Índice de Capítulo

    As duas esferas colidiram contra o exorcista, carregadas de uma escuridão que devorava a própria luz.

    O estrondo foi aterrador.

    Um rugido cósmico que rasgou a ilusão em meros pedaços, desfazendo-se em estilhaços translúcidos, como um espelho sendo despedaçado.

    O impacto ressoou como o brado de uma divindade, reverberando através do domínio demoníaco e fazendo até mesmo as sombras estremecerem.

    Tal contato foi apocalíptico — uma explosão que rivalizava com a fúria de uma estrela agonizante prestes a se tornar uma supernova. O clarão negro ascendeu aos céus, um cogumelo de trevas que corrompia o próprio ar ao redor, como se quisesse engolir a existência. Se não fossem os alicerces do domínio demoníaco, a cidade, ou o que restava dela, teria sido obliterada, dispersa como poeira cósmica no vento.

    A criatura, arfante, sentiu o gosto acre do próprio sangue. Tossiu, cuspindo um líquido púrpura que brilhava à luz deformada do inferno que criara. Suas correntes, outrora símbolos de sua autoridade, enfraqueceram, fragmentando-se como cinzas ao vento.

    Sua confiança? Nada além de um véu fino cobrindo a verdade. Ele sentia o limite se aproximando, como um predador à espreita. Seu poder se esvaía, gotejando como areia por entre os dedos do tempo.

    Já que usou a única arma que lhe restava: a persuasão. Palavras como lâminas afiadas, tentativas de dobrar a realidade ao seu favor, de prolongar o jogo. E havia conseguido.

    Era fútil. Era forte, imenso em poder.

    Um demônio cuja presença esmagaria qualquer ser comum. No entanto…

    Um domínio mantido por dias. Energia liberada sem freios. Ilusões incessantes, cada uma exigindo um tributo de sua força.

    Estava queimando seu arsenal antes mesmo de Jacir sequer considerar usar o seu.

    Acabar rapidamente, mesmo em vantagem, foi sua única escolha.

    Exorcistas… Matar três garotos me custou tanto… Se fosse em outra era…

    O pensamento ecoava em sua mente enquanto tentava reunir a energia que ainda restava. Cada célula astral de seu corpo gritava em exaustão, seu domínio à sua volta vacilava, e o gosto amargo e o desgaste se misturavam ao ar sufocante.

    Estava realmente no limite.

    Então, algo o espantou.

    — Só isso?

    O quê?

    Seus instintos reagiram antes de sua consciência processar o que acontecia, e ele flutuou para trás, olhos arregalados. E então o viu.

    Lá estava o garoto. Intacto? Não… saindo de seu próprio baú! O corpo coberto de feridas, sem vestes, mas de pé. Vivo.

    A seus pés, suas armas espirituais… destruídas. Reduzidas a cacos, os fragmentos de sua própria resistência.

    Suas muletas.

    — Como… como fez isso?!

    Perguntou, sua voz trêmula, carregada de incredulidade. Aquilo não fazia sentido. Ele deveria estar morto. O golpe deveria tê-lo apagado da existência.

    Mas o garoto sorriu. Um sorriso ofegante, irradiando uma confiança inquebrantável. Sua aura emanava um brilho que parecia furar a escuridão do domínio.

    — Você não percebeu? Jura?

    Seu tom era firme, quase desdenhoso.Apesar das feridas abertas, dos músculos latejantes, seu olhar era incólume.

    — Você acha mesmo que eu não deduzi que você tinha medo de haver um “depois”? Me encurralou, forçou-me ao limite, e então lançou um ataque massivo e letal… mas eu não sou bobo. Um golpe desses exige que você sacrifique muito do seu fluxo. E sendo um demônio, mantendo tantas técnicas ao mesmo tempo?

    Ele se ergueu, respirando fundo, o peito inflando com a força que ainda pulsava dentro de si.

    — Você está esgotado!

    — Mas… mas…

    A névoa negra ao redor oscilava, tentando se agarrar a qualquer resquício de poder, tentando sustentar o pináculo de sua existência. Mas era inútil.

