Capítulo 255 – O mais perverso
O chão tremia sob seus pés, refletindo a guerra que se travava em seu coração. Nobre ele era, nobre sempre fora… mas agora? Sentia-se como um dos ratos que costumava chamar de súditos.
Gotas de suor misturavam-se ao sangue em suas vestes, tornando o ar ainda mais insuportável. Cada respiração era um desafio; o peso de mil batalhas — batalhas que o mais covarde dos homens, o líder coroado, jamais ousara enfrentar.
Ironia do destino — havia perdido apenas uma batalha, justamente aquela que nunca tentara travar, nem enviara guerreiros para lutar. Uma guerra impossível de enfrentar, pois, no fim, era apenas um homem.
Assim se sentia o imperador diante de seus inimigos.
— Então, o que fará? Com meu corpo em ruínas, que tipo de inimigo serei? Viverei hoje, amanhã, e sua estratégia definhará! — Sua voz carregava amargura, a espuma nos lábios manchando sua face. — Seu plano é um castelo de areia. Mesmo que seja um gênio oportunista, nada há de prosperar para ti!
Seu olho estava vermelho, fervendo em fúria e desgosto. Antes que pudesse alcançar a adaga presa à cintura, Miyazaki o deteve num movimento. Sua mão firme agarrou seu braço, enquanto a lâmina, agora rente ao rosto, fazia o sangue escorrer em gotas de sua face demoníaca.
— Se eu pudesse…
— Me solta! — O grito desesperado ecoou pelo salão, carregado de raiva e desespero.
— Se eu soltar, você vai acabar pior que um monte de bosta! — retrucou.
O arrepio de sua vontade assassina percorreu-lhe a espinha enquanto aguardava a próxima ordem de seu pai.
Mate-o! Mate-o! Ele é só um monte de carne inútil…
Babou, imaginando a cabeça do inimigo em suas mãos. Pensou em como faria seu corpo explodir em milhões de pedaços, em como o sangue mancharia o chão aos seus pés. Aquilo… era o seu maior fetiche!
— Cure-o!
Seu pai ordenou, e ecoou como um trovão, dissipando qualquer resquício de hesitação. Reverberou pelas paredes ensanguentadas do salão, perfurando sua consciência como uma lâmina afiada.
— O quê? Curá-lo? Não iria deixá-lo definhar até a morte?
Era o mínimo que seu pai deveria fazer, pensou.
Hesitou. Não se ajoelhou, não avançou — e tampouco permitiria que o medo o subjugasse por completo. Obediência e resistência travavam uma batalha dentro de si, mas a ordem era inegável. Desobedecer não era uma opção.
— Certo… — percebendo que a face de seu pai permanecia tão imutável quanto suas palavras. Finalmente, cedeu.
Soltou-o com um suspiro pesado, e sua aura inflamou, resplandecendo de maneira caótica. A energia irrompeu de seu corpo como um vulcão prestes a explodir, um calor abrasador que fez o ar tremer ao seu redor. Vapor escapava de seus poros, resquícios de um controle ainda imperfeito sobre sua própria essência.
Então, ergueu a mão.
Um simples toque — foi tudo o que precisou para arrancá-lo do limiar da morte. Assim que seus dedos roçaram a pele do imperador, a energia fluiu, invadindo-o como uma corrente impiedosa. O vínculo da doença foi cortado, extirpado em um único instante.
O nobre sufocou um gemido e desabou no chão, ofegante. Seus olhos, antes sombrios pela aceitação, agora transbordavam um terror primitivo.
— O que… o que fez comigo? — balbuciou, lutando para recuperar o fôlego.
A resposta veio fria, implacável.
— Apenas arranquei o mal pela raiz…
Agachou-se diante dele, um brilho predatório faiscando em seu olhar.
— Não posso restaurar sua pele, tampouco devolver-lhe o braço ou o olho. Para isso, precisaríamos de uma afinidade celular que simplesmente não temos.
Um sorriso cruel curvou-lhe os lábios.
— Mas viverá!
Um arrepio gélido percorreu a espinha do imperador.
— Ao contrário de sua família! — A voz soou como um sussurro de morte. — Eles perecerão, assim como seu povo. Você se recusou a se curvar… então será o último de sua linhagem. O herdeiro de um trono vazio!
A ira explodiu dentro dele.
— Maldito! — rugiu, forçando-se a erguer.
Então, paralisou.
O exorcista ainda estava ali. Imóvel. Frio. Pronto para o próximo movimento.
— Não abuse da sorte… — advertiu, a voz carregada de veneno. — Ou eu mesmo mato sua mulher e seus filhos!
Cada palavra transbordava crueldade, uma promessa de ruína pior que a própria morte. O imperador reconheceu aquele olhar. O olhar de um carrasco. O olhar do homem que havia destruído sua vida.
E, pela primeira vez, suplicou.
— Piedade! Poupe ao menos, meu filho!
Mas tudo o que encontrou em sua face foi desprezo. Seiji não era apenas um tirano—era o pior a ocupar aquele trono. Diante de seus olhos, não era apenas terror.
— Piedade? — um som vazio de qualquer compaixão. — Escória não merece perdão. Você teve sua chance e desperdiçou. E como dizem… a palavra do rei é única, não é?
— Mas…
Não houve tempo para mais.
O golpe veio rápido, certeiro. A dor foi breve—apenas um clarão antes da escuridão absoluta. Seu corpo tombou pesadamente sobre o chão ensanguentado, o impacto abafado pelo silêncio opressor da sala.
— Que tipo irritante… — murmurou o exorcista, fitando-o inconsciente a seus pés.
Atrás dele, seu pai cruzou os braços, desdenhoso.
— Um homem que se acha melhor que os outros homens… — ironizou, sem perceber a própria hipocrisia refletida em suas vestes, em suas crenças.
— Por mim, devíamos acabar logo com esses malditos… — resmungou. — Para que servem os normais?
— O ciclo do mundo é simples — declarou. — Humanos, exorcistas, demônios. A santa trindade. Se um deles desaparecer… o que acha que acontece?
O filho piscou, confuso.
— O quê?
— O mundo quebra!
Miyazaki virou-se, encarando-o com frieza.
— Não importa o quão irritantes sejam os humanos ou o quão desprezíveis sejam os demônios. Eles existem por um motivo. Nossa função é manter o equilíbrio. Nem piedade demais, nem crueldade absoluta. Apenas o necessário!
O jovem estreitou os olhos.
— Você tem algum tipo de obsessão por controle, não é?
— Ingênuo… não se trata disso — suspirou. — A humanidade, quando se acomoda, se destrói por si só. Mas, se vive apenas em sofrimento, também se extingue. O equilíbrio é a chave. Se apenas os exorcistas dominassem o mundo… acha que seria diferente?
— Claro que sim!
— E eu digo que seria a mesma merda!
A certeza em sua voz era o peso de mais de cem anos de vida.
O maldito ignorante virou-se, frustrado. Não que levasse as palavras de seu pai como verdade absoluta—mas odiava. Odiava como, em todas as conversas, sempre reduzido ao mero aprendiz.
Um asno, arrastando sua própria burrice e inexperiência como uma carroça pesada, a cada passo ao lado de seu pai.
Era só o seu carrasco!
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