Índice de Capítulo

    — O que houve!? Mãe? — gritou Amai, com a voz rompendo o silêncio pesado que preenchia o ambiente. As mãos dela tremiam enquanto a luz emanava de sua aura, envolvendo o corpo de Lylian em um brilho quente e suave, na esperança desesperada de curar cada ferida visível ou invisível. Lágrimas desciam incessantemente por seu rosto, como se tentassem levar embora a dor sufocante que lhe tomava o peito.

    Mas o corpo de sua mãe permanecia inerte, imóvel, recusando-se a reagir à energia restauradora. Talvez o choque a tivesse lançado em um coma profundo, um lugar sombrio onde nem a luz parecia alcançar. O coração de Lylian, outrora resiliente, parecia agora vencido, esmagado pelo peso de uma perda que nenhuma mãe deveria carregar.

    Perder um filho.

    Um juramento quebrado, algo que havia prometido a si mesma nunca permitir. Mas ali estava ela, quebrada, afogada no trauma incomensurável de falhar em proteger o que mais amava.

    Mas quem ousava brincar com o destino e jurar controlá-lo era herege por definição. Até mesmo Elum, o Absoluto, aquele que transcende todas as coisas, evitava contemplar o futuro. Pois o futuro, por sua natureza, não pertence a ninguém.

    — Naoto… Lylian… — murmurou a jovem, sentindo-se engolida por uma dor que não conseguia entender completamente.

    Mas então, uma voz grave, também carregada de drama, ecoou, firme, mas quase sufocada pela dor.

    — Não adianta, filha…

    O som fez um arrepio subir por sua espinha. Era uma voz familiar, mas agora tão distante, tão irreconhecível na tonalidade sombria que carregava.

    Ela virou-se, e o que viu roubou-lhe o fôlego.

    Seu pai, Rimuru, estava ali, parado como uma estátua. Os olhos, outrora vibrantes, agora pareciam esvaziados de qualquer traço de esperança, consumidos pela escuridão. Os lábios tremiam levemente, como se lutassem para conter palavras que jamais deveriam ser ditas.

    Em sua mão, o bastão que sempre fora um símbolo de sua força e liderança estava manchado de sangue púrpura. O sangue do inimigo. A presença da morte parecia irradiar dele, como uma sombra que o seguira até ali, impregnando o ar ao redor.

    Sentiu o choque inundar seu corpo, envenenando seus pensamentos e esmagando sua alma.

    — Eu não entendo… — sussurrou, sua voz falhando entre soluços. — Como o clã foi atacado? Não há… não há ressonância de energia espiritual entre os membros…

    Seus joelhos fraquejaram, e ela se apoiou na terra fria, ofegante. Cada palavra que escapava de seus lábios vinha com uma incredulidade amarga.

    — O que está acontecendo que eu não sei? — Encarou-o, buscando respostas no olhar vazio dele, mas tudo que encontrou foi silêncio e o peso insuportável da verdade que parecia incapaz de dizer.

    Ergueu-se lentamente, os olhos fixos nele. Não era ódio que ardia em seu olhar, mas uma confusão, como se algo estivesse fora de lugar, uma peça perdida no quebra-cabeça que ela não conseguia montar. Porém, por trás da confusão, havia uma sombra de incerteza — a sensação inquietante de que algo maior, uma verdade enterrada, pairava sobre tudo aquilo.

    — Amai… eu…

    — Não minta! — Explodiu, a frustração transbordando como lava de um vulcão adormecido há muito tempo.

    Ele respirou fundo, tentando organizar seus pensamentos. Com passos lentos e pesados, ele se aproximou do corpo de Lylian, ajoelhando-se ao lado dela. Seus dedos trêmulos afundaram nos longos cabelos de sua esposa, como se buscassem um consolo que ele sabia que não encontraria. Sua mão estava manchada de sangue — o dele, o dela, dos demônios que tinham se interposto entre ele e a sobrevivência.

    As lágrimas desceram silenciosas, molhando-o. Para um homem que enfrentara tanto, era ali que ele parecia sucumbir: à dor da morte iminente, não da carne, mas da alma. A morte, afinal, era a pior sentença, mesmo para os que ainda respiravam.

    — Seu irmão… — começou, a voz tão baixa que quase se perdeu no ar. — Ele era um desperto…

    Ela recuou instintivamente, como se as palavras tivessem sido um golpe físico, algo que lhe cortava a alma.

    — O quê? Como assim? — Gaguejou. — Ele… sofreu algum acidente? Eu não entendo… Só o vô e o tio tinham técnicas inatas… e o Naoto… ele nunca quis! Ele sempre…

    — Seu tio… — interrompeu-o, a voz agora mais firme, mas com um tom sombrio que fazia cada palavra pesar como chumbo. Seus olhos encontraram os dela, e neles havia uma mistura de culpa, luto e uma decisão inabalável de dizer o que precisava ser dito. — Mas não era eu… nem sua mãe… nem seu irmão que decidia! — desviou o olhar por um momento, os ombros curvando-se sob o peso da memória. — Enquanto meu pai ainda estava vivo… o destino dele já estava traçado!

