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    Tudo tinha um propósito.

    Cada ato, cada ser, movido por um desejo incontrolável ou uma missão.

    Alguns eram consumidos por sua própria ambição — um demônio delirante que se via como superior aos outros, ávido pela destruição para dar lugar a um novo começo; ou um velho senil, que buscava incessantemente um domínio absoluto, acreditando que tal controle lhe traria uma paz que só existia em sua mente desgastada.

    Mas o que acontecia com aqueles que não tinham propósito? Aqueles que vagavam sem um rumo, sem um objetivo claro? Esses eram as vítimas de sua própria loucura, e essa mesma loucura os guiava, cegos em sua errância.

    Eles eram dominados por um vazio que os tornava facilmente manipuláveis, e suas ações se tornavam cada vez mais caóticas e destrutivas, refletindo a desordem interna que carregavam.

    E ali, em meio ao caos que surgia do genocídio, estava Masaru. De todos os seres caóticos, ele era, ironicamente, o maior.

    Um espectro implacável, cortando o ar como se o próprio vento fosse seu aliado, flutuando em um movimento que desafiava a gravidade e a razão.

    Ele estava atormentando um grupo de demônios, aqueles que haviam se originado da destruição. Essa era sua nova sina: ser a punição para aqueles que não sabiam mais qual era seu propósito.

    Sem humanos ali, mas nas terras de Aija, haviam mais demônios que humanos. Seu sonho, havia se realizado.

    — Seu desgraçado! — urrava uma criatura feminina, cujos seios, denunciavam seu sexo, mas suas características físicas eram distorcidas e quase alienígenas. Era uma vespa demoníaca, com asas de membrana fina e uma fúria irradiando de seus olhos, como os de uma mosca.

    E voava em direção a ele, sua ira inflamando seu corpo.

    — Vai pagar por ter atrapalhado minha janta! — vociferou, seus olhos brilhando com o desejo de vingança.

    Mas, em sua fúria, cometeu o erro fatal de subestimar seu oponente… ou talvez apenas tenha tido o azar de enfrentar o imparável.

    Avançou em alta velocidade, mas, de repente, seus sentidos turvaram-se. Para um ser capaz de enxergar além das montanhas por quilômetros, aquilo era impossível. No entanto, simplesmente desapareceu diante de seus olhos, sumindo à frente de uma cachoeira de águas escuras e sujas.

    Desfez-se como névoa. Com tanta facilidade…

    A criatura parou, confusa, seus olhos frenéticos vasculhando o vazio à sua frente.

    Não havia cheiro. Não havia nada.

    — Sumiu? — sem saber que a resposta já estava bem diante de si.

    — Sumi?

    Masaru estava bem atrás dela, uma sombra fugaz. Quando se virou tentou atacá-lo com um braço imbuído de lâminas cortantes, mas já não estava mais lá. Havia desaparecido de novo, como se tivesse se dissolvido na própria essência da existência.

    — Vou te matar, seu filho da puta!

    Aquilo lhe irritava…

    — Me explica como? Se… não consegue nem resistir a um peteleco… — sorriu, o brilho de um predador satisfeito nos olhos.

    Brincalhão, um vulto apareceu atrás dela.

    — Patético…

    Com um movimento rápido, deu um leve peteleco nas costas da entidade, imbuído de energia espiritual pura. A reação foi imediata: sua essência demoníaca se dissolveu no mesmo instante, erradicada pelo poder concentrado que exalava de seu ser. Em um segundo, não era mais do que uma memória esvaecida.

    E ele observou o horizonte, seus olhos como feridas abertas, absorvendo a vastidão do mundo despedaçado à sua frente. As montanhas do litoral e a colônia de Bhavadesh pareciam uma pintura distorcida, um quadro grotesco de desolação e desespero.

    O rastro da destruição, cicatriz que cortava mais de 18 mil quilômetros de terra, era a extensão de seu ego desmedido. Ele estava em paz com a devastação, como se o caos fosse sua única verdade.

    — Esse é o mundo perfeito… só… preciso de alguém para dividir isso comigo!

    Seus dedos arranhando o solo, a terra carbonizada sob sua pele como se desejasse fundir-se com aquilo. Sua voz soava distante, imersiva, como se ele falasse de algo inatingível, uma visão que transcende a própria destruição. Mas não havia tristeza em seu tom, apenas uma estranha satisfação.

    Daniel surgiu então, sua figura cortando o vazio que os cercava, como uma sombra que surgia do nada. Ele caminhava com aquela insolente despreocupação, uma mistura de desinteresse e curiosidade, como se a realidade ao seu redor fosse meramente uma tela em branco para sua diversão.

    — Fala de um inimigo à altura? — Embora suave, carregava uma ironia, como se cada palavra fosse uma provocação direta ao vazio de seu parceiro. E parou ao lado dele, como se fosse o último vestígio de humanidade em um cenário desolado. — Do que mais será? — olhou em volta, observando a carnificina com um sorriso que não escondia a excitação, mas também o cansaço.

    Parecia estar tão imerso em sangue quanto Masaru, seus próprios limites diluídos em uma busca incessante por prazer e caos.

    E ele sem desviar os olhos da devastação, deixou escapar um suspiro profundo, um som quase melancólico em meio ao silêncio absoluto.

    — Exatamente, me sinto vazio sem algo para me desafiar… — Inclinou a cabeça, como se estivesse sondando a própria essência do mundo em busca de algo mais. — Há alguém assim ou um dia haverá?

    A voz cortou o silêncio de maneira quase cínica, mas carregada de uma sabedoria amarga.

    — Não tá se achando invencível, é? — Ele se deixou cair no chão ao lado do seu parceiro. — Estamos há um dia lutando sem parar com demônios… não vai me dizer que não te cansou? Não sentiu a adrenalina de quase morrer ou ceder?

    — Não…

    Um arrepio percorreu seu corpo. Como!? Havia coisas impossíveis, mas ele estava além dessas coisas impossíveis.

    E sorriu, mas não com prazer. Havia uma compreensão em seus olhos, algo que se aproximava de uma reflexão cruel sobre as limitações humanas e a natureza dos próprios desejos.

    — Uff… e por que acha que não terá rivais? — Olhou para o céu, como se as estrelas fossem meros pontos de uma eternidade esquecida, se é que realmente existiam além daquelas nuvens. — Ninguém é invencível…

    E o denegrido sorriu de volta, mas não era um sorriso qualquer. Era a expressão de alguém que havia tocado o abismo e retornado, algo além da arrogância.

    — Eu sou! — Sua voz não estava repleta de risos ou escárnio. Não havia humor ali, apenas uma confiança inabalável, uma convicção tão profunda que parecia desconsiderar a própria existência de limites. — Não me sinto cansado, não. Faz tempo que não sei o que é fadiga… faz dias que não durmo, nem bebo água… sinto que, mesmo se me jogasse no vazio, sabe, no nada… eu iria flutuar… como um fragmento intocado de Elum… é… poético, quase…

    Isso fez balançar a cabeça, uma sombra de divertimento passando por seu rosto, mas logo se dissipando em um suspiro.

    Entendê-lo o deixava… nos limites. Logo ele, um dos mais insanos seres vivos.

    — E bem, dramático… — Como quem observava alguém perdido em sua própria grandiosidade. — Não consigo dizer nada sobre isso, não é como eu quisesse que você perdesse, mas não deveria pensar…

    — E deveria pensar como?

    O mais forte levantou uma sobrancelha, sua postura ereta, como se desafiasse-o a revelar mais, a desmascarar sua própria crença de invencibilidade.

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