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    Um momento…

    E quando essa divisão ocorreu?

    Quando a Ordem teve o instante do desbande?

    Foi na primeira reunião sob o comando do novo líder.

    O salão estava mergulhado em penumbra, iluminado apenas pelas telas holográficas que projetavam gráficos e relatórios de uma economia global em ruínas. O ar carregava a tensão de uma revolução à beira do colapso.

    Seiji sentou-se à cadeira central, um trono de aço e couro negro, símbolo da autoridade que agora carregava. Seu olhar varreu a longa mesa onde seus companheiros estavam reunidos, cada um carregando a expressão de quem sabia que aquela noite definiria o futuro da Ordem — ou decretaria sua ruína.

    Mahmoud foi o primeiro a quebrar o silêncio, batendo o punho contra a mesa com força suficiente para fazer vibrar as imagens holográficas diante de si.

    — Quer tomar o império? Sério? — seu tom era incrédulo, quase desesperado. — Uma guerra, enquanto o mundo desaba? Você… sempre foi tão racional, por que está tomando decisões tão burras!?

    A franqueza cortante de suas palavras reverberou, fazendo com que alguns membros desviassem o olhar, mas ninguém se opôs. O silêncio que se seguiu não foi de consentimento, mas de um receio tão profundo que ninguém ousou responder.

    Exceto ele.

    O líder inclinou-se ligeiramente para a frente, os dedos deslizando pela barba bem-cuidada em um gesto de falsa contemplação.

    — Você julga dessa forma? — seus olhos brilharam, tão afiados quanto lâminas. — Escravidão financeira, genocídio, um sistema corrupto e ineficiente… e eu sou o burro?

    Sua voz soou grave, firme, como o som distante de um trovão prestes a estourar.

    O peso de suas palavras caiu sobre a mesa como uma sentença. O rapaz abriu a boca para retrucar, mas hesitou. A sala inteira parecia ter parado no tempo, congelada no instante exato em que os alicerces da Ordem começaram a rachar.

    — Faria melhor?

    — Faria… — Se recostou, os olhos semicerrados, estudando as expressões ao redor da mesa. — Me diga… quão monstruoso sou em querer cortar o mal pela raiz? Sem insatisfação, sem tristeza, sem essa depressão. Quão reduzido será o número de demônios?

    Uma promessa envolta em veneno. Alguns líderes acenaram lentamente; a lógica era irrefutável, mas até mesmo os mais entusiastas sentiram um frio na espinha. Não era apenas uma estratégia. Era uma purgação.

    Todos sabiam… revolução pede sangue.

    — Então quer construir um mundo melhor em meio ao caos? — Rimuru entrelaçou os dedos, a voz calma, mas carregada de um ceticismo cortante. — É uma ideia bela… mas, até tudo estar nos conformes, muita gente terá morrido. E como convencerá o imperador a renunciar?

    Os olhares se voltaram para o velho, esperando um lampejo de diplomacia. Alguma alternativa menos… brutal.

    Mas ele apenas sorriu.

    — Como? Guerra!

    A palavra foi dita sem hesitação, crua, sem espaço para eufemismos.

    O impacto foi instantâneo. Alguns arregalaram os olhos, outros franziram a testa, mas todos se viram presos em um impasse.

    — Ora… existe outra forma?

    Não.

    E talvez o mais assustador fosse a forma como ele dissera aquilo — não como um fardo inevitável, mas como algo… excitante.

    — Mais mortes… o ciclo nunca acaba… — murmurou Hugo, sua voz carregada de um cansaço quase existencial. Seus dedos tamborilaram na mesa, hesitantes, antes que ele soltasse uma risada curta, sem humor. — Enfim, não há outra forma…

    E não precisou dizer mais nada. Não dava para ir contra aquele que o mantivera no topo. Era gratidão — cega, talvez, mas ainda assim, gratidão.

    Ficou novamente silêncio por instantes até Matteo, audacioso, se inclinar para frente, os olhos estreitados em desafio.

    — E como pretende travar essa guerra? — A voz dele martelou a ideia imposta. — Vai declará-la abertamente? E então… boom. Massacres? Ou prefere se esconder na sombra, recorrendo à covardia de um golpe?

    Seiji arqueou uma sobrancelha e riu — uma risada baixa, pura ironia, prolongada por segundos a mais do que o necessário.

    — Covarde? — Repetiu, saboreando a palavra como um vinho raro. — Acho que prefiro a covardia. Menos mortos. E o povo? Não está com o imperador.

    A indiferença na resposta fez o líder opositor hesitar, sem saber se aquilo era cálculo ou apenas desprezo absoluto pelo conceito de honra.

    Os demais trocaram olhares. A tensão no salão ficou mais sufocante do que já estava, densa como a névoa antes de uma tempestade. Mas Seiji? Estava perfeitamente à vontade, exatamente onde queria — no olho do furacão que ele mesmo invocava.

    — E estariam do nosso lado…? Pois pouco do “povo” que ainda resta… — Mahmoud retomou a conversa, era seu ceticismo e medo. — Nobres? Esquece. Um discurso tão radical e revolucionário só os faria odiar ainda mais. Já os medíocres? Arriscariam perder o pouco que têm? Jamais. Apenas os miseráveis poderiam se unir a nós… mas esses estão desaparecendo.

    — De fato… — murmurou, os olhos percorrendo cada rosto na sala. — Mas para que uma ideia seja aceita, ela precisa ser moldada… manipulada. E para isso, precisamos de um inimigo: o velho mundo. Com Kyotaka morto, ele representava o que a ordem espiritual foi… e nós seremos o que ela ainda pode se tornar. O império também. Renovação… é como um jogo político.

    Quando terminou, a sala se transformou em algo parecido com uma assembleia fervorosa. Muitos assentiam, outros se levantavam, mas o trio se mantinha firme na oposição.

    — Você quer transformar Kyotaka em um demônio? Profanar o legado dele?! — explodiu, transbordando indignação. — E depois? Vai assumir que os Iluminados estavam certos?!

    O amigo ao seu lado tentou segurá-lo.

    — Calma…

    — Calma o caralho, Rimuru! Ele quer apagar tudo! A nossa luta, a luta do velhote… — Mas o que mais doeu não foi a resposta de Seiji que veio; foi perceber a traição estampada nos rostos de alguns que antes admirava. — Javier? Hugo?

    Javier respirou fundo antes de responder.

    — Desculpe… mas precisamos ser melhores, mesmo que seja da pior forma. O mundo não precisa de velhos heróis, mas de novos.

    Seu colega de hierarquia assentiu, e Hugo, sem dizer nada, apenas concordou com um aceno discreto.

    Matteo, no entanto, permaneceu firme ao lado do rapaz.

    — Já tolerei demais essa visão fatalista. Não vou mais seguir esse caminho.

    Ele e os outros dois encaram-o com desaprovação. Assim como fizeram com o líder.

    — Então é isso? Deserção? — A pergunta de velho veio sem raiva, apenas constatação. — É um direito de vocês!

    O tom surpreendeu a todos. Mesmo em meio à sua crueldade, havia honra.

    Falsa… mas havia.

    — Só não interfiram nos meus planos. Estamos entendidos?

    — Vai se foder! — esbravejou o garoto, sendo segurado antes que avançasse.

    — Calma… — murmurou novamente Shirasaki, como se já soubesse o desfecho inevitável.

    A partir dali, o caos desceu a ladeira sem freios. Mas nada… nada se comparou ao evento genocida que veio depois. Esse, sim, assombraria até os mais fortes.

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