Índice de Capítulo

    E como tudo foi?

    Um dia antes.

    Assim que os pombos trouxeram notícias de seu informante fantasma.

    No calabouço do palácio, Seiji estava diante de oito exorcistas, dos quais dois seriam futuramente enviados. Ele os havia convocado para uma reunião estratégica.

    — Miyazaki não vem? — perguntou a um dos jovens, um rapaz de pele parda e cabelos cacheados, tão claros que seu castanho quase parecia loiro. Ele era um dos poucos que suportava seu filho e, na maioria das vezes, o acompanhava.

    — Não, senhor… Ele me pediu para contar quando tudo terminasse… O importante…

    Aquilo arrancou mais um suspiro de decepção, mas ele já estava acostumado — seu filho lhe dava mais dor de cabeça do que alegrias. A verdade era que, entre os dois irmãos, ele era inegavelmente o escolhido, o menos pior.

    — Certo…

    Olhou ao redor. Seus rostos estavam iluminados pelas tochas penduradas na parede, já que não havia mais usinas de energia em funcionamento. Estavam em um salão amplo, com sofás confortáveis e, pelas garrafas de vinho nas prateleiras, parecia servir como uma espécie de sala de degustação.

    Um espaço que pertencera ao imperador anterior ao agora deposto de seu trono, onde realizava suas orgias e festas hedonistas.

    — Bem, para começar, gostaria que mantivessem em sigilo tudo o que direi a seguir…

    Todos ficaram apreensivos no momento em que ele falou, mas sabia que acabariam ignorando essa ordem. Afinal, eram oito de seus alunos e nem todos eram fiéis a ele. Embora, para ser justo, Gabriel e Romero também fossem seus alunos — e justamente os que mais o odiavam.

    — Quero eliminar a corja que se ergue como meus opositores! — declarou com fervor. — Dizem que são a resistência, mas resistência contra o quê? Contra um mundo livre do mal? A favor dos imperadores que só pensam em ouro?

    Sua mão bateu firme contra o peito, reforçando sua convicção.

    Alguns estavam de acordo. Afinal, se matavam por algo, que fosse por um ideal… ou talvez fossem apenas seus cães fiéis, lobotomizados.

    — Mas, senhor… — resmungou uma garota de cabelos pintados de azul e olhos escuros. — E as leis da ordem? Vamos ignorá-las? Um desertor não é um inimigo… e se uma resistência, não apelar para uma força maior, ainda é…

    — Acha que vou esperar que ataquem primeiro? — Seu olhar era como o de uma águia, velha e calejada pelas experiências da vida. — E, além disso, do que adianta todo esse esforço e matança, se no final nada mudar? Eles estão presos ao passado, minha querida. E nós não podemos deixar isso continuar!

    — Mas… matar? — esbravejou um jovem regniano. Seu cabelo era branco como seus olhos. — Nossos… irmãos?

    — Mas todos nós somos irmãos… Não sejamos hipócritas. Matamos homens hoje, não cachorros… e continuamos matando. Assim como foi feito com os Iluminados. Ou eles não foram mortos? — O questionamento pairou sobre todos, pesando como uma lâmina prestes a cair.

    Ele então continuou:

    — Pois bem, quem concorda ficará e será chamado de Cavaleiro Negro.Não é o melhor dos títulos, mas esta será uma era sombria… como tantas outras que já tivemos. E vocês terão de eliminar os rebeldes. Se saírem agora, estarão se tornando desertores!

    Ele esperou após dizer isso. E nenhum deles saiu.

    Covardia? Talvez. Loucura? Talvez.

    — Ótimo… — Ele começou a caminhar entre eles, pousando a mão sobre os ombros. — Por favor, não pensem nisso como algo nobre. É um fardo… mas vale a pena.

    Com essas palavras, encerrou. Ou talvez apenas prorrogasse o inevitável. Dividiu-os em quatro grupos, os que seriam enviados para Nova Tóquio.

    Eles sabiam que não tinham chance contra três Celestes.

    Por isso, sua estratégia foi baseada no reconhecimento… e na covardia. Dois contra um — o método mais eficaz para anular uma vantagem de força.

    Quer dizer, na maioria dos casos. Era nisso que apostavam…

    As coisas iriam ferver. Mas o caos não se limitava a um só lugar…

    Alguém já avançava pelas terras geladas.

    Fazia menos três graus naquele dia — o mais quente em mais de novecentos ciclos. Um tempo em que o mundo era mais bárbaro… e menos “fácil” de sobreviver.

    E das águas profundas, Arthur emergiu, encharcado, alcançando o litoral de seu país natal.

    Seus punhos estavam firmes. Agora, ele não era mais uma esponja que absorvia a dor. Era aquele que a devolveria.

    Tão decadente é o herói que finalmente enxerga o mundo como ele é…

    Novamente aqui. Reichsburg.

    Diante de seus olhos, viaturas da polícia se aproximavam. Helicópteros cortavam o céu. Ele era um invasor.

    Era lei. Aijianos, exorcistas… Agora, eram considerados terroristas se cruzassem a divisa marítima.

    Boas ou más intenções, pouco importava. Eles não aceitariam uma única laranja podre em seu mundo “perfeito”.

    Pena que…

    Olhou para os céus, encarando-os com frieza. Não viera para visitar ou admirar os belos pontos turísticos.

    Só serviria para reviver meus traumas…

    Enquanto pensava, a imagem da dama de cabelos vermelhos se cravou em sua mente, como uma droga. Sua dopamina para fazer mal ao mundo.

    Estava prestes a ser dilacerado por uma metralhadora ponto 50… Mas sua velocidade era insuperável. Com um vendaval conjurado num piscar de olhos, fez o helicóptero ser arremessado pelo ar.

    Em segundos, desarmou todos os policiais.

    Foi sutil. Vil. O mundo parecia desacelerar, como se estivesse em câmera lenta.

    Um rastro de fogo se estendeu da areia até a grande via praiana. Vinte e sete oficiais assistiam, impotentes, enquanto suas balas caíam aos pés e suas armas eram lançadas à areia.

    — Foi mal, mas não tenho tempo! — bradou, olhando para o horizonte.

    Seguiria adiante. Mesmo que, no fundo, estivesse retrocedendo…

    Mas espera… essa avalanche de sentimentos… por quê?

    Por que ele era assim?

    Como um herói podia carregar um sentimento tão retorcido? Era tão profundo que nem o amor conseguiu curá-lo — apenas o escondeu sob o tapete…

    E agora? Estava a tirar…

    Quando atravessou metade da cidade e chegou à adega da família, viu a pessoa que mais odiava. Mais do que o próprio demônio que matou sua amada.

    — Pai…

    A palavra fez Morgan Lewys paralisar. Ele viu, mais uma vez, o garoto que assassinara.

    — Gr… Arthur?

    Estava atrás do balcão. Ainda gerente, caixa e dono. Um pão-duro miserável.

    — O que está fazendo aqui? Já não disse que não te quero mais nesse lugar?! — Falou grosso, mas sua voz falhou ao vê-lo dar um, dois, três passos — e já estar em cima dele.

    — Por quê? Minha mãe… eu…?

    Foi a única coisa que conseguiu dizer. Mas seus olhos… eram os de um assassino.

    A cada contribuição de R$10,00, você desbloqueia um capítulo extra!

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 0% (0 votos)

    Nota