
O ritual para receber aquilo que pede sempre é muito alto!
— E-eu…
É então que o céu se rasga, interrompendo-o antes que venda sua alma.
Uma tempestade sombria surge acima, espalhando relâmpagos negros que cortam o céu como garras, enquanto ventos gélidos carregam o cheiro de morte.
A escuridão disforme no ar começa a ganhar forma, como uma entidade viva que devora tudo à sua volta… A tempestade, o mal, vindo de várias direções, se concentra ali, purificando o que restava da capital…
No centro dela, uma espiral de trevas começa a se formar. É uma força que não apenas ofusca a luz, mas desfragmenta tudo o que toca.
O terror que escapa dos lábios dos cadáveres, o restante da essência de uma entidade exorcizada, o resquício de medo e ressentimento da aura de um exorcista morto… os frutos do genocídio estão sendo drenados.
— E-espiral? — Seus olhos fixos na monstruosidade.
Sente uma queimação em seu peito, reconhecendo aquela técnica inata, como não?
“Sinto pouca energia espiritual vindo dela… Mas essa imensidão vai além dos demônios que enfrentei, não, vai além de qualquer aura abissal que entrou nesse pandemônio!”
Quando pensa, os filamentos demoníacos em seus braços começam a se desprender, atraídos pela energia avassaladora que emana do redemoinho.
É como se até mesmo aquela entidade maligna selada no objeto reconhecesse a supremacia da força que foi despertada…
Se ela busca trevas para se agarrar, é ali…
E então, o mundo estremece.
A terra abaixo do edifício no qual o maestro desse grande mal se encontra cede, rachaduras se espalham como veias negras na estrutura, que sangra fumaça e cinzas. Cada criatura demoníaca ao alcance daquela energia maligna cai de joelhos, esmagada por um terror inexplicável.
Poeira é jogada ao ar, após essa primeira leva de trevas ser triturada, causando o impacto de uma explosão do topo ao terreno…
Mas ele permanece firme. Seu corpo está à beira do colapso, seus músculos tensionados e os olhos arregalados fixos no que parece ser a sentença final de sua busca.
Ele sabe que não pode recuar.
Porque, apesar de tudo, ele não solta as garras de seu alvo!
Rapidamente, age. A estrutura desaba e ele, sentindo-se esmagado pela pressão imaterial que a ação provoca, protege-se com um escudo cristalino, deixando o objeto maligno cair entre seus pés.
Onde nunca mais deve ser pego; ao menos o paraíso ainda é o abrigo de seu ser ao fim de todo esse sofrimento!
Mas… o foco está no agora!
Rasen, enfim, aparece.
No centro da espiral, absorvendo cada pedaço de escuridão. Então, ao fim, seu cérebro entra em exaustão, processando o vasto breu que o consome diretamente.
Através de sua aura, graças à extensão de sua técnica inata…
E no ar, ele entra em queda livre ao perder a consciência.
Enquanto despenca por metros, em direção ao ponto onde o prédio terminará em ruínas, o caos toma conta. Outras estruturas estremecem e colapsam, levando o bairro à destruição. Até o demônio no topo sente as pernas tremerem diante do espetáculo. É o sinal de sua retirada, mas…
Antes de partir, ele percebe algo no horizonte: inúmeras auras. São os exorcistas, espalhados ou em grupos, aqueles que sobreviveram ao grande caos. A cidade está pulverizada, e dos distritos, apenas o primeiro permanece de pé… por enquanto.
“Minha hora chega…”
Ele olha para trás e vê Asmael, que suspira ao revê-lo.
E, antes de partir, bate palmas. A missão foi um sucesso, mas em seu olhar é evidente o peso da decepção.
A infelicidade, afinal, é o melhor amigo que eles conhecem e conhecerão.
— Vamos. Demos o maior passo que poderíamos. Agora, é hora de reunir forças para o golpe final! — Ele encara o portal de onde veio, dando as costas para não desabar em lágrimas à sua frente. — E ela, como estava?
— Ansiosa por morrer… — responde o príncipe, enquanto o segue.
Como personagens de teatro, o ato em que devem atuar chega ao fim.
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