    O silêncio que se seguiu foi insuportável, como um vazio que ameaçava engolir os dois. Ela sentiu as palavras reverberar dentro dela, como ecos de um segredo ancestral que nunca deveria ter sido revelado. Algo maior, mais antigo, parecia estar à espreita por trás das palavras do pai, uma verdade que ela não sabia se estava pronta para ouvir.

    — Mas… como? Por que ele não me contou? — Gritou, a dor sendo transformada em raiva. Seu punho se fechou com tanta força que a energia à sua volta se manifestou de forma instável, como um reflexo de seu turbilhão interior. Quando piscou, a cena que se seguiu foi devastadora: uma única pancada derrubou a árvore à beira do lago, sua madeira estalando ao sucumbir ao impacto. As folhas caíram, flutuando, como testemunhas passivas da revolta que ela não conseguia controlar.

    — Como isso aconteceu? Por que o avô fez isso? Por que me esconderam isso? — Sua voz tremia, como se o chão sob seus pés estivesse desmoronando e não houvesse nada que pudesse fazer para evitar.

    Seu pai, ainda ajoelhado, soltou um suspiro, como se soubesse que as palavras que estavam prestes a sair de sua boca não trariam consolo algum.

    — Foi um consenso entre nós três… começou quando ele ainda era muito jovem. Após sua escolha, juramos esquecer. Sempre foi doloroso… Ele aprendeu a ignorar. Mas, diante das circunstâncias, uma onda de negatividade como essa… era impossível prever. Deveria tê-los mantido em uma zona segura… — Cada palavra parecia pesar mais e mais, como uma condenação imposta por seu próprio fracasso.

    Ele olhou para ela por uma última vez, seus olhos dourados e cansados; a frustração transbordou em um grito abafado.

    — No fim… eu sou o mesmo imbecil que meu pai dizia que eu era. Não protegi ninguém… cacete! — Mordeu os lábios com força, a raiva explodindo de seu corpo como um relâmpago prestes a atingir a terra.

    E ela? Ficou imóvel, os músculos tensos, a raiva substituída por uma angústia paralisante. Ela queria gritar, queria entender, mas as palavras do pai continuavam ecoando em sua mente, como um pesadelo que se repetia sem fim.

    — Então… — Começou, sua voz agora quase inaudível, como se a própria força das palavras lhe fosse roubada.

    — Sim, filha, ele era um bom ator, um prodígio como advogado. Seu irmão era alguém muito forte…

    A exorcista sentiu um arrepio percorrer sua espinha, e o silêncio entre eles se estendeu como um abismo que separava sua dor da dor do pai.

    — Mas é amargo dizer isso… injusto… e, infelizmente, dói ainda mais em você…

    Ela fechou os olhos, sentindo sua garganta apertar. Já sabia o que viria, mas ouvir aquilo a rasgou ainda mais. Não queria acreditar, mas o vazio em seu coração não mentia. Seu irmão estava morto. E não havia mais volta. Não havia mais esperança de ressurreição, de qualquer tipo de milagre.

    — Ele era incrível! — A pobre não aguentou mais. O choro tornou-se incontrolável. As palavras saíam de sua boca de uma forma que não podia conter. Seu corpo tremia, os dentes batiam com força enquanto suas mãos arranhavam o próprio rosto, tentando afastar a sensação de que aquilo não passava de um pesadelo, de um sonho louco do qual ela não podia acordar.

    — Amai… — Tentou se aproximar, mas a distância entre eles parecia insuperável, como se o mundo tivesse se distorcido ao seu redor.

    Ela levantou o olhar, os olhos injetados de raiva e desesperança.

    — Como você lida com isso!? — explodiu. — Até agora, eu estava feliz… Não, eu estava convencida de que poderia proteger quem amo! Mas… a vida se esvai, e nós não podemos fazer nada. Qual o sentido disso? Qual o sentido dessa droga de mundo? Sofrer? É sobre isso!?

    Sua voz rasgava o silêncio dos mortos, cheia de indignação. Cada palavra parecia uma lâmina cortando a própria carne, uma ferida aberta no coração que não cicatrizava, que só se aprofundava.

    Não entendia, não aceitava. O peso do mundo parecia ter caído sobre ela de uma só vez, esmagando-a, sem piedade.

    Assim, três almas entraram no salão da vida, mas, ao saírem, carregavam cicatrizes que o tempo jamais apagaria. Três destinos entrelaçados, fragmentados pela tragédia. E agora, diante dos destroços de tudo o que conhecia, restava a pergunta que ardia em sua mente como uma chama incontrolável: e ela?

    O herói, Arthur, que por tanto tempo carregou o manto da perfeição, caiu no abismo da existência, consumido por uma força que jamais pôde controlar. O cavaleiro, Yami, recuou da luz e andou de braços dados com a morte, trazendo consigo o peso da culpa e da dor de um juramento. E ela?

    O que faria diante de tudo isso?

    ÚLTIMO CAPÍTULO ESCRITO AQUI!

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (1 votos)

    Nota