    A balança havia se inclinado.

    E começava a perceber… que não havia mais nada que pudesse fazer.

    — Mas?

    E então, num instante, desapareceu.

    Como um relâmpago, surgiu atrás da entidade. Mais rápido. Mais forte. Era instintivo — ele sabia. Sabia que seu corpo reagia de maneira diferente, que seus golpes tinham um peso antes inatingível.

    A prova veio no impacto.

    O ser sentiu o soco antes mesmo de compreendê-lo. Um golpe seco, direto e avassalador. Seu corpo foi lançado para frente, a dor reverberando em sua essência. Grr… Um rosnado escapou-lhe na mente, um misto de frustração e incapacidade.

    E mesmo sem forças, não hesitou. A corrente emergiu, silvando no ar como uma serpente faminta.

    — Acha que me vencerá com um simples ataque físico?! Maldito!!

    E então veio seu dragão.

    Um turbilhão de chamas negras, cuspidas do vazio, avançando para engolir o adversário de uma vez por todas. O calor era absoluto, as sombras se contorciam como se dançassem sob a vontade infernal. O destino do garoto parecia selado.

    Até que —

    — Extensio energiae, zoanthropia incompleta!

    Os braços cresceram, transformando-se na força primitiva de um gorila. E com esse novo poder, sua extensão de sua técnica inata deteve o ataque. As chamas se dividiram, bifurcando-se ao seu redor, incendiando o campo, mas não o corpo que deveriam consumir.

    O demônio arregalou os olhos.

    — Você mesmo se derrotou… — a voz veio, firme, enquanto se erguia em meio ao caos ardente. — Usou tudo de si contra um adversário que estava se sustentando em objetos externos. Sacrifiquei todas as minhas armas, meu baú… mas isso era só uma fração do que eu era!

    O desespero crescia.

    — ACHA QUE ME ENCURRALOU?!

    Tentou lutar contra o inevitável. Puxou sua corrente, tentou lançar-se para frente. Tentou.

    Mas era… deprimente.

    Pois sua existência foi findada pelo mais simples dos ataques.

    Um feixe de luz.

    Singelo. Limpo. Inevitável.

    O feixe perfurou seu peito, atravessando carne, osso e essência como se fossem meras ilusões.

    Por um breve instante, o mundo pareceu congelar. A vítima arregalou os olhos, a boca entreaberta em um sussurro inaudível. Então, veio a explosão.

    Um clarão branco e absoluto.

    Sua consciência foi despedaçada. Seu corpo, reduzido a fragmentos efêmeros, dissolveu-se no ar.Sua essência, outrora imponente, foi varrida, apagada, desfeita no vazio.

    Não houve grito. Não houve resistência. Apenas o fim.

    O silêncio pairava sobre o campo devastado.

    O cheiro de enxofre e cinzas impregnava o ar, enquanto a poeira da destruição lentamente se assentava.

    — Você se encurralou… — o vencedor murmurou, observando os últimos vestígios da existência do inimigo se dissiparem no vazio. Não havia satisfação em sua voz. Apenas uma inquietação, um coração acelerado pelo peso da vitória.

    Ele não se iludia. Não era arrogância; era sobrevivência.

    — Eu só evitei um puxa-puxa de corda desnecessário. Era mais fraco, menos hábil… só precisava resistir. E demonstrar que, em uma jogada imbecil, cairia.

    Seus músculos tremiam, não apenas pelo cansaço, mas pelo resquício da batalha que ainda queimava dentro dele. A adrenalina tardava a se dissipar, mantendo-o alerta, quase incapaz de processar a conclusão do embate.

    E então, Elizabeth.

    A lembrança surgiu nítida em sua mente. Os olhos firmes, a expressão carregada de algo que sempre o desafiava a ir além.

    Suspirou, e um sorriso sem jeito se formou em seus lábios.

    — Eu deveria agradecer a uma mulher… mas ainda não estou capacitado a ser digno disso…

    A brisa fria soprou ao seu redor, como se zombasse de sua confissão. Mas sabia.

    O verdadeiro desafio ainda estava por vir.

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