Capítulo 266 – Novamente refém de suas muletas?
Após o estrondoso bater de palmas, um som reverberante preencheu o espaço, como se o próprio ar tremesse em resposta ao chamado.
O grande baú flutuou sobre sua cabeça, seus contornos bruxuleando com uma luminescência azulada, e então se abriu com um ranger profundo, como se tempos imemoriais fossem despertados de seu interior.
Novamente, usaria suas armas espirituais. Será que ainda residia a insegurança de sua técnica inata?
De dentro, uma lança caiu em um arco perfeito, descendo com um clarão ofuscante antes de pousar firme em suas mãos.
Hasta Fulminis – que domava os céus e disparava raios como se fossem ordens divinas.
Parte de um mito de uma deidade primitiva.
No instante seguinte, antes que o trovão de sua chegada se dissipasse, ele já a girava. O ar se distorceu ao redor da arma, um turbilhão de eletricidade se expandindo em uma onda. A descarga encontrou o próximo golpe do demônio no exato momento do impacto: a corrente, com cabeça de lobo, viva como uma fera, serpenteava no ar.
Cada elo cortava o espaço, deixando rastros de energia como se fossem garras invisíveis despedaçando-o.
O embate foi feroz – a lança fendia relâmpagos enquanto a corrente dançava em uma investida.
Raios contra lâminas negras.
Era a era do aço contra a tempestade, o caos absoluto em sua forma mais pura.
Mas não estava dando tudo de si; sua mão esquerda permanecia firme. A adaga, ainda empunhada, era seu contrapeso, sua âncora. E foi essa estabilidade que lhe permitiu domar o furor do combate, sustentando o equilíbrio entre a destruição e a maestria do domínio.
Curta e longa distância.
Mas… tolo seria acreditar que isso seria suficiente.
Antes mesmo que pudesse recuperar o fôlego, duas novas correntes avançaram contra.
Da serpente, veio a imprevisibilidade: seus elos se desdobravam como membros de uma fera, e a ameaça era clara – esse golpe poderia ser seu fim.
No entanto, portais se abriram à frente do ataque, distorcendo sua trajetória e mudando o curso da investida.
Era da própria corrente; o demônio queria pegá-lo desprevenido, sabia disso, mas isso o aliviava, permitindo-lhe conter uma ameaça de cada vez… escolhas, afinal, tinham consequências – boas e ruins.
O alívio durou pouco. Do alto, o corvo mergulhou como uma sombra, trazendo consigo um poder diferente – uma anulação absoluta. Sua presença rasgava o ar, desfazendo a energia ao seu redor, quebrando as defesas que ergueu por reflexo e desmantelando qualquer tentativa de contra-ataque.
Ele foi forçado a recuar, os olhos varrendo o campo de batalha com urgência. Mas não o via ainda…
Ainda restavam três correntes… Não!
A percepção veio como um estalo. Ainda havia cinco! O erro foi confiar que os ataques viriam em sequência.
Se todas as sete o golpeassem ao mesmo tempo… seria o fim!
—Merda!
Os dedos se fecharam em um gesto. O som seco de suas palmas cortou o ar, e com ele, um novo plano deveria nascer.
Foi o suficiente para que uma nova arma respondesse ao chamado.
Das fendas entre o espaço, a espada emergiu com um brilho abrasador. Ardens Fatum, a lâmina lendária, outrora empunhada por um dos homens do imperador nos tempos antigos. O metal ardia em um fogo insaciável, sua presença deformando o ar ao redor, criando ondas de calor que distorciam a visão.
Com um único golpe, tentou desfazer os próximos ataques.
As chamas explodiram em uma fúria que ia além do comum, consumindo a investida inimiga e dissipando a névoa que corrompia o campo de batalha.
O solo estalou sob a temperatura crescente, o calor se espalhando como brasas do próprio inferno.
Acima, flutuando com um olhar predatório, a besta finalmente perdeu o sorriso.
— Você vai gastar seu arsenal de armas!? — A voz carregava um tom de zombaria, mas também uma ponta de cautela.
A resposta estava no próprio corpo do exorcista.
Sua adaga fincada no chão, a lança firme em seu braço esquerdo, e agora, a espada flamejante em seu braço direito. Sua respiração era irregular, pesada. O suor e o sangue se misturavam sobre sua pele marcada pelos impactos.
A exaustão já o abraçava, mas a batalha ainda estava longe do fim.
— Vou! — Sem hesitação, sem medo.
Para o demônio, aquela era a certeza da vitória.
Quer dizer… deveria ser.
Mas algo queimava no olhar do guerreiro. Não era a resignação de um homem condenado, nem a fútil teimosia de um tolo. Era outra coisa. Uma faísca diferente. Não a certeza da morte, mas a possibilidade de um caminho. Um instante. Uma chance.
A criatura gargalhou, erguendo suas correntes como se fossem a mão do destino trazendo juízo sobre o mundo.
— Quanta burrice! — O escárnio era afiado como a lâmina de uma foice. Ao redor de seus punhos, duas esferas negras começaram a se expandir, pulsando como corações famintos. — Você não terá como anular esse vendaval de poder… já apaguei cidades inteiras do mapa. Essa fração de poder é impossível de escapar!
A realidade estava do lado dele.
Era inquestionável.
Mas será?
Talvez… talvez ele estivesse subestimando demais seu adversário.
Foi um instante de pura tensão, onde as chamas, como serpentes infernais, foram ateadas em sua direção. Mas, antes que o fogo o tocasse, o demônio desapareceu, como se fosse engolido pela própria sombra. Em seguida, apareceu, quase com o corpo colidindo contra o chão, e foi então atingido por um ataque de pura eletricidade. O impacto foi devastador, mas em um piscar de olhos, desapareceu novamente, como se o espaço fosse nada mais que uma ilusão para ele.
Estava sendo previsto.
O acúmulo insano de energia negra que gerava parecia ter uma ligação direta com seus movimentos, mas o demônio, astuto, desaparecia antes que o vendaval de poder pudesse tocá-lo.
Era uma dança frenética de esquivas e ataques. Maravilhoso de armas, como se cada movimento fosse perfeitamente calculado, como se cada golpe fosse destinado a um ponto específico do campo de batalha.
Ele usa os poderes das correntes…
O pensamento cortou sua mente como uma lâmina.
Será que, quando está utilizando-os em si, não consegue liberá-los diretamente nas correntes?
Foi um palpite, uma ideia vaga que surgiu quando a presença do demônio voltou à sua cabeça. Sabia que estava jogando com o tempo, e que a criatura se movia em instantes, fugindo das garras da sua destruição.
Mas agora… teria de lidar com um poder além da compreensão.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.