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    — Então você é o Alum… deixar a porta aberta para mim foi… descuido… — Masaru olhou para a fissura se desfazendo, Bezeel ainda estava la, sem escuridão, desmaiado entre conceitos — Agora eu subi um degrau …

    O Receptáculo da Ordem não se limitou a atravessar a fissura, ele trouxe outro eu, outro fragmento mental de Elum, moldado para o real.

    E então fez o impensável: transferiu suas mentes.

    Uma troca limpa, e até cruel.

    A consciência escorregou de um corpo para o outro. luz migrando entre prismas, e o novo avatar respirou pela primeira vez no mundo físico.

    Por vias de regra, avatares não podem retornar para o plano real se forem mortos; são entidades restritas à interação razão com o compreender humano, régua e limite do sobrenatural.

    Mas… Masaru burlou. Como sempre. Como se a Ordem fosse apenas um contrato que ele pudesse romper quando quisesse.

    E pior: já havia desconectado o Senhor do Abismo da narração.

    Sem ele ao menos perceber.

    — a Ordem está te limitando? — Alum se ergueu lentamente, seus cabelos caíram brancos até a cintura, nascendo novos fios — Ela é autoritária, não é?

    — Esta… — suspirou — Ela disse que eu não posso ir para outros planos… mas se você me levar, eu… posso burlar!

    — E você vai fazer o que se eu te levar?

    — Ué… — apontou o dedo para seu peito — Te matar!

    — Grr…

    Foi o suficiente para a entidade levantar o punho. E… quando desferiu… desfez o real em tantas camadas que a tessitura do espaço tempo contínuo estava sendo fatiada como cebola.

    A Completude já havia sido superada. O limite último, o teto ontológico da existência, não servia mais como contenção.

    Seu passo havia atravessado não apenas mundos, mas a própria estrutura que define o que é um mundo.

    O meu, o nosso, o do leitor, autor, e todos os planos situados além dos dois… todos estavam agora sob os seus pés.

    Mas até disso desviou… estava em todos os lugares ao mesmo tempo. Já que residia no plano físico ficcional e agora real, sua velocidade narrativa era imensurável no real, se tornando um com o espaço infinito.

    Se tornando omnipresente.

    — vamos ver se isso…

    Ele estala o dedo. O olhar cai para o lado … e derrapante tudo é consumido por uma onda de calor insuportável.

    A terra se desfaz como poeira junto ao sistema solar.

    — Acha que é o único?

    A voz cortou como lâmina.

    Alum se reconfigurou no mesmo instante, adap­tando-se como quem troca de forma do mesmo modo que respira.

    Usou a Dádiva do corpo que havia tomado… não como um empréstimo, mas como uma extensão inevitável de si.

    Ele sondou o próprio limite estrutural, encontrando as frestas, as dobras, os pontos fracos, e então se condicionou a explorar a capacidade que antes julgara ineficaz.

    Cada célula nova que surgia, cada fibra de poder reorganizada, era um ajuste fino na arquitetura de um ser que se recusava a aceitar a ideia de “basta”.

    A evolução infinita de Luciel… o agradava.

    — Então é isso que chamam de viajar no futuro?

    Restava o vácuo e a expansão do sol. Que engoliu tudo em uma raio imensurável.

    8 bilhões de anos no futuro.

    — Como mantém ele narrando? Estamos a nível cósmico aqui…

    Masaru inclinou a cabeça, como se a pergunta fosse ingênua.

    — Sério? — deu dois tapas nos próprios ombros, como quem espanta poeira — O papai aqui prendeu ele em outra linha temporal. E estou transmitindo os ocorridos deste tempo através… da minha onisciência!

    Ele abriu um sorriso insuportavelmente orgulhoso.

    Já eu cerrava os dentes, o rosto contorcido num misto de frustração e desprezo.

    Eu o odeio… sério… É o personagem que eu mais odeio!

    — Legal, né?

    Alum estreitou os olhos.

    A luz ao redor se contorceu com o gesto.

    — Onisciente… onipresente…

    Sabe que isso não vale de nada no próximo degrau, né?

    Masaru arqueou a sobrancelha.

    — Na Intercessão?

    — Não! — a voz reverberando em camadas múltiplas.

    Seus cabelos brancos se ergueram como se estivessem sob gravidade própria.

    — A dimensão à qual eu pertenço!

    O espaço reagiu à frase…

    — O mundo material universal… — Continuou, avançando um passo no vácuo.

    A realidade recuou. Com medo… Aeum estava a um ponto de interferir ali.

    — O Abismo e a Luz em todas as possibilidades, cada possibilidade mais pesada que um universo, palavra e imaginação!

    Masaru segurou a própria respiração.

    Por um instante, apenas um sentiu o degrau mencionado.

    Sentiu a estrutura do real vacilar.

    E o abismo sorriu.

    — Quer mesmo lutar lá?

    — QUERO! — O receptáculo rugiu. Mas então cerrou o punho, e sua raiva ganhou contorno — Mas… você não pode se manter lá…

    Os dentes rangeram.

    — Veio de lá… está selado em um lugar mais feio que o banheiro de um gordo abusador!

    O Abismo encarnado travou por um segundo… não por ofensa, mas pela verdade grotesca embutida na comparação.

    — A Zona Fantasma… — murmurou.

    Aquele nome caiu no ambiente como um peso incompreensível.

    Doía.

    Um conceito que não queria ser lembrado.

    Sua eterna prisão após usurpar o reino de seus irmãos.

    — Onde todas as frequências encontram seu fim — continuou, a voz mais baixa — Seja absoluto ou não. A manifestação de todas as luzes e céus como Lucis… ou infernos e a escuridão como eu.

    Seus olhos, escuros, se dilataram.

    — Você será absorvido e banido.

    Masaru inclinou a cabeça, avaliando-o.

    — Por isso dividiu seus poderes e seu ser em demônios…

    Riu — um riso que parecia vir de três versões dele ao mesmo tempo. Passado, presente e futuro.

    — Você já sabe de tudo. Lê minha mente.

    — Eu tentei não ler — respondeu, andando em círculos curtos, como fera presa numa sala inexistente — Mas acabei sabendo da sua vida bosta desde o início…

    — Vida bosta?

    — Seu papinho de ser incompreendido… bla, bla!

    Masaru estreitou os olhos, a boca arqueando em desprezo.

    — Chora menos vai!

    — Idiota…

    Ele se virou.

    — E-eu? Nós dois!

    O universo se movia lento ao redor deles, tão lento que parecia congelado, como se até as leis da realidade tivessem medo de apressar aquela conversa.

    — Tanto faz… droga! O mundo dele é um saco… — resmungou, apontando vagamente para a imensidão do espaço — A física rege as leis. Logo, um conceito tão pífio… Tudo isso cabe em um mero setor do seu mundo…

    — Deve ser a beleza daqui… ser… assim… sei lá!

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