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    Diante do desafio, ele não hesitou. Com um único movimento, retirou das costas sua imensa foice, que reluzia sob a luz opaca como uma extensão sombria de seu corpo. As lâminas, adornadas por runas ancestrais, pareciam talhadas em mármore vivo — respirando uma energia antiga e pesada.

    — Uma arma espiritual? — indagou, entre a surpresa e o desconforto.

    E suspirou com pesar, quase como se aquele instante marcasse um limite que não queria cruzar. Não desejava lutar contra um mero pedaço de metal energizado… só queria ver o que sua natureza poderia revelar.

    — Ehr… é… se quer me ver lutar com minha técnica inata… eu preciso dela!

    Num instante, girou a foice com maestria. Sua aura explodiu ao redor como uma tempestade represada, enfim libertada. O ar tremulou. O chão gemeu sob seus pés. Ao empunhar a arma, ativou seu fluxo — um pacto invisível que expandia suas técnicas inatas, liberando sua verdadeira essência. Mas, como todo pacto, havia um preço… um preço ainda desconhecido.

    Interessante…

    Pensou, com um sorriso enviesado, ao sentir o ar pesar com o despertar do poder.

    Então, o céu rasgou.

    Milhares de peixes brotaram do nada, como se os oceanos tivessem sido despejados sobre o campo de batalha — sardinhas, tilápias, enguias e criaturas grotescas, jamais vistas por olhos humanos. Era sua técnica inata expansiva: a Conjuração Marítima. Com um grito mudo, avançou, girando sua arma — tão afiada que cortava até as rajadas de vento — e começou a fatiar os peixes no ar, transformando-os em projéteis de sangue, escamas e vísceras.

    Chuva. Mas não de água.

    Sangue e tripas caíram sobre Elizabeth como a maldição de deuses antigos.

    — Que diabos é isso?! — gritou, tentando se esquivar, mas seu corpo vacilou. Sua mente estava embotada, pesada, como se algo a envenenasse. Um entorpecimento sutil. O feitiço de ativação: o sangue venenoso.

    É como se minha alma estivesse sendo puxada…

    Tentou recuar, mas não foi o bastante. Sentiu a pele ser cortada por dezenas de pequenas lâminas orgânicas — espinhos e escamas.

    Arfou. O cheiro de sal e sangue a envolvia por completo.

    E ele… notou.

    — Então, dá certo? — murmurou, extasiado, ao ver o efeito da própria técnica superar até mesmo seus ataques de luz.

    Mas ela não cairia tão fácil.

    Na verdade, nenhum dos dois cogitou isso…

    — Minha vez!

    Ela ergueu os braços e invocou a maior tempestade que já criara em todos os ciclos de sua vida. Nuvens negras se formaram num piscar de olhos, o céu trovejou com fúria, e relâmpagos rasgaram o mundo.

    Não era uma simples transmutação, tampouco uma mera transformação. Não era apenas uma mudança de estado — ela impunha sua vontade sobre o clima, moldando-o com a mais pura e perfeita manifestação de afinidade elemental.

    Usava todos os elementos… para dar origem a um furacão devastador.

    Prova de que estava mais se divertindo do que levando aquilo a sério.

    Ele mal teve tempo de saltar para trás.

    Mas tentou.

    E dos céus, sua técnica começou a vomitar monstros marinhos.Tubarões, baleias, lulas, peixes abissais. A cada segundo, mais e mais criaturas caíam como uma torrente viva.

    — Lá vem… — murmurou, cravando os pés no chão.

    Contou três passos. Então girou sua foice em um arco perfeito, cortando o ar e conjurando um ciclone de lâminas em direção à tempestade.

    O choque foi apoteótico.

    As criaturas foram dilaceradas novamente, em uma dança de destruição absoluta.

    Ventos colidiram com sangue. Escamas afiadas se misturaram com relâmpagos. O campo de batalha se tornou o cenário de um apocalipse arrancado diretamente das páginas de um livro de Lovecraft.

    Ele precisou resistir.

    Mas ela?

    Ela enfrentou de peito aberto.

    E, em meio ao caos, emergiu.

    Coberta de cortes. O sangue escorria pelo queixo. Mas firme. Os olhos ardiam em fúria e êxtase. Sua aura em chamas vibrava como um tambor de guerra.

    — E não é que isso está ficando interessante? — sussurrou, com um sorriso torto, quase insano.

    E foi aí que ele sentiu.

    Medo.

    Um rugido primal ecoou dentro de seu peito. Seu instinto gritava: ela queria lutar de verdade agora. Ela estava viva. E faminta por mais.

    — Que merda em que me meti… — rangeu os dentes, apertando-a com mais força.

    Uma chuva se formou logo após.

    Ventos gélidos bateram contra seus corpos.

    E, de repente, a celeste rasgou os limites que os cercavam. Ele se jogou para o lado e tentou acertá-la com a lâmina — mas sua mão quebrou ao colidir com o contra-ataque do punho dela.

    Perdeu um dedo no processo, mas socou a foice com força suficiente para fazê-la balançar no cabo, quase escapando das mãos dela.

    — Cacete… — gemeu, engolindo a dor.

    A demônio à sua frente avançou, desferindo vários golpes. Dessa vez, ela não dependia da Técnica Inata… ou talvez… não deixasse isso transparecer.

    Eram diretos, sem intenção de errar…

    Ele tentou resistir. Tomou os golpes, cuspiu sangue e falhou ao tentar conjurar suas bestas, que caíam à sua volta, sem conexão, sem combos, morrendo ali mesmo pela falta de água.

    — Você não queria lutar com Inata? — provocou, com um sorriso torto, sentindo cada membro tremer.

    — E o que acha que estou fazendo…?

    Ele arfava, mal conseguindo manter a arma em pé.

    E a maldita sorriu antes que ele percebesse.

    Espera… eu defendi a maioria… mas por que sinto que nada aconteceu com minha foice?

    Ele olhou para a arma. Apenas alguns riscos do soco… Mas era seu corpo que estava quase desabando. Os danos estavam nele, não na lâmina.

    — Haha! Acerto garantido! — disse, como se fosse óbvio. — Mesmo que eu acerte um objeto… posso transferir os danos para o meu verdadeiro alvo. Esse é meu feitiço de expansão.

    Elizabeth inclinou o rosto, olhos brilhando.

    — Hehe… você ainda está dentro da minha área, lembra?

    Era assustador… o modo como ela levava tudo aquilo na brincadeira.

    Ele a havia ferido, sim — mas parecia não importar. Já ela… o havia machucado tanto que ele simplesmente não resistiu.

    Se ajoelhou.

    De dor. De exaustão.

    O sangue manchava o chão ao seu redor.A respiração vinha entrecortada, o corpo tremia.

    Estava vivo por pouco.

    Porque era resistente. Só por isso.

    Qualquer outro teria morrido naquela “singela” troca de golpes.

    — Eu… desisto — murmurou, um gosto amargo entre os lábios rachados.

    — O quê? — a Celeste parou, perplexa.

    — Eu… d-desisto! — repetiu, mais alto, a voz falhando.

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