Capítulo 253 – Frias ambições
— Oi! Krynt!?
A voz irrompeu a escuridão sufocante, atravessando o limiar entre consciência e morte. A visão de quem chamava oscilava, turva e fragmentada, enquanto sua mente lutava contra a atração do vazio. O mundo ao seu redor era um borrão de sombras e dor até que uma silhueta tomou forma diante de si.
Quem o chamou? Masaru.
Estava ali, olhando de cima, com aquele mesmo olhar desafiador e despreocupado, como se a cena diante dele não fosse de agonia e quase morte, mas apenas mais um episódio trivial em sua vida caótica.
— Eu… — murmurou o caído, com esforço.
Enquanto o amigo se agachava, um sorriso torto surgia em seu rosto.
— Você está vivo! — declarou com uma satisfação quase debochada. — Caramba… eu confiei que você gastaria seu maldito resto de sorte, e olha só… não decepcionou!
Piscou, ainda atordoado. Um gosto metálico amargo tomava sua boca, e a dor pulsava em cada fibra do seu corpo.
— Não? Ehr… você estava assistindo, seu desgraçado? Nem por um instante pensou em me ajudar?!
Isso o fez rir levemente, sem culpa alguma.
— Eu? Nada! Eu ia esperar você morrer, seu fudido…
Houve um instante de silêncio — um silêncio carregado de cumplicidade. Era irônico, talvez até trágico, que compartilhassem um entendimento tão absurdo. Nenhum deles trairia o outro.
— Por quê? — sussurrou, vacilante.
Sua mente estava límpida. Depois da vingança, não restava mais nada além do vazio. O que vinha depois? Essa era a pergunta que o corroía.
Pensamos tanto no fim que, quando finalmente chega, o sonho e o idealismo que nos moviam simplesmente se esvaem.
Masaru mal precisou pensar para responder. Inclinou a cabeça, os olhos carregando aquele brilho de certeza — uma mistura de loucura e lealdade.
— Você me pediu… e eu prometi que faria. Posso ser um psicótico de merda, mas não sou um mentiroso!
Quanta honra, não? Esse lunático imprevisível possuía um senso de fidelidade distorcido, um código próprio que beirava o narcisismo — ou talvez apenas a imensidão de sua insanidade.
Uma estrela que nunca se apagará! Sabia disso, e assim esboçou um sorriso fraco antes que a exaustão o tomasse novamente.
— Ao menos… — fechando os olhos por um instante. — Você é um ferrado, Masaru… mas um ferrado necessário. Graças a ti, pude sentir essa sensação…
— Que sensação?
— Paz! A sensação de não ter mais obrigações. Hazan está vingado. Posso, enfim, me convencer de que sou apenas um rapaz perdido e continuar com meu drama diário. Isso é o que chamam de vida, não é?
A ironia transpareceu em seu tom enquanto soltava um suspiro profundo.
— É…
Era seu fardo, guardado a sete chaves.
— Acho que vou sair…
— Por causa dos ferimentos?
A expressão do celeste permaneceu inalterada. Revelações ou não, nada parecia surpreendê-lo.
— Não. Por minha causa! Já havia perdido os membros antes dessa luta… Meus pés andavam por vingança, meus olhos viam por desconfiança, meus ouvidos ouviam por atenção. E agora… não vejo mais razão alguma para continuar sendo um exorcista.
Isso o fez rir — um som seco, desprovido de julgamento.
— Se não há um falso moralismo, uma paixão por lutas, guerras e sangue… então não há razão para um homem ser exorcista!
O que dizia era a verdade. Somente os loucos amavam caminhar no abismo e se sujar no breu.
— Exatamente. E você… me acha um fraco?
— Por quê? Acharia?
— Porque desisti. E quero saber… o que você acha? Eu confio no que diz. É o único que conseguiria comer um sorvete com a mesma calma com que mataria alguém… a sangue frio.
Um elogio? Até aquele instante, ele devia julgar dessa forma qualquer fala direcionada a si.
E por isso, suspirou, desviando o olhar por um momento antes de responder:
— Você foi forte. Enfrentou o que veio e desistiu depois da tempestade. Diriam que és tolo, mas… não há tolo maior do que aquele que mede os passos do outro.
— Única pena? Não verei mais o guerreiro formidável que você é em ação. Só lamento isso. E você?
— Lamento? Ehr…
Seus lábios disseram, mas sua voz não. Era algo inalcançável, além das mãos capazes de mudar o óbvio.
— Entendo… Bem, quando estiver melhor, vamos jogar tênis. Vamos ver quem é o pior maneta! — brincou.
Penetrar a melancolia com humor, como faziam com as trevas… Bem, funcionou. Ele sorriu, quase riu.
— Combinado!
Então, se virou, mãos nos bolsos, caminhando para longe.
O loiro observou sua silhueta se afastando, um misto de alívio pela conversa que tiveram e a melancolia de não poder o acompanhar tomando seu peito.
— Obrigado… meu amigo…
Sua voz caiu como cinzas no chão, após a fogueira, enquanto o outro já estava longe.
Ele atravessou o campo de guerra, viu o reforço buscando todos os feridos e vivos, e pôde contemplar a vista caótica.
Nova Tóquio não existia mais…
Um sorriso singelo tomou sua feição.
Olá, novo mundo! Seus punhos se cerraram. O que viria depois? Pensou, mas inúmeras possibilidades se apresentaram, e sim, estava feliz!
Um amante da guerra… diferente dos seus feridos.
E quem eram? Yami e Azaael, que se erguiam com a mesma face, aquela que, um dia, ainda carregava esperança. Agora, os dois se viam unidos, como um só, com o ódio queimando em suas expressões.
Esgotados pelo golpe, conduzido calmamente, embora ainda restasse energia em seus corpos, sentiam, a cada momento, o peso fatal em sua própria natureza.
— Vamos para casa? — disse, de forma direta, enquanto sentia cada canto daquele terreno banhado em sangue e restos, preenchido pela presença maligna da criatura.
Vamos… garoto! Havia desistência em sua voz, como se a tortura agora fosse viver um instante de liberdade… quando fosse… todos pagariam pelo que aconteceu ali.
E quando o exorcista se moveu, quase caiu. Seus braços pareciam ser arrastados pelo vento.
— Você…
Agora, não há mais o que dizer… guarde suas palavras!
— Certo…
Estava de luto, todos estavam. Planos falharam, outros foram concretizados, mas nenhum teve um final feliz… ou, talvez, nem fosse para ter.
O mundo chamou aquele dia de “o inferno na Terra”. Não foi o maior genocídio, mas foi, sem dúvida, o período de terror mais brutal da modernidade. Milhares de linhagens se perderam, e o prejuízo foi impossível de conter.
Agora, o caos que tanto ignoraram batia às portas…
E quem iria pagar as contas? E, mesmo que pagassem, quem assumiria as futuras?
O trem social havia sofrido um acidente, e todos haviam morrido. Cedo ou tarde, a notícia chegaria.
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